Ministro da Defesa defende celebração do golpe de 64, que deve ser condenado pelos brasileiros de bem

 
O novo ministro da Defesa, general da reserva Walter Braga Netto, divulgou nesta terça-feira (30) ordem do dia em que defende a compreensão por parte da sociedade e a celebração do golpe militar de 1964, que instaurou no País uma ditadura de 21 anos. A publicação do texto foi a primeira manifestação pública do novo ministro, que assumiu a pasta após a demissão do também general da reserva Fernando Azevedo e Silva, que não aceitou alinhar as Forças Armadas ao governo de Jair Bolsonaro e ao bolsonarismo.

No texto, Braga Netto nomina o golpe como “movimento de 31 de março de 1964”, sem fazer qualquer menção à ditadura instalada posteriormente ou à dura repressão ocorrida ao longo de mais de duas décadas, em que reinou a censura, a perseguição política, a tortura e o assassinato de adversários do regime, além do Ato Institucional nº 5 (AI-5). O ministro afirma no texto que o golpe de 1964 deve ser entendido “a partir do contexto da época”.

Braga Netto tem garantido pela Carta Magna o direito à livre manifestação do pensamento, mas na condição de agente do Estado não pode recorrer à delinquência intelectual, acionando a tese esdrúxula do contexto, para minimizar um período marcado pela truculência oficial e que manchou a história nacional. Ao que parece, o novo ministro da Defesa quer dar sobrevida ao carimbo de facínoras aposto sobre os militares.

A ordem do dia, no entanto, omite e distorce fatos. Ao alegar que “a Guerra Fria envolveu a América Latina, trazendo ao Brasil um cenário de inseguranças com grave instabilidade política, social e econômica” e que “havia ameaça real à paz e à democracia”, Braga Netto ignora as ditaduras, apoiadas ou toleradas pelos Estados Unidos, que se instalaram em vários países latino-americanos sob a alegação desta suposta ameaça.

O texto ressalta que os brasileiros saíram às ruas, apoiados pela imprensa, lideranças políticas e empresariais e pela igreja, o que teria resultado no que ele chamou de “movimento de 31 de março de 1964”. Braga Netto alega que as Forças Armadas teriam supostamente assumido “a responsabilidade de pacificar o país” para “garantir as liberdades democráticas”.

 
Entre pacificar o País e promover protagonizar um dos capítulos negros da história brasileira há uma abissal diferença. Braga Netto, como mencionado acima, tem o direito de se expressar livremente, desde que como cidadão, mas exaltar a ditadura enquanto agente do Estado é no mínimo escárnio.

No texto, o ministro ignora o período entre 1964 e 1979, marcado pela brutalidade do Estado, e dá destaque à aprovação da Lei de Anistia, que, segundo o documento, teria consolidado um “amplo pacto de pacificação a partir das convergências próprias da democracia”.

Ultrapassa as fronteiras do delírio fechar os olhos para a ditadura e querer comemorar algo que só merece repúdio, críticas e indignação. Causa espécie a pasmaceira que toma conta da sociedade brasileira, que a essa altura deveria estar protestando contra mais um absurdo sob a sentinela de Jair Bolsonaro, o “mau soldado” que continua chafurdando na lama do golpismo.

Na ordem do dia, Braga Netto cita que “a Marinha, o Exército e a Força Aérea acompanham as mudanças, conscientes de sua missão constitucional de defender a Pátria, garantir os Poderes constitucionais, e seguros de que a harmonia e o equilíbrio entre esses Poderes preservarão a paz e a estabilidade em nosso país”.

Se assim fosse de fato, o general da reserva teria recusado o convite para assumir o Ministério da Defesa, uma vez que o intento de Bolsonaro é estabelecer um regime de exceção como forma de criar uma cortina de fumaça sobre a consumada derrota política que se recusa a aceitar.

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