Anunciado “armistício” entre Salles e Luiz Eduardo Ramos é conversa fiada para evitar implosão do governo

 
A suposta “bandeira branca” acenada em meio ao cabo de guerra que contrapõe o ministro da Secretaria de Governo da Presidência, Luiz Eduardo Ramos, e o ministro do meio Ambiente, Ricardo Salles, não passa de mais uma farsa institucional elaborada pelo núcleo duro do Palácio do Planalto, como forma de preservar a imagem carcomida de um governo populista e perdido.

Na última sexta-feira (23), após críticas dos generais palacianos à decisão de Salles de suspender a atuação de brigadistas que combatem as queimadas no Pantanal, que vem sendo devorado pelas chamas, Salles usou as redes sociais para provocar Ramos, a quem sugeriu que deixasse de agir como “Maria Fofoca”.

Foi o suficiente para que a cizânia que reina no governo viesse a público mais uma vez. Se por um lado o ministro Ricardo Salles conta com o apoio da ala ideológica do governo, que tem com um dos timoneiros o deputado federal Eduardo Bolsonaro, o filho “03” do presidente da República, por outro o chefe da Secretaria de Governo conta com o apoio dos militares, que começam a demonstrar incômodo com a pasmaceira de Bolsonaro.

O desconforto dos militares ficou ainda mais evidente no episódio em que o presidente da República desautorizou publicamente o ministro da saúde, Eduardo Pazuello, no caso da compra de 46 milhões de doses da Coronavac, vacina contra a Covid-19 produzida pela farmacêutica chinesa Sinovac. Bolsonaro determinou a suspensão da intenção de compra, demonstrando sua necessidade de agradar a ala ideológica como estratégia para não atrapalhar as candidaturas de aliados políticos em várias cidades brasileiras.

Pazuello, que é general de Exército e está na ativa, o que por si só é um escárnio, revelou em seguida sua nauseante submissão a Bolsonaro ao dizer que “um manda, o outro obedece”. Beira o inimaginável um ministro da Saúde que se submete às ordens de um governante irresponsável e negacionista em relação à Covid-19.

 
No caso que envolveu Ricardo Salles e Luiz Eduardo Ramos, este último general da reserva, ambos usaram as redes sociais para afirmar que o caso está superado, mas não é essa a realidade dos bastidores palacianos, onde a queda de braços continua avançando.

A ala ideológica do governo não tem escondido disposição para desmoralizar os militares, os quais, na opinião do UCHO.INFO, não deveria participar de governos nem ingressar na seara política, principalmente porque na memória dos brasileiros ainda repousa os horrores da era plúmbea.

Além disso, a participação dos militares em um governo liderado por um incompetente e desprovido de estofo para cargo de tamanha relevância denota a irresponsabilidade da caserna, que tenta, de forma silenciosa, importa à sociedade uma ditadura militar disfarçada, até porque o ranço de 64 ainda perdura e exala olores.

Contrariada com a postura mais amena de Bolsonaro, que arrefeceu os ânimos para manter-se na Presidência, a ala ideológica tentou fazer com Luiz Eduardo Ramos o mesmo que fizera com o seu antecessor, general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, que foi fritado pelo núcleo familiar do presidente da República, que valeu-se de postagens fraudulentas em redes sociais para apeá-lo do posto.

Em suma, o racha no governo não está controlado e novos capítulos desse embate devem surgir em breve, pois a turba bolsonarista continua acreditando que é possível atentar contra a democracia e o Estado de Direito, em nome de uma ideologia tosca e ultrapassada. Para incendiar ainda mais essa epopeia direitista, o chamado “Centrão” tem colaborado sobremaneira.


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