Recuperação do grupo liderado por Rodrigo Maia depende do não cumprimento das promessas feitas ao Centrão

 
Em matéria publicada na edição de 27 de janeiro passado, o UCHO.INFO afirmou que o presidente Jair Bolsonaro trabalhava intensamente nos bastidores do Congresso Nacional para não apenas emplacar seus candidatos no comando da Câmara dos Deputados e do Senado, mas principalmente para inviabilizar o projeto do governador João Dória Júnior (PSDB), de São Paulo, de concorrer ao Palácio do Planalto em 2022.

A estratégia, bem sucedida por enquanto, tinha como objetivo rachar o Democratas, partido do ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, cooptando os dissidentes para a candidatura de Arthur Lira (PP-AL). Inicialmente, o DEM apoiava a candidatura do deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP) à Presidência da Casa legislativa.

Se por um lado Bolsonaro conseguiu se vingar de Maia, que auxiliou o governo na aprovação de muitas matérias ao mesmo tempo em que se tornou adversário do Palácio do Planalto, por outro o Democratas saiu da disputa marcado por impressionante cizânia, a ponto de caciques da legenda trocarem farpas e acusações mútuas.

Muito tem se falado sobre a eventual incapacidade de Rodrigo Maia de liderar um movimento contra Bolsonaro em 2022, mas não se deve apostar nessa ideia emoldurada pela fanfarronice. Desde que assumiu a Presidência da Câmara, em substituição a Eduardo Cunha, o democrata fluminense cresceu e amadureceu politicamente. Além disso, teve a oportunidade de demonstrar sua capacidade de articulação nos bastidores do poder. Prova disso foi a aprovação da reforma da Previdência, que sem sua intervenção continuaria estacionada nos corredores do Congresso.

É importante lembrar que Maia assumiu um mandato-tampão em 14 de julho de 2016 após negociações políticas que envolveram inclusive o Partido dos Trabalhadores, que desde o advento do escândalo do Petrolão sofre um processo de deterioração.

A porção fênix de Rodrigo Maia surgirá no momento em que a relação entre Bolsonaro e o Congresso (leia-se Centrão) começar a ruir na esteira do não cumprimento das promessas, como, por exemplo, distribuição de cargos no primeiro escalão do governo e em outras camadas da máquina federal. Aliás, horas depois da eleição dos presidentes do Senado e da Câmara, o Centrão começou a cobrar a contrapartida.

 
Contrariando o discurso embusteiro de dias atrás, o presidente da República agora diz que fará uma reforma ministerial a conta-gotas como forma de testar a fidelidade do Centrão. Bolsonaro, que passou 28 anos no Parlamento, parece não saber como funciona o fisiologismo criminoso do Centrão. Levar esse grupo em banho-maria é no mínimo suicídio político. ademais, é preciso lembrar que os “centristas” ainda não engoliram declaração do chefe do GSI, Augusto Heleno, que em convenção do PSL disse, em 2018, “se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão”. Na política, a vingança é um prato que se come frio.

Como há sobre a escrivaninha da Presidência da Câmara pelos menos cinco dúzias de pedidos de impeachment de Bolsonaro, o melhor que o Palácio do Planalto pode fazer a essa altura dos acontecimentos é reconhecer a importância de se cumprir o que foi combinado no gabinete do ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo. No contraponto, a distribuição de cargos como moeda para a compra de apoio pode contaminar o “bolsonarismo raiz”.

Apenas para exemplificar, o processo de impeachment de Dilma Rousseff só avançou na Câmara quando a então presidente decidiu fechar os olhos e os ouvidos para as cobranças feitas por Eduardo Cunha, à época no comando da Casa. Aliás, quando Cunha assumiu a liderança do MDB (à época PMDB) na Câmara, afirmamos sem medo de errar que Dilma havia se tornado refém de Cunha. Com a eleição do emedebista à Presidência da Câmara, o cenário piorou sobremaneira.

O brasileiro que vive com os pés no chão não deve apostar em milagres nos próximos dois anos, pois o “casamento” de Jair Bolsonaro com o Congresso tem prazo de validade curto. O Centrão já tenta vender a ideia de que reformas estruturantes estão na pauta de votações, mas não é essa a realidade que impera nos bastidores.

A reforma administrativa não acontecerá tão cedo (talvez jamais aconteça), as privatizações não devem prosperar porque Bolsonaro precisa distribuir cargos (isso significa aumento dos gastos públicos), enquanto a reforma tributária continua em compasso de espera, já que abrir mão de receita sem que exista um plano econômico liberal confiável é o que se pode chamar de coquetel de irresponsabilidade com doses de loucura.

Esse cenário, se confirmado, funcionará como terreno fértil para que Rodrigo Maia e os críticos do governo se articulem para construir uma frente contra o autoritarismo e em defesa da democracia, pois Bolsonaro, como alertamos, é muito pior do que o famoso “mais do mesmo”. Além disso, os partidos que se aglutinaram no entorno da candidatura de Baleia Rossi, inclusive o MDB, comandam mais de 2.600 prefeituras em todo o País.

Como política faz-se inicial e principalmente nas cidades (política vem do latim “polis”), é bom Bolsonaro não acreditar que se transformou no suserano do Parlamento. A conferir!

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