Desmatamento na Amazônia cresce 9,5% em 12 meses e bate novo recorde

 
O desmatamento na Amazônia entre agosto de 2019 e julho de 2020 atingiu o maior patamar em mais de uma década. Foram 11.088 km² de devastação, a maior taxa registrada desde 2008, segundo dados divulgados nesta segunda-feira (30) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Os números superaram o já alto índice registrado no período anterior, que havia sido de 10.129 km², e representam um aumento de 9,5% em relação aos dados consolidados pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) entre agosto de 2018 e julho de 2019.

Desde que foi iniciado, em 1988, a maior taxa medida pelo Prodes foi de 29.059 km², registrada em 2005. A partir de então, a taxa de desmatamento sofreu forte queda até chegar aos 4.571 km² em 2012.

De acordo com o Prodes, o estado que mais desmatou neste período foi o Pará, responsável por 47% do desmate do bioma. Em seguida aparecem Mato Grosso, Amazonas e Rondônia.

Esse é o primeiro levantamento anual do desmatamento medido pelo Prodes que reúne a devastação registrada apenas no governo de Jair Bolsonaro. Os dados de 2019 incluíam os registros de agosto a dezembro de 2018.

Ao comentar o índice, o vice-presidente Hamilton Mourão minimizou a destruição registrada. “Podemos observar o início de uma tendência decrescente. Havia expectativa de que o resultado atual que fosse ser divulgado nos daria um aumento em torno de 20% do que ocorreu o ano passado. Foi um pouco menos da metade disso aí”, alegou, acrescentando que, ainda assim, “não é para comemorar”.

Mourão disse ainda que 45% do desmatamento ocorreu em áreas consolidadas. Outros 30% teriam sido em áreas públicas, o que o vice-presidente chamou de “grande problema, a mais flagrante de todas as ilegalidades, que têm de ser combatida”.

Segundo Mourão, apesar de o trabalho de combate ter começado tarde neste ano, em maio, “os esforços que estão sendo empreendidos começam a render frutos”.

 
Depois de diversos ataques públicos feitos por membros do governo de Bolsonaro ao trabalho do Inpe, que culminou na exoneração do ex-diretor Ricardo Galvão por defender a ciência, houve apenas elogios durante a cerimônia de divulgação de dados nesta segunda-feira.

O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, parabenizou os cientistas pelo trabalho e falou sobre a importância para o País do sistema de monitoramento feito no Inpe. Já o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que revelou durante reunião ministerial em maio gravada em vídeo a intenção de aproveitar a pandemia para “passar a boiada”, não participou do evento.

Fiscalização em baixa

A notícia da alta do desmatamento e os comentários de Mourão foram recebidos com bastante crítica por especialistas.

“Se tivesse baixado pelo menos um pouco o desmatamento, talvez daria pra dizer que as ações caríssimas dos militares na Amazônia tivessem tendo efeito”, disse Gilberto Camara, ex-diretor do Inpe, em entrevista à DW Brasil. “Mourão com todo o seu Conselho da Amazônia não está resolvendo nada”, analisa.

“Tudo é deprimente: o número, a forma como eles tratam o dado”, pontua Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, sobre a postura de Mourão. “O general não apresentou nenhum plano, nenhuma solução, nenhuma perspectiva, nenhuma meta, absolutamente nada. O ministro do Meio Ambiente sequer estava presente”, adiciona.

A notícia da alta não surpreendeu entidades que acompanham a política ambiental no país. “Este cenário já era sabido. E, ainda assim, a resposta do governo federal frente ao aumento do desmatamento tem sido maquiar a realidade, militarizar cada vez mais a proteção ambiental e trabalhar para coibir a atuação da sociedade civil, ferindo a nossa democracia”, afirma Cristiane Mazzetti, porta-voz de Amazônia do Greenpeace.

Segundo levantamento do Observatório do Clima, mais de 3.400 militares foram destinados à Operação Verde Brasil 2. “[A operação] falhou em conter tanto o desmatamento quanto as queimadas, que até novembro eram 20% mais numerosas na Amazônia do que o já escandaloso índice de 2019”, argumenta a entidade.

Desde que Jair Bolsonaro foi eleito, multas por crimes ambientais foram praticamente suspensas, o Fundo Amazônia foi paralisado, funcionários de carreira do Ibama e ICMBio perderam postos de comando, leis foram flexibilizadas, houve aumento de invasão de terras públicas.

Para Camara, há pelo menos um fato a ser comemorado, a continuidade da independência do Inpe. “Apesar de o governo ter tentado várias vezes desqualificar o Inpe, foi uma vitória do instituto ter aguentado a pancada e mantido o trabalho. As denúncias feitas pela imprensa nesse sentido também foram muito importantes”, comenta. (Com Deutsche Welle)

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