Desde a campanha presidencial de 2018, o UCHO.INFO afirma que Jair Bolsonaro é desprovido de competência e estofo para ocupar de tamanha relevância e responsabilidade como a Presidência da República, além de ser movido pelo autoritarismo.
Bolsonaro, que tenta passar à opinião pública a imagem de último gênio da raça, apenas porque faz contraponto à esquerda, confunde a autoridade decorrente do cargo, que exige responsabilidade redobrada, com autoritarismo e delinquência intelectual.
No episódio envolvendo a compra de 46 milhões de doses da vacina Coronavac, contra a Covid-19, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo, Bolsonaro sabia desde o final de semana da intenção do Ministério da Saúde em adquirir o imunizante. Além disso, o presidente endossou a iniciativa da pasta comandada pelo ministro Eduardo Pazuello.
A mudança radical de opinião por parte de Bolsonaro em relação à Coronavac é fruto da pressão exercida por apoiadores nas redes sociais. Diante de muitas reclamações de bolsonaristas por causa do anúncio feito por Pazuello, que chamou a Coronavac de “vacina do Brasil”, o presidente abusou da sua conhecida covardia e determinou a anulação do protocolo de intenções firmado com o Butantan, que produz 75% das vacinas usadas pelo Ministério da Saúde.
Nesta quarta-feira (21), antes do anúncio de que a Coronavac não seria adquirida pelo governo, Bolsonaro e Pazuello conversaram por telefone para combinar o discurso e a divulgação de nota pública conjunta, em que alegaram “interpretação equivocada”.
Obediente cumpridor das esdrúxulas vontades de Bolsonaro, o ministro da Saúde não toma uma só decisão importante relacionada à pasta sem comunicar de forma prévia o Palácio do Planalto, ou seja, a saúde do brasileiro é refém da obtusa ideologia do presidente e do seu ciclotímico humor.
No momento em que o País aguarda ansiosamente o anúncio de uma vacina eficaz contra a Covid-19 – 89% dos brasileiros são favoráveis à vacinação contra a doença –, Bolsonaro novamente recorre à politização do tema, enquanto a saúde dos cidadãos fica à beira do caminho, como se isso fosse possível e aceitável.
Em conversas reservadas recentes, o editor UCHO.INFO afirmou a interlocutores que Bolsonaro, em algum momento, poderia usar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) contra a Coronavac, como forma de investir contra o governo João Dória Júnior, de São Paulo. E isso ficou evidente nas entrelinhas das declarações do presidente da República balbuciadas nesta quarta-feira. “Toda e qualquer vacina está descartada. Tem que ter uma validade da Saúde e uma certificação por parte da Anvisa também”, disse Bolsonaro.
Quando uma nação depende das reações nas redes sociais para continuar existindo, é porque sua população entrou em estado de letargia ou concorda com esse estado de coisas. Imaginar que Bolsonaro mudou de opinião sobre a vacina por causa das cobranças dos apoiadores permite concluir que tal atitude é fruto do chamado “gabinete do ódio”, que em muitos casos reza pela cartilha da Casa Branca.
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