Em mais um devaneio oficial marcado pela teoria da conspiração e pela vitimização, como forma de justificar a incompetência que grassa no Palácio do Planalto, o ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), afirmou nesta segunda-feira (21) que as críticas de “nações estrangeiras” ao desmatamento na Amazônia e às queimadas na Pantanal visam “prejudicar o Brasil e derrubar o governo Bolsonaro”.
Sem citar especificamente um país, Heleno fez tal declaração durante audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF), que discutiu a ação movida por quatro partidos políticos por conta do atraso do governo Bolsonaro na aplicação dos recursos do Fundo do Clima, paralisado desde 2019.
“Não podemos admitir e incentivar que nações, entidades e personalidades estrangeiras, sem passado que lhes dê autoridade moral para nos criticar, tenham sucesso no seu objetivo principal, obviamente oculto, mas evidente para os não inocentes, que é prejudicar o Brasil e derrubar o governo Bolsonaro”, disse Heleno, que para salvar a imagem corroída de um governo inepto prefere ignorar a destruição dos biomas amazônico e pantaneiro.
Quando um militar que atuou na Amazônia e conhece a região faz declaração desse naipe, é porque está cada vez mais distante a possibilidade de o Brasil e os brasileiros terem dias melhores no futuro. A estupidez que domina os corredores palacianos é tamanha, que somente um irresponsável é incapaz de enxergar a realidade a partir das imagens sobre a destruição do meio ambiente.
Na terça-feira (22), Bolsonaro participará, por meio de vídeo, da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), ocasião em que fará discurso em defesa do próprio governo e com críticas aos que têm protestado contra a política ambiental brasileira, que tem incentivado criminosos do campo a desmatar e a atear fogo nas matas e florestas
Não obstante a ignorância institucional e o negacionismo palaciano em relação à devastação dos biomas nacionais, a pífia política ambiental do governo levou a União Europeia a colocar em compasso de espera o acordo comercial com o Mercosul, tão importante e necessário ao bloco econômico e principalmente ao Brasil.
O desvario de Augusto Heleno chega a ser nauseante quando ele afirma que brasileiros têm se aliado a estrangeiros que “jamais pisaram na Amazônia e conhecem a floresta por fotos”, para transformar o Brasil em pária internacional e “vilão” do desmatamento e do aquecimento do planeta.
“Pior. Usam argumentos falsos, números fabricados e manipulados, e acusações infundadas para prejudicar o Brasil. É preciso deixar claro que a Amazônia brasileira nos pertence. E nos foi legada grandiosa e cobiçada graças ao heroísmo e obstinação de nossos antepassados”, declarou o chefe do GSI.
Em mais uma investida no campo da vitimização, Heleno disse, sem citar nomes, que “alguns poucos brasileiros” se aliam a propostas para prejudicar o Brasil porque não aceitam a “alternância de poder”.
“Se sentem cada vez mais distantes da possibilidade de voltar ao comando do país e retornar à catastrófica obra que conduziram por três décadas, não conseguem omitir seus pensamentos obtusos”, disse o ministro.
Ultrapassa as fronteiras do absurdo um ministro de Estado que recorre ao termo “pensamentos obtusos” para defender um governo despreparado, autoritário e que flerta diuturnamente com o retrocesso democrático e o obscurantismo, não sem antes atentar contra o Estado de Direito. Além disso, a alternância de poder não pode ser embalada pelo golpismo e pelo culto à tortura e à ditadura.
É preciso que os brasileiros de bem e com doses mínimas de pensamento lógico reajam a mais uma tentativa de empurrar o País na vala do descrédito e da supressão de liberdades. Ou o Brasil muda, ou a sociedade aceita a ideia de retornar à era plúmbea.
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