(*) Carlos Brickmann
O presidente Bolsonaro não está preocupado com a alta dos combustíveis, está tão preocupado com os caminhoneiros quanto com o deputado Daniel Silveira, aquele que se julgava o peixinho do chefe – e tinha razão, tanto que acabou frito – e só se preocupa mesmo com a reeleição. Se achasse Roberto Castello Branco inadequado para dirigir a Petrobras, o chilique não seria necessário: em menos de um mês acaba o mandato de Castello, e ele poderia indicar o fardado que quisesse ao Conselho da empresa. Por que o chilique?
Porque sabe que sua popularidade vem se desgastando, à medida que não há vacinas, que aquela graninha extra do coronavoucher parou de ser paga, que ele ficou sem saída: do mesmo jeito que teve de engolir a vachina, feita “naquele país”, a “vacina do Doria”, vai ter de engolir agora o contrato da Pfizer, que ele já rejeitou, ou ficar sem vacinas. E qual o problema, “se todos morremos”? O problema único é o de popularidade. Ele só vê a reeleição.
A vantagem do chilique foi desviar o debate da paralisia do Governo e da erosão da imagem do presidente, que tende a ficar mais baixa que pazuello de sapo. Pela pesquisa CNI/MDA, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria, entre outubro e fevereiro a avaliação positiva do governo caiu de 41% para 33%. No mesmo período, subiu a avaliação negativa de 27 para 35% (30% acham o governo “regular”). É ruim, porém dá para reverter; mas a queda torna o Centrão mais exigente. Caros amigos!
O tamanho do buraco
Em termos pessoais, a aprovação a Bolsonaro caiu de 52% a 44%. E a rejeição subiu de 43% para 51%. O caro leitor acha que não é tanto assim? O Governo não acha: pouco depois do chilique, choveram na Internet áudios dizendo que o general escolhido “estava pondo ordem na casa”, já havia demitido 350 assessores que não trabalhavam, chamado militares e a Polícia Federal para buscar irregularidades. Só que o general não tinha assumido; se for aprovado pelo Conselho, assume na semana que vem. Surgiram ataques a Castello: ganhava muito (é falso: ganha ¼ da média dos presidentes de empresas listadas na Bovespa) e fazia home-office. E daí? O desempenho da empresa era compatível com o das concorrentes? Não vá Bolsonaro, que já tirou duas longas folgas neste ano, dizer que os outros não trabalham.
Prós e contras
Em www.chumbogordo.com.br, dois artigos a favor e dois contra a posição de Bolsonaro.
Pfizer, talvez
A Anvisa autorizou o uso definitivo da vacina da Pfizer no Brasil. Agora só falta combinar com a Pfizer: o Governo Federal se recusava a aceitar o contrato proposto pela empresa, em especial três itens: a) depositar nos EUA uma quantia que garanta o pagamento das vacinas; b) eventuais questões entre as partes decididas no foro de Nova York; c) a empresa se exime de responsabilidade por problemas causados pela vacina. Eventuais processos seriam movidos contra o Governo brasileiro.
Se tudo der certo, a Pfizer entregará ao Ministério da Saúde cem milhões de doses nesse ano, e o primeiro lote será entregue em junho. Meses antes, a Pfizer havia proposto a entrega de 160 milhões de vacinas em 2021, mas o Governo não respondeu.
Resolve? Não: mas ajuda. Entre Butantan, Oxford e Pfizer, seriam 300 milhões de doses, das quase 400 milhões que serão necessárias. Fica perto.
Acerto parlamentar
Acaba de ser redigido no Congresso, informa O Antagonista, um projeto de lei que facilita a negociação. Por ele, municípios, Estados e particulares poderão comprar vacinas aprovadas direto dos produtores. A responsabilidade por eventuais efeitos nocivos fica com os compradores.
O projeto foi ajustado na noite de segunda, num jantar entre parlamentares e representantes do Ministério da Saúde, na casa do presidente do Senado.
Brasil brasileiro
O jornalista Tito Bernardi, do grupo Jornalismo e Democracia, conta-nos o seguinte fato, um retrato do Brasil: “Com 20 mil papelotes de cocaína, preso em flagrante, ele ficou apenas 24 horas no DP de Carapicuíba.
“O flagrante aconteceu no dia 11 de fevereiro. No dia seguinte, a Justiça de Itapecerica da Serra mandou soltá-lo, alegando que a polícia não tinha mandado e que ‘a casa é asilo inviolável e ninguém nela pode penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre ou durante o dia por determinação judicial’. Na decisão judicial consta ainda que a investigação não foi documentada.”
Vinte mil papelotes de cocaína em casa. Alguém acredita que o dono do pó ainda esteja no Brasil, aguardando que haja outra busca?
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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