Dissimulado, Bolsonaro muda discurso sobre senador do dinheiro na cueca para não aprofundar o descrédito

 
Há dias, em mais uma declaração marcada pelo deboche e pelo populismo barato, o presidente Jair Bolsonaro disse que acabou com a Operação Lava-Jato porque “não tem mais corrupção” no governo, como se a ele coubesse determinar o fim de uma investigação que, como sempre afirma o UCHO.INFO, perdeu o objeto após ser desvendado o esquema criminoso que derreteu os cofres da Petrobras e outros órgãos oficiais.

“É um orgulho, uma satisfação que eu tenho dizer a essa imprensa maravilhosa nossa que eu não quero acabar com a Lava Jato. Eu acabei com [a função da] a Lava Jato porque não tem mais corrupção no governo. Eu sei que isso não é virtude, é obrigação”, disse o presidente, em 7 de outubro, durante discurso no Palácio do Planalto.

Na quarta-feira (14), anulando o próprio discurso, Bolsonaro declarou: “Ah, acabou a Lava Jato, pessoal? A PF está lá em Roraima hoje. Para mim não tem. No meu governo, não tem porque botamos gente lá comprometida com a honestidade, com o futuro do Brasil”.

Aos apoiadores que se aglomeram diariamente para incensar um estulto conhecido, Bolsonaro disse, na quarta-feira, que aquele que praticar ato de corrupção no seu governo levará “uma voadora no pescoço”.

No dia 22 de abril passado, Bolsonaro, durante factícia reunião ministerial, deixou claro seu desejo de interferir nas investigações da PF, como forma de blindar integrantes da própria família e amigos mais próximos.

Com o escândalo envolvendo o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), flagrado pela PF com dinheiro na cueca, possivelmente fruto de desvio de recursos destinados ao combate à pandemia do novo coronavírus, o presidente da República vê desmoronar sua fala embusteira, além de perceber que seu poder de interferir em investigações não é como desejava. Diante disso, foi obrigado a dourar a pílula para novamente não cair em descrédito.

 
Matérias relacionadas
. Bolsonaro quer distância do senador do “dinheiro na cueca”, mas protege o filho no caso das “rachadinhas”
. Barroso decide pelo afastamento de Chico Rodrigues, senador bolsonarista flagrado com “dinheiro na cueca”

“Parte da imprensa me acusando do cara ser meu amigo, eu coloquei como vice-líder e que eu não combato a corrupção. Vamos deixar bem claro, essa operação da Polícia Federal de ontem, como metade das operações, foi em conjunto com Controladoria-Geral da União. Ou seja, nós estamos combatendo a corrupção. Não interessa quem seja a pessoa suspeita”, disse Bolsonaro a apoiadores que o questionaram sobre o tema na saída do Palácio da Alvorada.

O presidente pode até negar sua relação de amizade com Chico Rodrigues, mas querer que a opinião pública acredite em mais uma de suas conhecidas bazófias é mero devaneio. O senador roraimense é amigo de Bolsonaro há pelo menos duas décadas e tinha, até o episódio em questão, livre trânsito no Palácio do Planalto. Além disso, em vídeo que voltou a circular na internet Bolsonaro afirma que tem uma “quase união estável” com Rodrigues.

A proximidade de Chico Rodrigues com o chefe do Executivo federal é tamanha, que quando o então ministro Carlos Alberto Santos Cruz recusou pedido para nomear um sobrinho de Bolsonaro para cargo na Secretaria de Governo da Presidência, o mesmo conseguiu ser nomeado como assessor parlamentar no gabinete do senador roraimense. Leonardo Rodrigues de Jesus, conhecido como “Leo Índio”, está lotado no gabinete de Rodrigues desde abril de 2019, com direito a salário inicial de R$ 14.802,41, sem considerar as vantagens e os penduricalhos inerentes ao posto.

Filho de Rosemeire Nantes Braga Rodrigues, irmã de Rogéria Nantes, mãe dos três filhos políticos do presidente da República, “Leo Índio” foi assessor de Flávio Bolsonaro e é muito próximo do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), que pleiteou cargo para o primo na Secretaria de Governo da Presidência, sem sucesso.

Aos apoiadores que se aglomeram diariamente para incensar um estulto conhecido, Bolsonaro disse, na quarta-feira, que aquele que praticar ato de corrupção no seu governo levará “uma voadora no pescoço”.

Bolsonaro continua “vendendo” aos incautos a falsa ideia de que só a violência é capaz de restabelecer a ordem no País. Por isso abusa de declarações torpes e alusivas a ações truculentas.

Se de fato o desejo do presidente é agredir fisicamente o integrante do governo que se envolver em escândalos de corrupção, o melhor é se matricular em um curso intensivo de artes marciais, pois a roubalheira corre solta nos subterrâneos do poder, como sempre. A exemplo do que vem destacando este portal ao longo dos últimos anos, basta fazer uma devassa no setor da mineração. Será que Bolsonaro tem coragem para tanto? A resposta é não, pois a possibilidade de, a qualquer momento, um processo de impeachment avançar no Congresso o faz refém de bandoleiros conhecidos.

Se você chegou até aqui é porque tem interesse em jornalismo profissional, responsável e independente. Assim é o jornalismo do UCHO.INFO, que nos últimos 20 anos teve participação importante em momentos decisivos do País. Não temos preferência política ou partidária, apenas um compromisso inviolável com a ética e a verdade dos fatos. Nossas análises políticas, que compõem as matérias jornalísticas, são balizadas e certeiras. Isso é fruto da experiência de décadas do nosso editor em jornalismo político e investigativo. Além disso, nosso time de articulistas é de primeiríssima qualidade. Para seguir adiante e continuar defendendo a democracia, os direitos do cidadão e ajudando o Brasil a mudar, o UCHO.INFO precisa da sua contribuição mensal. Desse modo conseguiremos manter a independência e melhorar cada vez mais a qualidade de um jornalismo que conquistou a confiança e o respeito de muitos. Clique e contribua agora através do PayPal. É rápido e seguro! Nós, do UCHO.INFO, agradecemos por seu apoio.