Governadora de Santa Catarina evita condenar o nazismo e os negacionistas do Holocausto

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A governadora interina de Santa Catarina, Daniela Reinehr (sem partido), se esquivou de responder se compactua ou não com pensamentos neonazistas e negacionistas do Holocausto. Ela foi questionada sobre o tema por jornalistas durante sua primeira coletiva de imprensa como chefe de governo estadual, após tomar posse na terça-feira (27) – Reinehr assumiu o cargo temporariamente após o afastamento do governador Carlos Moisés (PSL), alvo de processo de impeachment.

A pergunta não foi à toa. O pai da governadora, o professor de História Altair Reinehr, é conhecido por defender ideias neonazistas e por negar o genocídio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Seus pensamentos foram expostos em textos em que ele relativiza o nazismo e teriam sido propagandeados até mesmo em sala de aula.

Junto a um desses artigos, Altair publicou uma foto dele em frente à casa onde nasceu Adolf Hitler, em Braunau am Inn, na Áustria. No texto, ele se queixa de que, na Alemanha, “é proibido falar mal de Hitler” e “lembrar obras reconhecidamente positivas”.

“Nas escolas dos países europeus, não se ensina a conhecer o governo de Hitler, nem o que era o nacional-socialismo, mas ensina-se a odiar ambos. E tudo isso em nome da democracia, da verdade e da ‘liberdade de expressão’”, reclama o professor.

No mesmo texto, ele exalta supostas realizações positivas do ditador nazista e reclama pelo fato de a “história oficial” considerá-lo o causador da Segunda Guerra, “o que cada vez mais está sendo questionado por historiadores de renome de diferentes países”.

O pai da governadora também testemunhou a favor de Siegfried Ellwanger Castan (1928-2010), proprietário da editora Revisão, conhecida por publicar livros negacionistas do Holocausto e literatura antissemita. Castan foi condenado por racismo pelo Supremo Tribunal Federal em 2000.

Durante a coletiva de imprensa nesta terça-feira, a filha Daniela foi surpreendida com a pergunta do jornalista Fábio Bispo, do site The Intercept Brasil, sobre as ideias defendidas por seu pai.

 
“No começo da sua fala, a senhora agradeceu sua família. Seu pai, como professor de história, pregava em sala de aula o negacionismo do Holocausto judeu, inclusive utilizando livros de uma editora que foi condenada por contar mentiras sobre a Segunda Guerra Mundial. Agora que a senhora é governadora de Santa Catarina, a gente quer saber qual é a sua posição, se a senhora corrobora com essas ideias neonazistas e negacionistas sobre o Holocausto”, perguntou o repórter.

Em nenhum momento de sua resposta, porém, Reinehr foi clara em se declarar antinazista ou negar compactuar com visões negacionistas do Holocausto, atendo-se a dizer que não pode ser julgada por “atos de terceiros”. “Eu realmente não posso responder, ser julgada ou condenada pelo que esse ou aquele pense”, declarou.

“Eu respeito as pessoas independentemente de seu pensamento, respeito os direitos individuais e as liberdades. E qualquer regime que vai contra o que eu acredito, contra esses elementos, eu repudio”, acrescentou, sem especificar a quais regimes ela se referia.

A governadora também falou em manter a “harmonia” dentro de sua família. “Existe uma relação e uma convicção, que move a mim, que chama família. E me cabe, como filha, manter a relação familiar em harmonia, independente das diferenças de pensamento”, afirmou.

Ao reiterar que espera não ser julgada por atos de terceiros, Reinehr ainda fez referência ao processo de impeachment contra o governador Carlos Moisés, no qual ela também era alvo, mas teve sua denúncia arquivada.

“Eu acabei de ser julgada por atos de terceiros, e fui absolvida na comissão mista, que reconheceu que eu não tive participação alguma em atos praticados por terceiros. E eu realmente espero, daqui para a frente e em toda a história, ser julgada pelos meus atos”, afirmou.

Carlos Moisés está sendo julgado por crime de responsabilidade, por conceder, em 2019, reajuste salarial aos procuradores de Santa Catarina através de decisão administrativa, equiparando assim os salários dos procuradores do Executivo com os do Legislativo. A acusação afirma que a medida foi ilegal porque deveria ter sido autorizada pelo Legislativo estadual, o que não aconteceu.

O governador tem sido chamado de “traidor do presidente” por bolsonaristas desde que Jair Bolsonaro decidiu deixar o PSL para fundar a Aliança pelo Brasil. Enquanto Reinehr também abandonou a sigla para seguir os passos de Bolsonaro, Moisés permaneceu no partido. (Com agências de notícias)

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