Salles vale-se da estrutura e do autoritarismo do governo para intimidar crítico do “passar a boiada”

 
O viés autoritário do governo de Jair Bolsonaro está cada vez mais à mostra, como se o Brasil não fosse uma democracia consolidada, mesmo que jovem. Em nova investida contra o direito de opinião, o governo recorreu à Justiça para intimidar o ambientalista Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, que maio criticou a declaração proferida pelo ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, sobre “passar a boiada” enquanto a imprensa estava preocupada com as questões relacionadas à pandemia do novo coronavírus.

Orientado pela Advocacia-Geral da União (AGU), Ricardo Salles acionou a Justiça Federal para que Astrini seja notificado a explicar as declarações dadas em entrevista ao jornal “O Globo”, em 25 de maio.

Ao comentar a fatídica reunião ministerial de 22 de abril, quando Salles sugeriu “passar a boiada” e Jair Bolsonaro externou seu desejo incontrolável de ingerir em assuntos da Polícia Federal, Astrini afirmou: “A gente viu um ministro de Estado numa conversa de comparsas convocando para aproveitar o momento da pandemia, em que todo mundo está preocupado com a vida, para fazer uma força-tarefa de destruição do meio ambiente”.

De acordo com a notificação da AGU, o pedido de explicações “é cabível em qualquer das modalidades de crimes contra honra” e “soam levianas as palavras do senhor Márcio Astrini, pois além de atacar à pessoa do Ministro de Estado do Meio Ambiente também atingem a instituição da Advocacia-Geral da União, considerando afirmar a ocorrência de ‘pareceres encomendados’”.

Nesta quinta-feira (15), um grupo com mais de cem entidades e pesquisadores publicou nota alertando para uma “tentativa de intimidação” por parte de Ricardo Salles e do próprio governo, já que o presidente da República, que falsamente defende a democracia, não aceita críticas e reage com truculência verbal quando é contrariado.

 
A nota destaca as organizações ambientalistas e seus representantes, como Márcio Astrini, ajudam a proteger o patrimônio ambiental brasileiro com a denúncia de atividades criminosas (como desmatamentos ilegais e invasões de terras públicas) e alertam para o “desmantelamento doloso de políticas públicas ambientais operado pelo Governo Bolsonaro”.

Assinada por representantes de 88 entidades da sociedade civil – Greenpeace, institutos de pesquisa, Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI) –, além de 65 pesquisadores, professores e advogados da sociedade civil, entre eles, João Alfredo, presidente da Comissão de Direito Ambiental da OAB, a nota critica o uso da AGU para interpelar Astrini, não sem antes classificar a investida de Salles como clara tentativa de intimidação.

“Nós queremos viver numa sociedade onde todas as pessoas sejam livres e respeitadas. Queremos um meio ambiente saudável, vida digna para as pessoas que vivem na floresta, no campo e na cidade. As organizações que assinam repudiam a tentativa de intimidação ao ambientalista Marcio Astrini pelo ministro”, destaca a nota.

Ricardo Salles é um covarde conhecido que se vale do da estrutura governamental e do autoritarismo que permeia a gestão Bolsonaro para intimidar seus críticos, como se postura dessa natureza fosse aceita no ambiente democrático.

O ministro deveria ter coragem suficiente para interpelar judicialmente metade da população brasileira, que de forma persistente vem lhe dedicando críticas das mais diversas, algumas com direito a deboches na rede mundial de computadores. Ademais, se Ricardo Salles acredita na sua atuação à frente do Ministério do Meio Ambiente, que questione os desmandos praticados no setor da mineração por corruptos contumazes que apoiam o governo Bolsonaro.

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