Presidente da República, Jair Bolsonaro está decidido a “comprar” a reeleição a qualquer preço, usando para tal o suado dinheiro do contribuinte brasileiro. Apesar de ter afirmado que não concorreria a novo mandato, Bolsonaro tomou gosto pelo poder e, mesmo nada tendo feito em prol dos cidadãos, tentará estender seu período de permanência no Palácio do Planalto.
O plano de reeleição ganhou contornos mais nítidos com o auxílio emergencial em razão da pandemia – absolutamente necessário, mas que funcionou para incrementar a aprovação do presidente –, mas que consegue novo impulso com o programa “Casa Verde e Amarela”, que substitui o “Minha Casa, Minha Vida” e terá como alvo prioritário as regiões Norte e Nordeste, reduto político-eleitoral dos partidos de esquerda.
Enquanto o governo Bolsonaro investe pesado no populismo barato, sem dar ao brasileiro uma porta de saída em meio a avalanche da crise, a equipe econômica reduziu em R$ 12 a proposta para o novo salário mínimo – de R$ 1.079 para R$ 1.062 – que, se aprovado pelo Congresso Nacional no bojo do Orçamento da União, entrará em vigência em 1º de janeiro.
A decisão da equipe comandada pelo ministro Paulo Guedes (Economia) acontece no momento em que o governo busca brechas na lei para majorar a remuneração dos militares, além de analisar uma forma de conceder adicional salarial aos militares que estão em atividade na área da saúde. Em outras palavras, Bolsonaro quer privilegiar os seus iguais, mas não hesita em cortar R$ 12 do possível novo salário mínimo.
Para se ter ideia do que representa esse corte na remuneração básica nacional, no início da pandemia o ministro Paulo Guedes propôs fixar o auxílio emergencial em R$ 200, ou seja, o governo entendeu que era possível o brasileiro sobreviver com menos de R$ 7 por dia. Que os palacianos não venham com o discurso que o auxílio emergencial era um complemento de renda, pois o governo sabia desde muito antes do início da crise do novo coronavírus que a situação do trabalhador já tinha ultrapassado os limiares da tragédia.
Na maior cidade brasileira, São Paulo, R$ 12 não suficientes para comprar dois pasteis (iguaria feita com farinha de trigo, um bom punhado de vento e uma pitada de recheio) na feira da esquina mais próxima, até porque o quitute custa em média R$ 7.
A justificativa do governo para reduzir o valor do salário mínimo que consta na proposta de Orçamento da União enviada ao Parlamento é que a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), encerrou o mês de julho na casa de 2,09%, contra 3,27% previstos em abril. Sendo assim, os atuais R$ 1.045 do salário mínimo serão reajustados de acordo com o que prevê a Constituição, sem qualquer ganho real. Somente um desavisado não consegue perceber que a inflação, em especial no setor de alimentos, disparou durante a pandemia, obrigando o brasileiro a mudar os hábitos alimentares.
De acordo com cálculos do governo, a cada R$ 1 a mais no valor do salário mínimo cria-se uma despesa de aproximadamente R$ 355 milhões. Com um reajuste R$ 12 menor do salário em 2021, o governo reduzirá em R$ 4,26 bilhões as despesas.
O que o governo está propondo é tirar da parcela desassistida da população menos de dois pasteis por mês ou um copo diário de leite, como se isso resolvesse a situação da economia. Não se retoma o crescimento econômico em um país onde dois terços da população recebem menos de dois salários mínimos mensais (49 milhões de brasileiros, 25% da população, recebem um salário mínimo). Não obstante, sem uma reforma tributária eficiente, que desonere os mais pobres, esse corte no salário aumentará o caos.
A redução proposta pelo governo significa tirar dos aposentados que recebem um salário mínimo a possibilidade de comprar um medicamento de uso contínuo que não está disponível no programa “Farmácia Popular”. Além disso, o projeto da equipe econômica para o salário mínimo vai na contramão da decisão oficial de distribui renda durante a pandemia do novo coronavírus.
É preciso dedicar olhar amplo e responsável para os setores mais pobres da população, pois não será à sombra de salário pífio que o País conseguirá encontrar soluções para a tragédia social que ficou evidenciada com a pandemia.
Apenas a título de comparação, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) estimou que o salário mínimo ideal em julho deste ano deveria valer R$ 4.420,11. Diante dessa estimativa, o governo de Jair Bolsonaro propõe como renda mínima 23,64% do ideal.
Mesmo assim, com o desemprego e a informalidade em marcha, alguns gênios de plantão não conseguem compreender os motivos do avanço da violência e da criminalidade. Talvez porque a ideia fixa de Bolsonaro de armar a população faça a alegria de uma minoria que não enxerga o próximo.
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