Ex-ministro da Justiça e ex-juiz, Sérgio Moro, que no derradeiro capítulo de sua passagem pela magistratura julgou, na 13ª Vara Federal de Curitiba, as ações penais decorrentes da Operação Lava-Jato, sempre surpreende os brasileiros coerentes e dotados de rasas doses de bom-senso.
Depois de sair atirando para todos os lados quando deixou o governo de Jair Bolsonaro, o ex-juiz agora mostra a verdadeira face e anuncia ser o mais novo sócio da consultoria norte-americana Alvarez & Marsal, especializada em gestão de empresas e responsável pelo processo de recuperação do Grupo Odebrecht, um dos sustentáculos do esquema de corrupção que derreteu os cofres da Petrobras, o Petrolão.
Moro, que ficará no comando do setor de “Disputas e Investigações”, afirmou em postagem no Twitter que não há conflito de interesses no seu ingresso na empresa como sócio-diretor, pois, segundo o ex-juiz, não atuará como advogado.
“Ingresso nos quadros da renomada empresa de consultoria internacional Alvarez&Marsal para ajudar as empresas a fazer coisa certa, com políticas de integridade e anticorrupção. Não é advocacia, nem atuarei em casos de potencial conflito de interesses”, escreveu Moro na rede social.
Moro tem o direito externar seu pensamento livremente, até porque assim garante a Constituição, mas alegar a não existência de conflito de interesses é zombar da opinião pública brasileira. Além disso, se sua missão na empresa será “ajudar as empresas a fazer coisa certa”, ele deveria ter exercitado esse viés profissional enquanto esteve no governo Bolsonaro. Só não o fez porque os interesses políticos eram maiores do que o falso moralismo do momento.
No anúncio divulgado no site da empresa, a Alvarez & Marsal informou que “Moro é especialista em liderar investigações anticorrupção complexas e de alto perfil, crimes de colarinho branco, lavagem de dinheiro e crime organizado, bem como aconselhar clientes sobre estratégia e conformidade regulatória proativa”.
O UCHO.INFO desconhece os critérios utilizados pela consultoria para selecionar seus sócios e colaboradores, assim como ignora os serviços prestados pela empresa, mas beira a insensatez contratar alguém como Sérgio Moro, depois das bizarrices jurídicas cometidas no âmbito da Lava-Jato, em muitos casos a reboque do flagrante desrespeito à legislação vigente.
Ademais, os diálogos mantidos por Moro e integrantes da força-tarefa da Lava-Jato e divulgados pelo site “The Intercept” mostram que a citada consultoria não leva em conta o descaso com o Estado de Direito no momento de admitir parceiros e sócios.
No momento em que ingressa em um cenário marcado pelo conflito de interesses, Sérgio Moro sinaliza que poderá abrir mão de uma eventual candidatura à Presidência da República em 2022. Até porque, se o ex-juiz já era mal visto por diversos setores da população, depois dessa novidade a situação piorou. Agradecidos estão o presidente Bolsonaro, candidato à reeleição, e os postulantes a uma candidatura presidencial de centro.
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