Na gangorra político-eleitoral que embala o Brasil, quem está no alto sempre critica aquele que está embaixo, e vice-versa, valendo-se de um falso moralismo que chega a ser nauseante. Nesse cenário de torpeza existencial, causa repulsa o fato de tal oscilação no poder muitas vezes induzir o cidadão a erro, tamanho é o número de armadilhas espalhadas pelo caminho com o objetivo de cabalar votos.
Como sabem os que acompanham o jornalismo do UCHO.INFO, em ano de eleições o “vale tudo” reina absoluto, apesar do endurecimento da legislação eleitoral e do alto risco que correm os transgressores da lei. Como no Brasil leis são desrespeitadas à luz do dia sem qualquer dose de cerimônia, em alguns rincões do País o desrespeito às regras eleitorais é flagrante, sem que a Justiça tenha tempo hábil para agir antes da consumação do absurdo.
No Maranhão, mais miserável unidade da federação, o governador Flávio Dino (PCdoB) jacta-se de ter atuado no campo do Direito na condição de juiz federal quando declara aos “companheiros” de ideologia, como fez recentemente em relação a Guilherme Boulos, candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo.
Contudo, ao que parece, o atual inquilino do Palácio dos Leões, sede do Executivo maranhense, já não se importa com o conjunto legal vigente no País, assim como ignora célebre frase de Ruy Barbosa, o “Águia de Haia”: “As leis são um freio para os crimes públicos – a religião para os crimes secretos.”
Ao UCHO.INFO não cabe questionar a fé e a religião de Dino – inclusive eventuais crimes secretos –, mas quando o crime é público nosso papel como órgão de imprensa é denunciar o ilícito e cobrar explicações.
A poucos dias do segundo turno da disputa pela prefeitura de São Luís, capital do Maranhão, o staff de Flávio Dino entrou em ação para, abusando da miséria local que recrudesceu com a pandemia do novo coronavírus, forçar o eleitor ludovicense a votar em Hildelis Silva Duarte Junior (Republicanos), que na urna eletrônica aparece como “Duarte” (à direita na foto).
O escárnio patrocinado pelo governo de Flávio Dino envolve a distribuição de cestas básicas, com o objetivo de, agarrando o eleitor pelo estômago, tentar impulsionar a candidatura de Duarte, que disputa a Prefeitura da capital com Eduardo Braide (Podemos). Duarte terminou o primeiro turno na segunda posição, com 22,15% dos votos válidos.
Em mensagens distribuídas pelo WhatsApp, a equipe de Dino acionou a rede pública de ensino para informar a pais e alunos sobre a distribuição da cesta básica (arroz, feijão, farinha, macarrão, flocão, polpa de frutas, peito de frango, biscoito e margarina).
Na sequência, em nova mensagem, um membro da tropa de Flávio Dino convida gestores educacionais, professores, pais, alunos e integrantes da comunidade para “reunião de apoio ao candidato a Prefeito Duarte10, o candidato do Governador Flávio Dino”. O referido encontrou utilizado para “lavagem cerebral” aconteceu no último sábado (21), às 11 horas da manhã.
Em mensagem à parte e anterior, compartilhada por Márcio Jerry, espécie de “longa manus” de Dino na terra do arroz com cuxá, o governador afirma que desde abril deste ano já distribuiu mais de 230 mil cestas básicas, “amparando as famílias que mais precisam, em todas as regiões do Estado”.
O papel de todo governante minimamente responsável é se preocupar com as condições de vida da população, mas se Flávio Dino não sabe, “voto de cabresto” configura crime eleitoral, com direito a cassação de mandato. Se o governador do Maranhão está a sofrer de amnésia jurídica de conveniência, que recorra ao irmão Nicolao Dino, destacado membro do Ministério Público Federal (MPF) e sub-procurador-geral da República que sempre mereceu elogios de nossa parte.
Apenas a título de informação, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) define como abuso de poder político “situações em que o detentor do poder, […] vale-se de sua posição para agir de modo a influenciar o eleitor, em detrimento da liberdade de voto. Caracteriza-se dessa forma, como ato de autoridade exercido em detrimento do voto.”
Ademais, quando elegeu-se governador do Maranhão, Flávio Dino adotou um discurso moralista para descontruir a mesmice bandoleira instalada no estado pelo clã Sarney, que a essa altura dos acontecimentos deve estar acreditando que algumas das transgressões de outrora eram meros arroubos de sacristia, se comparadas à ação luciferiana para tentar eleger Duarte.
Para finalizar, recorremos ao nobre brasileiro Ruy Barbosa, que certa feita afirmou: “A justiça pode irritar porque é precária. A verdade não se impacienta porque é eterna.” No UCHO.INFO, o compromisso com a verdade dos fatos o respeito aos leitores é inviolável.
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