Inepto em muitos temas, em especial na seara econômica, o presidente Jair Bolsonaro, refém dos caminhoneiros desde a paralisação da categoria em maio de 2018, escancara cada vez mais um viés que mescla populismo barato com totalitarismo. Isso atenta contra a democracia, o Estado de Direito e a economia.
A decisão de trocar o presidente da Petrobras, anunciada na última sexta-feira (19), fez com que a petrolífera perdesse pouco mais de R$ 28 bilhões em valor de mercado, cifra que nesta segunda-feira está estimada em R$ 100 bilhões. Isso porque as ações da Petrobras estão a derreter nos pregões das Bolsas de Valores brasileira e americana.
Por volta das 12h30 desta segunda-feira (22), as ações da Petrobras comercializada na B3 (Bolsa brasileira) registravam perda de quase 20%, acompanhadas pelos papeis do Banco do Brasil (-11,12%) e da Eletrobras (-5,98%).
Em Nova York, antes da abertura do mercado acionário local, no chamado “pré-mercado”, os ADRs (American Deposit Receipts) da Petrobras desabaram 17%, mas em seguida o tombo foi maior e chegou a 20%. Esse movimento de queda das ações da estatal brasileira também é impulsionado pela valorização dos títulos do Tesouro estadunidense, o que por si só valorizam o dólar no cenário internacional.
No Brasil, a moeda norte-americana abriu o dia em alta. Mesmo após intervenção do Banco Central no mercado de câmbio, o dólar comercial registrava valorização de 2,14%, comercializado a R$ 5,51 (12h30). O euro também está em movimento de alta (2,42%), vendido R$ 6,68. Já o Ibovespa, índice da Bolsa brasileira, recuava 5,25%, aos 112 mil pontos.
Enquanto isso, Bolsonaro, acreditando ser o último gênio da raça, despeja sandices sobre os obtusos apoiadores que diariamente se aglomeram à saída do Palácio da Alvorada. O presidente justificou a decisão de troca no comando da estatal com alegações torpes e que não condizem com a realidade.
“Você vê como se comporta a imprensa no Brasil, falam em interferência minha? Baixou o preço do combustível? [Não], foi anunciado [aumento de] 15% no diesel, 10% na gasolina. Está valendo o mesmo percentual. Como teve interferência? O que eu quero e exijo da Petrobras é transparência e previsibilidade, nada mais além disso. E outra coisa, dia 20 de março encerra o prazo da vigência do atual presidente. É direito meu reconduzir ou não. Não será reconduzido, qual o problema?”, esbravejou Bolsonaro.
Não se trata de defender os aumentos nos preços dos combustíveis, mas de questionar a política econômica de um governo perdido e que diuturnamente flerta com o obscurantismo.
A Petrobras é uma empresa que pauta os preços dos produtos pelo mercado internacional, o que faz com que oscilações ocorram de acordo com o movimento provocado pela oferta e demanda de petróleo. Além disso, com os efeitos da vacinação em massa em diversos países, a tendência é a economia global começar a sair da letargia, o que automaticamente provocará a majoração nos preços da gasolina e do gás.
O fator mais preponderante na formulação dos preços da gasolina e do diesel no Brasil é a cotação do dólar, moeda usada como referência nas transações internacionais. De tal modo, o presidente da República deveria substituir o ainda ministro da Economia, Paulo Guedes, não o comandante da Petrobras, que por ter ações comercializadas nas Bolsas deve satisfação aos investidores. Do contrário, que o governo compre todos os papeis da estatal e faça o que quiser com os preços dos combustíveis.
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