O negacionismo e a irresponsabilidade genocida do presidente Jair Bolsonaro diante da pandemia do novo coronavírus são casos típicos de delegacia de polícia. Isso porque o chefe do Executivo insiste em politizar a crise sanitária que no Brasil já fez mais de 271 mil vítimas fatais.
Um dia após fingir que adotara um tom mais moderados ao tratar da pandemia e fazendo defesa menos incisiva do chamado “tratamento precoce” para Covid-19, que até o momento não tem eficácia comprovada cientificamente, Bolsonaro recorre ao banditismo político e incita a desobediência civil.
Nesta quinta-feira (11), em audiência virtual com pequenos e micro empresários, ao lado do ainda ministro Paulo Guedes (Economia), Bolsonaro disse que “lockdown não é remédio” e que os governadores que que decretam medidas restritivas buscam a luta pelo poder.
“Até quando nós podemos aguentar esta irresponsabilidade do lockdown? Estou preocupado com vida, sim. Até quando nossa economia vai resistir? Que se colapsar, vai ser uma desgraça. Que que poderemos ter brevemente? Invasão a supermercado, fogo em ônibus, greves, piquetes, paralisações. Onde vamos chegar?”, questionou o irresponsável presidente.
Nenhum governante dotado de doses mínimas de razão e bom-senso tem coragem de incitar a população à desobediência civil, mas Bolsonaro, que tem desmesurado apreço pelo totalitarismo, está em busca de motivos para instalar no País uma ditadura disfarçada de democracia. Em sua fala aos empresários, o presidente citou dois governadores que adotaram medidas restritivas para conter o avanço da pandemia: Ibaneis Rocha (MDB), do Distrito Federal, e João Dória Júnior (PSDB), de São Paulo.
“Nós aqui buscamos salvar empregos e, na ponta da linha, um ou outro, como o de São Paulo, por exemplo, vai para a destruição”, afirmou Bolsonaro, logo após Dória anunciar a adoçado de medidas mais rígidas para tentar frear o desastre promovido pela Covid-19 no principal estado brasileiro, assim como em outros entes federados.
Sempre disposto a politizar a pandemia, ainda mais agora que o ex-presidente Lula voltou à cena política, Bolsonaro criticou a decisão de suspender as partidas do Campeonato Paulista. “Ficamos praticamente um ano em lockdown. E começamos este ano, como estamos vendo em alguns estados no Brasil, novas medidas seriamente restritivas. Até para cancelar o futebol”, disse Bolsonaro.
A reboque do populismo barato e rasteiro, Jair Bolsonaro afirmou que a adoção de medidas restritivas pelos governadores tem como consequência “transformar os pobres em mais pobres”.
“Sou preocupado com vidas, antes que peguem um extrato da minha conversa, alguém, e publique nos jornais como se fosse o presidente sem coração. Mas, como sempre disse, a economia e a vida têm que andar de mãos dadas.”
Visivelmente incomodado com os efeitos colaterais da inoperância do governo no combate à pandemia e tentando minimizar o estrago, Bolsonaro partiu para o ataque e extrapolou ao sugerir que o toque de recolher decretado no DF assemelha-se a estado de sítio.
“Quem é que rema contra isso daí? Com que intenção? Não vou falar que não tem coração, que coração já demonstrou que não tem. Agora, tem uma tremenda ambição. Parece que tem gente que está lutando pelo poder e só consegue atingir a figura do presidente da República se continuar tomando medidas como essas. Porque ainda grande parte do que acontece no Brasil o pessoal culpa o presidente. Isso eu não posso admitir que continue acontecendo. Porque eles não querem salvar vidas, eles querem é poder”, declarou.
Bolsonaro agora recorre à vitimização na tentativa de tirar do governo a responsabilidade pela tragédia em que se transformou a pandemia de Covid-19 no País. Por isso insiste em atacar seus adversários políticos, não sem antes colocar parte da população contra os governadores que agem na tentativa de salvar vidas. Afinal, em muitos estados a ocupação doe leitos de UTI já chegou ao limite e há pessoas morrendo de Covid-19 enquanto aguardam a possibilidade de internação.
O presidente parece querer a instalação generalizada do caos como forma de abrir caminho para a decretação de estado de sítio, dispositivo constitucional que só pode ser acionado em momentos em que a ordem do Estado Democrático de Direito está gravemente ameaçada. E a desobediência civil sugerida por Bolsonaro em reunião com empresários é o caminho mais curto.
Em qualquer país minimamente sério e com autoridades conscientes de suas obrigações e cumpridoras da legislação vigente, Jair Bolsonaro já estaria fora do governo e eventualmente preso. Como boa parte do Congresso Nacional aceitou submeter-se ao proxenetismo político que de forma teimosa desce a rampa do Palácio do Planalto, Bolsonaro continua presidente da República acreditando que é o último gênio da raça e a derradeira tábua de salvação do universo.
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