Morre John Hume, um dos idealizadores do acordo de paz na Irlanda do Norte e prêmio Nobel em 1998

 
O político norte-irlandês John Hume, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1998 por seu papel no processo que encerrou o conflito em sua terra natal, morreu nesta segunda-feira (3) aos 83 anos, anunciou sua família. A causa da morte não foi divulgada.

Fundador e ex-líder do católico Partido Social Democrata Trabalhista (SDLP), Hume foi um dos arquitetos do processo de paz na Irlanda do Norte. Ao lado de David Trimble, então líder do sindicalista Partido Unionista do Ulster (UUP), ele ajudou a idealizar o Acordo de Belfast, também conhecido por Acordo da Sexta-feira Santa, assinado em abril de 1998.

“Estamos profundamente tristes em anunciar que John faleceu pacificamente nas primeiras horas da manhã após uma curta doença”, disse a família em comunicado. “John foi um marido, pai, avô, bisavô e irmão. Ele era muito amado e sua perda será profundamente sentida por toda a família.”

Hume sofria de demência e estava há alguns anos numa casa de repouso em Londonderry, no noroeste da Irlanda do Norte.

O ex-líder do SDLP ajudou a pôr fim a três décadas de conflitos sangrentos na Irlanda do Norte entre a comunidade nacionalista católica, que almejava que o país se una à Irlanda, e sindicalistas protestantes, que queriam que o país permanecesse parte do Reino Unido. Por essa contribuição, ele e Trimble receberam o Nobel da Paz em 1998.

Hume nasceu em Londonderry, em 18 de janeiro de 1937, no auge da Grande Depressão. Ele ingressou no movimento dos direitos civis da Irlanda do Norte na década de 1968.

Hume via o nacionalismo como uma força em declínio e lutou contra a discriminação presente em diversas áreas sociais. Ele buscou a ideia de estender o autogoverno à Irlanda do Norte, com o poder dividido entre os grupos que o formaram.

 
Em 1970, Hume ajudou a fundar o SDPL, que unia suas inclinações social-democratas com o desejo da minoria católica de reunir a ilha. Em 1979, Hume foi eleito para os parlamentos Europeu e Britânico, além de ter se tornado líder do SDLP, cargo que ocupou até 2001, quando se retirou da política alegando problemas de saúde.

“A Irlanda não é um sonho romântico, não é uma bandeira. São 4,5 milhões de pessoas divididas em duas tradições poderosas”, disse Hume. “A solução não será encontrada com base na vitória de nenhum dos dois, mas com base no acordo e na parceria entre ambos. A verdadeira divisão da Irlanda não é uma linha traçada no mapa, mas nas mentes e nos corações de seu povo.”

Enquanto Hume e Trimble creditavam o povo da Irlanda do Norte e da República da Irlanda, foi a diplomacia de Hume que deu impulso ao processo de paz. Hume conquistou um avanço no cenário político de Belfast em 1993 ao cortejar Gerry Admas, então chefe do Sinn Fein, a ala política do Exército Republicano Irlandês, na esperança de assegurar um cessar-fogo do IRA.

Hume idealizou uma ampla agenda para os debates, argumentando que estes deveriam ser conduzidos por uma cooperação estreita entre os governos do Reino Unido e da Irlanda. O processo foi supervisionado por atores neutros, como o mediador americano George Mitchell, e as decisões foram ratificadas por referendos públicos em ambas as partes da ilha irlandesa.

Na época em que os vencedores do Prêmio Nobel da Paz de 1998 foram anunciados, Mitchell afirmou que “sem John Hume não teria havido um processo de paz, e sem David Trimble não haveria um acordo de paz”.

O primeiro-ministro da Irlanda, Micheál Martin, afirmou que é “impossível expressar adequadamente a escala e o significado da vida de John Hume”. “Ele foi uma das figuras da vida pública irlandesa do século passado”, escreveu no Twitter. “Sua visão e tenacidade salvaram este país.”

O SDLP, partido fundado por Hume, disse em comunicado: “Todos vivemos na Irlanda que ele idealizou – em paz e livres para decidir nosso próprio destino”. (Com agências internacionais)

 

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