Pronunciamento de Bolsonaro no Dia da Independência foi um atentado contra os brasileiros de bom-senso

 
O discurso do presidente Jair Bolsonaro no Dia da Independência, 7 de setembro, foi uma ode ao deboche e reativou a onda de panelaços em muitas cidades brasileiras, que externou a insatisfação da população com um governo pífio e farsesco.

Lendo um texto preparado por sua assessoria e tentando convencer a sociedade do seu estilo “paz e amor”, adotado por conveniência e temor diante da possibilidade de um processo de impeachment avançar no Congresso Nacional, Bolsonaro adotou a estratégia bizarra de vender à opinião pública o fantasma do comunismo, algo que no planeta existe apenas na Coreia do Norte e alguns parcos redutos. A ideologização do discurso, com o pêndulo apontando na direção da extrema direita, não mais produz efeitos.

“O sangue dos brasileiros sempre foi derramado por liberdade. Vencemos ontem, estamos vencendo hoje e venceremos sempre. No momento em que celebramos essa data tão especial, reitero, como presidente da República, meu amor à Pátria e meu compromisso com a Constituição e com a preservação da soberania, democracia e liberdade, valores dos quais nosso país jamais abrirá mão”, afirmou o presidente em rede de rádio e televisão.

Se há assuntos que Bolsonaro despreza com veemência e de forma recorrente, o principal é o desrespeito à democracia e à liberdade. Basta voltar na linha do tempo e checar os atos antidemocráticos organizados por seus insanos apoiadores e endossados pelo Palácio do Planalto. Não fosse o Judiciário, mais precisamente o Supremo Tribunal Federal (STF), o País teria dado largos passos na direção do retrocesso e do obscurantismo.

Em novo trecho do discurso, Bolsonaro exaltou mais uma vez o golpe militar de 64, que impôs ao Brasil o período mais condenável de sua história, marcado pela supressão das liberdades individuais e truculência.

“Nos anos 60, quando a sombra do comunismo nos ameaçou, milhões de brasileiros, identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, foram às ruas contra um país tomado pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada”, declarou o chefe do Executivo federal.

 
As frases de Bolsonaro são antagônicas, pois quem defende a ditadura militar não pode afirmar que luta pela preservação da liberdade e da democracia. O presidente da República é um candidato a tiranete que defende o autoritarismo, algo explícito em muitas de suas intempestivas decisões, e de maneira insistente exalta a memória de ditadores e torturadores.

Além disso, Bolsonaro cometeu monumental ousadia ao criticar a “corrupção generalizada”, já que o filho Flávio e o amigo de longa data Fabrício Queiroz estão na proa do escândalo das “rachadinhas”. Sem contar os funcionários fantasmas pelos quais o clã presidencial nutre descontrolado apreço.

No tocante à soberania nacional, Bolsonaro de novo se contradisse. Em um dos poucos trechos do discurso em que mencionou a Independência, o presidente afirmou que o Brasil, em 7 de setembro de 1822, deixou evidente que jamais aceitaria a submissão.

“Posteriormente, ondas de imigrantes se sucederam, trazendo esperanças que em suas terras haviam perdido. Religiões, crenças, comportamentos e visões eram assimilados e respeitados. O Brasil desenvolveu o senso de tolerância, os diferentes tornavam-se iguais. O legado dessa mistura é um conjunto de preciosidades culturais, étnicas e religiosas, que foram integradas aos costumes nacionais e orgulhosamente assumidas como brasileiras”, declarou.

Bom seria se Bolsonaro tivesse um lampejo de lucidez e admitisse, com algumas pinceladas de humildade, a forma genuflexa como seu governo se posta diante da Casa Branca e do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, um populista incompetente que se iguala ao homólogo brasileiro e vice-versa. A sabujice que Bolsonaro dedica a Trump chega a ser nauseante.

Em nenhum momento Jair Bolsonaro fez menção ao futuro do País nem às perspectivas de eventual melhora do cenário econômico, que continua à espera dos anunciados milagres do ainda ministro Paulo Guedes (Economia), que antes do início do atual governo recebeu a alcunha de “Posto Ipiranga”, como se tivesse solução para todos os problemas.

Preocupado exclusivamente com seu plano de reeleição, Bolsonaro lidera (sic) um governo que até agra não mostrou a que veio, sem jamais ter tomado uma só decisão em favor dos trabalhadores e dos desvalidos, e tenta empurrar como pode o caos para o futuro. O discurso modulado do presidente representou um atentado aos brasileiros de bom-senso.

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