Mourão vê “hipocrisia” na polêmica sobre retomada de aulas presenciais e mostra estupidez do governo

 
No Brasil, assim como na maioria dos países, impressiona a capacidade de uma farda de transferir a quem a veste – ou a quem já vestiu – a falsa sensação de supremacia, de soberba, de ser super-herói de camelô. Esse introito serve para descrever a postura do vice-presidente da República, Antônio Hamilton Mourão, que no papel de “babá de plantão” de Jair Bolsonaro abusa dos devaneios discursivos.

Nesta quinta-feira (3), Mourão, ao comentar o impasse que ronda a retomada das aulas presenciais nas universidades, disse enxergar uma dose de hipocrisia por parte dos que defendem a continuidade da paralisação. “Acho que há uma certa hipocrisia nisso aí. A mesma turma que não quer voltar vai para a balada, vai para bar… Então, vamos ser coerentes nas coisas. Se não pode, não pode para tudo”, disse vice-presidente ao chegar ao Palácio do Planalto.

Se há no País pessoas desprovidas de moral para falar sobre hipocrisia, principalmente no campo da pandemia do novo coronavírus, por certo esse grupo está no governo de Jair Bolsonaro, um negacionista que trata a Covid-19 como “gripezinha” e rotula os que temem a doença como “maricas” e “frouxos”.

Hipocrisia é um presidente da República, cuja conduta deveria servir de exemplo, condenar o isolamento social, causar aglomerações, recomendar o uso de medicamentos sem eficácia comprovada, pregar a não obrigatoriedade da vacinação, ao mesmo tempo em que endossa projeto de lei que tramita no Congresso Nacional e prevê a destinação de R$ 1,9 bilhão para a aquisição de imunizantes da farmacêutica AstraZeneca.

Hipocrisia é um presidente que, movido pela irresponsabilidade genocida, decide politizar a pandemia do coronavírus como forma de alimentar um projeto de reeleição que começa a derreter, enquanto o trabalhador brasileiro continua à espera das prometidas soluções para os muitos problemas nacionais.

Hipocrisia é um presidente que cruza os braços diante da maior e mais grave pandemia do século, recusando-se a centralizar as ações de combate à doença, deixando a estados e municípios a responsabilidade pela definição das regras para enfrentar a doença.

 
Hipocrisia é um chefe de Estado que insiste no negacionismo quando o assunto é pandemia, mas diante de líderes internacionais comete a ousadia de afirmar que o Brasil vem adotando as melhores práticas de combate à doença desde o início da crise da Covid-19.

Hipocrisia é um general especialista em logística assumir o comando do Ministério da Saúde e, contrariando a ciência, adota medidas absurdas para agradar o presidente da República.

Hipocrisia é o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, negar a existência da segunda onda de Covid-19, por ele rebatizada como repique e outros vernáculos. Hipocrisia é o titular da Saúde afirmar que após as eleições municipais não se pode mais falar em isolamento, já que esse período foi marcado por aglomerações, sem provocar o aumento de casos confirmados e internações.

Hipocrisia é um governo despreparado e perdido, movido pela estupidez ideológica, usar R$ 290 milhões do suado dinheiro público na compra de testes para Covid-19, sendo que todo material está estocado em galpão na Grande São Paulo e com validade prestes a vencer, apesar de o governo afirmar que será prorrogado pelo fabricante.

Em relação a Hamilton Mourão, a hipocrisia que emoldurou o comentário acerca do retorno às aulas presenciais só perde para a sabujice dedicada a Bolsonaro, já que é de conhecimento público que o desrespeito contínuo às regras de isolamento e proteção é a principal responsável pela disparada no número de casos e de internações por Covid-19.

Se os jovens encontram na fala insana do presidente da República uma desculpa esfarrapada para violar o isolamento e impulsionar o contágio, a não retomada das aulas presenciais é uma forma de minimizar uma tragédia anunciada. Resumindo, calado Hamilton Mourão é um poeta épico.

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