O brasileiro que se prepare, pois os destampatórios do presidente Jair Bolsonaro tendem a crescer de agora em diante. Diferentemente do “Jairzinho paz e a amor” adotado recentemente, como forma de ludibriar o Legislativo e o Judiciário, assim como a opinião pública, o presidente da República encontra-se em situação política difícil e que compromete seu projeto de reeleição.
Bolsonaro, que enfrenta dois reveses consideráveis – a derrota de Donald Trump nos Estados Unidos e o fiasco em que se transformou seu apoio a candidatos nas eleições municipais brasileiras – terá de saber lidar com o Centrão, que saiu do recente processo eleitoral muito mais fortalecido politicamente do que imaginavam os palacianos, como noticiamos em matéria anterior.
Como se sabe, o Centrão é um agrupamento de legendas partidos políticos que na última década tiveram de lidar com o envolvimento de muitos dos seus próceres em escândalos e denúncias de corrupção e outros crimes. Em outras palavras, o Centrão representa o que há de pior na política nacional, especialmente pela voracidade com que troca apoio por cargos.
Como o exercício da política se faz nos municípios – em grego a palavra “pólis” significa cidade e “politeía”, política – os caciques do Centrão já enxergam nos resultados das recentes eleições uma oportunidade para voos mais altos. Para tanto, essas legendas terão de mudar o discurso pautado pelo escambo inescrupuloso, que significa aumento de gastos, e adotar uma oratória voltada para o ajuste fiscal. Essa alternância é necessária para que os citados partidos possam ser vistos com outros olhos.
Se há algo que Jair Bolsonaro não precisa no momento é uma base de apoio que trabalha contra o aumento de gastos e a favor do necessário ajuste fiscal. O presidente, cujo apoio no Legislativo depende do loteamento da máquina federal, terá dificuldades para levar adiante seu plano de reeleição caso a contenção de gastos prevaleça.
A primeira prova desse impasse foi o fracassado anúncio de um novo programa social para substituir o Bolsa Família (Renda Brasil e Renda Cidadã), que evaporou por falta de fonte de financiamento. Como antecipou este portal, o melhor que o governo pode fazer é manter o Bolsa Família, com alguns necessários ajustes e eventual incremento nos valores dos benefícios, desde que dentro dos limites fiscais.
Outro ponto que coloca Bolsonaro em um cenário de dificuldade política é o posicionamento da cúpula das Forças Armadas, que reagiu às seguidas humilhações públicas impostas a alguns militares que integram o governo. O quadro de desgaste no relacionamento do Palácio do Planalto com a caserna exibia pontos de conflito desde a saída do general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-chefe da Secretaria de Governo da Presidência, mas piorou com a demissão do outrora porta-voz Otávio do Rêgo Barros, também general da reserva.
Os militares – em especial o comandante do Exército, Edson Leal Pujol –, em recente manifestação, deixaram claro que as Forças Armadas são instituições de Estado, não de governo, e cumprem as atribuições estabelecidas pela Constituição Federal. Ou seja, está descartada, pelo menos por enquanto, a tese tosca do “cabo e o soldado” para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF).
Além disso, a cereja desse indigesto bolo servido ao presidente da República fica por conta do cerco que se fecha em torno do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Com o avanço das investigações sobre as malfadadas “rachadinhas” o filho “01” de Jair Bolsonaro terá dificuldade para explicar o inexplicável. O Ministério Público do Rio de Janeiro levantou provas incontestáveis da aatuação criminosa da quadrilha liderada por Flávio Bolsonaro, assunto que tem tirado o sono do presidente, principalmente porque efeitos colaterais do escândalo estão prontos para subir a rampa do Palácio do Planalto.
Para incendiar ainda mais a flamejante crise política, uma eventual segunda onda de Covid-19 no País levará Bolsonaro a recrudescer sua verve totalitarista e descontrolada. Isso porque com a possível prorrogação da pandemia do novo coronavírus, que não deve ser descartada, a economia sofrerá as consequências que todos passaram a conhecer ao longo do ano. De tal modo, os mais prejudicados tenderão a reagir contra o governo, obrigando Bolsonaro a jogar para sua plateia cativa, já que o apoio popular tende a cair. Ou seja, uma enxurrada de desvarios no horizonte verde-louro.
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