Negacionismo do governo migra da pandemia para o desmatamento e as queimadas na Amazônia

 
Longe de estar restrito às questões científicas que envolvem a pandemia do novo coronavírus, o negacionismo que embala o governo do presidente Jair Bolsonaro agora avança com maior ímpeto na seara ambiental.

Com a comunidade internacional pressionando cada vez mais o governo brasileiro em razão dos desmatamentos e das queimadas que têm consumido a Amazônia, maior floresta tropical do planeta, a saída encontrada pelos palacianos foi negar a verdade dos fatos para eventualmente minimizar os efeitos de um cenário que tende a piorar e já impacta nas relações comerciais do País.

Nesta sexta-feira (11), o vice-presidente Hamilton Mourão, que lidera o Conselho Nacional da Amazônia Legal, afirmou, ao ser questionado sobre o avanço das queimadas e do desmatamento na região, que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) está se contradizendo, como se imagens de satélites retratassem o que não existe.

De acordo com Mourão, informações do Inpe indicavam redução de 7% de queimadas no bioma, enquanto reportagem do jornal “O Globo”, também com base em dados mais recentes do instituto, indica crescimento de 6%.

“O que acontece é o seguinte: o Inpe está se contradizendo, porque os dados que me são repassados, que são os dados do Inpe… O dado que a gente tem hoje é de 1º de janeiro a 31 de agosto — dados de setembro é só no final do mês — houve uma redução de 7% das queimadas, do número de focos de calor”, afirmou o vice-presidente, acrescentando que pretende sobrevoar a região em breve.

Os dados atualizados do Inpe contradizem o conteúdo de vídeo divulgado na quarta-feira (9) pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e também por Mourão. O título do vídeo é: “A Amazônia não está queimando”.

 
Com narração em inglês, legenda em português e 1 minuto e 38 segundos de duração, o vídeo em questão foi produzido pela Associação de Criadores do Pará (AcriPará), que reúne pecuaristas do estado, e exibe imagens de um mico-leão-dourado como suposta prova de que a Amazônia não está ardendo em chamas. Contudo, quem produziu o material, que é uma farsa, não deu atenção ao fato de que o mico-leão-dourado é uma espécie encontrada apenas na Mata Atlântica, bem distante da Amazônia.

Na quinta-feira (10), perguntado sobre o polêmico e farsesco vídeo, Mourão abusou da desfaçatez ao responder “aquilo é uma integração Amazônia-Mata Atlântica”. No contraponto, o presidente da AcriPará admitiu que o uso das imagens do mico-leão-dourado foi uma “gafe’. Ou seja, faltou combinarem o discurso.

Nesta sexta-feira, ao ser questionado sobre o desmatamento em quatro terras indígenas, localizadas no Amazonas e que há uma década era mantidas intactas, mas que agora entraram na mira da devastação ambiental alimentada pelo governo, Mourão disse que se trata de um “desmatamento pequeno”, de nove hectares, e que autoridades investigarão o caso.

“É um desmatamento pequeno, nove hectares. Nós também vamos analisar isso aí para ver o que está acontecendo. Agora, eu sei que ali tem muita invasão, nós temos um caso, uma fazenda ali naquela região, Boca do Acre, Lábrea, uma fazenda que há 3 anos um pessoal invadiu, pessoal que veio lá do Acre, Rio Branco, e desmataram e queimaram uma porção de coisa”, comentou.

Os dados do desmatamento nas terras indígenas foram registrados pelo sistema SAD, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e divulgados pelo Observatório da BR-319, conjunto de organizações não-governamentais que monitora unidades de conservação e terras indígenas no entorno da rodovia que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM).

É inexplicável e inaceitável essa necessidade do atual governo em recorrer à mentira e ao negacionismo, enquanto em outro vértice a ciência e a tecnologia apontam na direção contrária. Além disso, as queimadas que têm devastado e a Amazônia e o Pantanal produzem uma nuvem de fumaça que já cobre mais de 3 mil quilômetros do território nacional e alcançou cidades das regiões Sul e Sudeste, assim como de países fronteiriços.

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