Governo promete agir para reduzir preço do arroz, mas entre o discurso e a realidade há questões econômicas

     
    Com o atual governo quase chegando à sua primeira metade, o presidente Jair Bolsonaro e o ainda ministro da Economia, Paulo Guedes, nada fizeram em prol dos trabalhadores e dos brasileiros desassistidos, ao contrário do que ambos fizeram antes de desembarcarem na Esplanada dos Ministérios, onde desde sempre estiveram escorados sobre retóricas marcadas pelo revanchismo ideológico e pela defesa de um neoliberalismo econômico que remonta à década de 50.

    Ciente de que a situação econômica é grave e sem perspectiva de melhora no curto prazo, Bolsonaro apela a discursos ufanistas e mitômanos, pois o que vem sendo prometido nas últimas semanas é uma sonora homenagem à irresponsabilidade.

    O mais novo devaneio presidencial envolve o preço do arroz, cujo pacote de cinco quilos é vendido a R$ 40 – em alguns locais a R$ 43 –, ao passo que até recentemente era comercializado a R$ 15. Há dias, durante vista oficial a cidades do vale do Ribeiro, no interior paulista, Bolsonaro disse que havia solicitado aos empresários do setor supermercadistas para reduzirem os preços dos alimentos e as respectivas margens de lucro.

    “Tenho apelado para eles (donos de supermercados), ninguém vai usar caneta Bic para tabelar nada, não existe tabelamento, mas estou pedindo a eles que o lucro desses produtos essenciais no supermercado seja próximo de zero”, disse Bolsonaro em evento realizado nesta terça-feira (8) na sede do governo e transmitido pelas redes sociais.

    Quando, no início da pandemia do novo coronavírus, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, tomou a mesma atitude, prevendo a dificuldade econômico-financeira que a população do seu país enfrentaria ao longo de meses, a exemplo do que vem acontecendo em diversas nações, a família Bolsonaro disparou uma saraivada de crítica na direção da Casa Rosada, em Buenos Aires, como se a preocupação com o cotidiano do cidadão fosse pauta esquerdista. As críticas foram motivadas por questões ideológicas, como se sabe, o que mostra o perigo que o Brasil corre ao ter seu futuro decidido por um presidente, radical, inepto e revanchista.

    Agora, com Bolsonaro apelando aos empresários do setor alimentício para que sejam reduzidos os preços dos principais itens que compõem a cesta básica, a família e os assessores palacianos tentam alçar o presidente da República ao panteão dos heróis nacionais, apenas porque isso interessa ao seu projeto de reeleição.

     
    No mesmo evento, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, garantiu que o governo faria o preço do arroz cair consideravelmente, mas não é isso que dizem produtores e economistas. Horas depois, a ministra afirmou que o governo não interferirá na questão dos preços dos alimentos, ressaltando que apenas acompanha o problema.

    Em 30 de novembro de 2019, Jair Bolsonaro, ao comentar a alta nos preços da carne, destacou que questão da “oferta e procura”. “Quero deixar bem claro que esse negócio da carne é a lei da oferta e da procura. Não posso tabelar, inventar. Isso não vai dar certo”, disse o presidente na ocasião.

    Em janeiro passado, Bolsonaro, ao ser perguntado sobre a alta da gasolina, não foi diferente e afirmou que em algum momento o preço do combustível se estabilizaria, ao mesmo tempo em que aproveitou para dar uma estocada nos antecessores.

    “Cai tudo no meu colo e parece que sou responsável por tudo. Querem que eu tabele. Não tem como tabelar. Nossa política não é essa. Políticas semelhantes no passado não deram certo. A nossa economia tá dando certo”. Declarou.

    Se a economia estivesse dando certo, ainda em janeiro, os efeitos da pandemia seriam muito menores. O presidente sabe que a política econômica do governo é um desastre completo e, sem ter como se explicar, busca em frases de efeito uma desculpa que não convence.

    O presidente da República, que pediu “patriotismo” aos empresários do setor de alimentação, deveria chamar o ministro da Economia para uma conversa em palácio e definir o que fazer para que o brasileiro consiga comprar o mínimo necessário para sua subsistência.

    O preço do arroz, por exemplo, disparou por diversas razões, entre as quais alta do dólar; redução da área de plantio, em especial no Rio Grande do Sul; elevação das exportações do produto em maio e junho; desparecimento do excedente dos maiores produtores (Índia, Tailândia e Vietnã); dificuldades para importar o produto, redução de 80% nos estoques arrozeiros no Brasil nos últimos dez anos. Situações semelhantes aconteceram impactaram os mercados de carne bovina e soja. Em outras palavras, a conversa entre os empresários do setor e o presidente no máximo será um monólogo ineficaz.

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