Debandada na Economia é colheita de espinhos das rosas que Bolsonaro e Guedes prometeram plantar

 
Nem tudo o que é prometido durante uma campanha eleitoral transforma-se em realidade. Na verdade, pouco do que se promete alcança o campo da realização. Assim funciona a política brasileira, que há décadas vive em um cenário de “faz de conta”.

Quando o UCHO.INFO afirmou, em diversas ocasiões, que o ministro da Economia, Paulo Guedes, é um teórico conhecido travestido de falastrão, não se trata de crítica infundada, mas com base em informações de bastidores e na constatação dos fatos. As declarações de Guedes, desde sua chegada à Esplanada dos Ministérios, apontam na direção de alguém que se recusa a descer do pedestal.

Por ser uma pessoa “letrada” – ele faz questão de se mostrar como um “Chicago boy” – Guedes deveria ter percebido que a incompetência e o radicalismo ideológico do presidente Jair Bolsonaro representariam em algum momento um empecilho ao liberalismo econômico que defende. Além disso, a tragédia social que embala o País impede que suas teorias econômicas sejam levadas adiante, sem ao menos se preocupar com a carestia enfrentada pelo cidadão.

Entre o discurso fácil e a realização, Paulo Guedes há muito deixa a desejar. E esse cenário de conjecturas emolduradas pelo radicalismo direitista tem obrigado muitos dos integrantes da equipe econômica a deixarem seus postos. Na verdade, como afirmou o UCHO.INFO anteriormente, somente alguém desavisado é capaz de integrar um governo pífio, revanchista e que flerta com obscurantismo.

Na noite de terça-feira (11), Guedes afirmou que auxiliares palacianos estão a aconselhar Bolsonaro a “furar” o teto de gastos. O ministro não citou nomes, mas disse que essas pessoas estão levando o presidente a uma “zona sombria” que pode culminar com um processo de impeachment.

“Os conselheiros do presidente que estão aconselhando a pular a cerca e furar teto vão levar o presidente para uma zona sombria, uma zona de impeachment, de irresponsabilidade fiscal. O presidente sabe disso, o presidente tem nos apoiado”, declarou Paulo Guedes.

Não se pode negar a necessidade e a importância de manter o equilíbrio fiscal, mas no rastro da pandemia do novo coronavírus é importante repensar o modelo econômico para, de alguma maneira, tirar o País do atoleiro. Não se trata de defender a gastança pura e simples, mas de identificar os setores que exigirão maior investimento para que a economia volte a rodar em velocidade minimamente aceitável.

Além disso, não se pode acreditar que a economia de uma nação será pujante apenas à sombra de uma carga tributária criminosa e aviltante, quando dois terços da população recebem mensalmente menos de dois salários mínimos. Com a maioria da população vivendo nas grandes cidades brasileiras, esse rendimento (menos de R$ 2 mil mensais) exige um malabarismo contínuo por parte do cidadão, que tem consumido cada vez menos. E quando o faz muitas vezes é por meio de endividamento.

Nas últimas semanas, a imprensa brasileira vem relatando que há uma pressão crescente por parte de algumas alas desenvolvimentistas para flexibilizar o teto de gastos, aprovado no governo Michel Temer em 2016.

Essas alas defendem mais investimentos públicos e programas, entre eles o Renda Brasil, uma versão repaginada do Bolsa Família. No momento, com a vigência do estado de calamidade em todo o País, o governo está desobrigado de cumprir o teto de gastos.

 
Paulo Guedes tem protagonizado conflitos com o titular do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, que defende mais gastos públicos. A questão que alimenta essa beligerância é o projeto de reeleição de Jair Bolsonaro, que, é bom destacar, já está em campanha, mesmo faltando pouco mais de dois anos para a corrida presidencial.

As declarações de Guedes foram dadas após o anúncio da saída de dois destacados secretários do Ministério da Economia: Salim Mattar (Desestatização e Privatização) e Paulo Uebel (Desburocratização, Gestão e Governo Digital).

O ministro admitiu que a pasta sofreu uma “debandada”. Nos bastidores, Mattar e Uebel demonstravam insatisfação com o ritmo das privatizações e das reformas, sendo que a mais importante delas é a administrativa, mas que o governo mantém engavetada por medo de uma reação dos servidores públicos.

Bolsonaro foi eleito a reboque de um discurso liberal e privatista, mas este portal sempre alertou para o fato de que representava uma enorme irresponsabilidade acreditar nas promessas de um candidato radical, totalitarista e movido pelo revanchismo ideológico. Além disso, destacamos ao longo dos últimos dezoito meses que muitas das propostas apresentadas por Guedes eram irreais e não se encaixavam no cenário político nacional.

“Hoje houve uma debandada”, afirmou o ministro da Economia. “O que ele [Mattar] me disse é que é muito difícil privatizar, que o establishment não deixa haver a privatização, que é muito difícil, muito emperrado, que tem que ter apoio mais definido, mas decisivo. O secretário Uebel, a mesma coisa. A reforma administrativa está parada, então ele reclama também que a reforma administrativa parou”, afirmou Guedes.

O ministro também sugeriu que as reformas e as privatizações têm caminhado em ritmo lento por causa da ação do próprio presidente. “Um tá reclamando, dizendo que tá indo devagar. Outro tá dizendo ‘vai no ritmo que eu quiser, eu que sou o presidente da República, eu que tive o voto, se você quiser, você sai’”, ressaltou.

“Se o presidente quiser ser reeleito, nós temos que nos comportar dentro dos orçamentos, fazendo a coisa certa e enfrentando os desafios de reformas”, completou Guedes. No campo da teoria o ministro está correto, mas o ritmo da política é diferente dos conceitos acadêmicos e práticos da economia.

Quando Bolsonaro passou a demonizar a política e ameaçar de forma corriqueira a democracia, o UCHO.INFO afirmou, sem medo de errar, que o governo caminhava na direção da inviabilidade. Para evitar uma tragédia em termos de governança, o presidente da República, em nome de sua permanência no poder, foi obrigado a se aliar ao que há de pior na política brasileira: o Centrão. E faz-se necessário lembrar que o Centrão só existe no campo do fisiologismo, ou seja, na base do escambo espúrio, o que exige gastança do dinheiro público.

Já deixaram a equipe econômica do atual governo: Marcos Cintra (Receita Federal), Joaquim Levy (BNDES), Marcos Troyjo (Secretaria Especial de Comércio Exterior), Mansueto Almeida (Tesouro Nacional) – até então o único nome respeitável do governo, Caio Megale (Secretaria de Desenvolvimento da Indústria, Comércio, Serviços e Inovação), Rubens Novaes (Banco do Brasil), Salim Mattar (Secretaria de Desestatização e Privatização) e Paulo Uebel (Secretaria de Desburocratização, Gestão e Governo Digital).

Como disse o saudoso e genial Millôr Fernandes, “cada ideologia tem a inquisição que merece”. E Bolsonaro e Paulo Guedes estão a colher os espinhos das rosas que prometeram plantar, mas não o fizeram. Preparem-se, brasileiros, pois é o começo do velho “mais do mesmo”.

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