Covid-19: Bolsonaro é contra vacinação obrigatória, ministro da Saúde diz que vacinará “todo mundo”

 
Em matéria publicada na edição de 2 de setembro, o UCHO.INFO afirmou que o presidente Jair Bolsonaro decidiu politizar também a questão envolvendo a vacina contra a Covid-19, a exemplo do que fez com a pandemia, dando a entender que a ciência fosse movida pela hélice da ideologia.

No texto, abordamos o fato de o chefe do Executivo ter declarado a apoiadores, em 31 de agosto, que não poderia obrigar uma pessoa a tomar vacina contra o novo coronavírus, o que contraria a legislação vigente no País e até mesmo lei assinada por ele próprio, em fevereiro, que trata da vacinação compulsória em todo o País. A irresponsável fala de Bolsonaro sobre a vacina foi repercutida nas redes sociais pela Secretária Especial de Comunicação da Presidência (Secom), vinculada ao Ministério das Comunicações.

Na ocasião, salientamos que a bizarrice presidencial está no fato de que o Instituto Butantan, órgão do governo de São Paulo, tem capacidade de produção de vacinas maior que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Rio de Janeiro, ligada ao governo federal. Como o governo paulista está na reta final dos testes com a vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, a preocupação da gestão Bolsonaro é com a possibilidade de a imunização contra o novo coronavírus render dividendos políticos ao governador João Doria (PSDB), pré-candidato à Presidência da República em 2022.

Nesta terça-feira (8), o presidente voltou a falar sobre a vacinação contra a Covid-19: “Não pode injetar qualquer coisa nas pessoas e muito menos obrigar”. A fala de Bolsonaro é contraditória, pois ele defendeu o uso de hidroxicloroquina no combate ao novo coronavírus, sendo que até o momento não existe comprovação cientifica a respeito da eficácia do fármaco. O que se sabe a respeito do medicamento é no âmbito de reações adversas.

Também nesta terça-feira, o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que em janeiro o governo “vacinará todo mundo” contra a Covid-19. O ministro explicou que no começo do próximo ano o País receberá aproximadamente 100 milhões de doses de vacina contra o novo coronavírus, fruto de acordo com pesquisadores da Universidade de Oxford, o laboratório AstraZeneca e a Fiocruz.

“A gente está fazendo os contratos com quem fabrica a vacina, e a previsão é de que essa vacina chegue para nós a partir de janeiro. Em janeiro do ano que vem, a gente começa a vacinar todo mundo”, disse Pazuello, um néscio em questões sanitárias e de saúde.

 
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A vacina desenvolvida por cientistas da Universidade de Oxford está na terceira fase de testes e só será homologada após a conclusão dessa etapa. A vacinação, quando aprovada, será feita em duas doses. O Ministério da Saúde estima que a segunda dose será disponibilizada no segundo semestre de 2021.

Sempre cumprindo à risca as ordens absurdas que descem a rampa do Palácio do Planalto diariamente, Pazuello tem o direito à livre manifestação do pensamento, mas na condição de ministro de Estado não pode induzir a população a erro, em especial em assuntos relacionados à saúde dos cidadãos.

Contundo, foram necessárias poucas horas para que a declaração de Pazuello fosse alcançada por um “balde de água fria”, estragando os planos eleitoreiros do negacionista Jair Bolsonaro. O laboratório AstraZeneca informou nesta terça-feira que os testes com a vacina contra a Covid-19 foram suspensos em razão de “reação adversa grave” em um dos voluntários no Reino Unido.

“Esse é um processo de rotina que precisa acontecer conforme sejam detectados potenciais problemas em um dos braços de teste”, afirma a AstraZeneca.

O objetivo desta matéria não é colocar em xeque a suposta eficácia da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, mas, além de ressaltar a seriedade da pesquisa, mostrar a precipitação do governo Bolsonaro em relação à vacinação.

O ministro Eduardo Pazuello afirma que a partir de janeiro começará a “vacinar todo mundo”, enquanto o presidente da República defende a não obrigatoriedade da imunização.

Não obstante o atraso na finalização dos testes, por conta da decisão do laboratório AstraZeneca, colocar em marcha uma campanha de vacinação em um país com dimensões continentais, como o Brasil, exige uma operação logística complexa e demorada, que só será possível a partir da homologação do imunizante pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Antes disso, qualquer declaração é conversa fiada.

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