Causa espécie a postura de muitos profissionais da imprensa diante dos desdobramentos da Operação Lava-Jato, mais especificamente as recentes decisões da Justiça em relação à operação que investigou corrupção e desvios no âmbito da Petrobras e outros órgãos públicos.
Jornalistas têm criticado a decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) que validou o acesso do ex-presidente Lula às mensagens trocadas por aplicativo entre o ex-juiz Sérgio Moro e membros da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, a começar pelo procurador Deltan Dallagnol.
No julgamento, ocorrido na terça-feira (9), o ministro Gilmar Mendes, presidente da Segunda Turma, fez duras críticas à Lava-Jato, comparando a operação à Stasi, serviço de inteligência e polícia secreta da finada Alemanha Oriental. “Sabem que estudei na Alemanha, estudei a Stasi, nós replicamos a história da Stasi! A Receita Federal virou um braço da Stasi brasileira”, disse o ministro.
Se antes do vazamento dos diálogos entre Moro, Dallagnol e outros membros da força-tarefa a operação era merecedora de críticas pela forma como foram conduzidas as investigações e como se deram alguns depoimentos, muitos deles a reboque de decretação de prisão temporária, depois que os arquivos vieram a público não há como defender a Lava-Jato, sob pena de abrir caminho para um tribunal de exceção.
Gostem ou não alguns jornalistas, é preciso combater a corrupção dentro dos limites da lei, com prega o UCHO.INFO, pois do contrário os transgressores em algum momento acabarão como vítimas de um sistema jurídico viciado em ilegalidades e arbitrariedades.
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Como sempre afirmamos, não se trata de defender corruptos, pelo contrário, mas exigir que eventuais condenações sejam precedidas do devido processo legal e do amplo direito de defesa, sem que acusações sejam formuladas com base no “achismo”. Até porque, reza o Direito Penal que não se condena à sombra de evidências, mas de provas irrefutáveis.
Considerando a possibilidade de tais profissionais de imprensa estarem a defender o combate à corrupção, que os olhos da imprensa sejam também direcionados aos corruptos de agora, que continua a pilhar o Estado nos subterrâneos do poder, protegidos por um discurso embusteiro do atual presidente da República, Jair Bolsonaro, eleito no vácuo do falso moralismo.
Assim como denunciamos, em agosto de 2005, o esquema de corrupção que ficou conhecido como Petrolão, também temos denunciado casos de corrupção que sequer têm merecido a atenção dos mesmos jornalistas que condenam as críticas à Lava-Jato.
Divergir de determinada ideologia é direito de qualquer cidadão que vive em democracia, mas combater essa ideologia com o atropelamento da lei é atentar contra o Estado Democrático de Direito. Pelo que se sabe, o bom jornalista deveria, acima de tudo, defender o estrito cumprimento da lei como forma de preservar a democracia.
Talvez esse comportamento nada republicano de certos jornalistas seja fruto de preguiça recorrente ou de anorexia intelectual, já que defender o combate à corrupção de tal maneira é extremamente fácil. Difícil é apontar e recriminar quem em nome da lei ignora os limites da legalidade e do cargo que ocupa. E criticar a delinquência desses agentes do Estado requer coerência e coragem.
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