No caso das “rachadinhas”, alguém mente sobre relatórios: o diretor da Abin ou a advogada de Flávio

 
Diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem deixou de ser alçado ao posto de diretor-geral da Polícia Federal por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que viu na nomeação uma clara tentativa do presidente da República de interferir no órgão.

O nome de Ramagem surgiu em cena, em meados de 2020, após a demissão de Sérgio Moro, pelo farto de ser amigo dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, que alegou à época da nomeação a necessidade de obter informações privilegiadas sobre investigações da PF para conseguir governar o País. Uma desculpa absurda, que serviu para confirmar o intuito da fracassada nomeação.

Não demorou muito para que o nome de Alexandre Ramagem voltasse ao olho do furacão. Em dezembro de 2020, a advogada Luciana Pires, que integra a defesa de Flávio Bolsonaro no escândalo das malfadadas “rachadinhas”, disse à revista Época que recebeu relatório da Abin para auxiliar o parlamentar em sua tentativa de anular a investigação. De acordo com a advogada, o relatório orientava como obter dados da Receita Federal que permitissem um pedido de anulação do inquérito.

Na entrevista à Época, concedida em 9 de dezembro, Luciana Pires disse não ter seguido as orientações sugeridas pela Abin no relatório. “Não fiz nada. Não vou fazer nada do que ele [Alexandre Ramagem] está sugerindo. Vou fazer o quê? Não está no meu escopo. Tem coisa que eu não tenho controle”, afirmou a advogada.

Não é preciso doses extras de raciocínio para concluir que ninguém afirma ter recebido algo que de fato não recebeu. Ou seja, a Abin produziu e disponibilizou à defesa do senador dois relatórios com informações sobre o caminho a seguir para anular o inquérito das “rachadinhas”. É importante lembrar que a Abin é uma central de inteligência do Estado a serviço da Presidência da República, mas está a léguas de distância de ser um apêndice do clã presidencial.

 
“Todo o material que ele (Ramagem) passou para a Abin foi eu que passei. (…) Eu mandei pronto para ele. Ele não descobriu nada. Inclusive, isso foi pauta na reunião”, disse Luciana Pires à revista

A mencionada reunião aconteceu em agosto 2020 entre o presidente Jair Bolsonaro, os advogados de Flávio e o diretor da Abin. O relatório resultou do encontro no Palácio do Planalto, que contou também com a participação do chefe do GSI, Augusto Heleno.

Alexandre Ramagem publicou nas redes sociais, nesta quarta-feira (7), vídeo em que nega a participação da Abin na produção de relatórios para orientar aos advogados de Flávio Bolsonaro. Ao final da gravação, o diretor da Abin afirma que a Justiça autorizou a Polícia Federal a cumprir, na manhã desta quarta-feira, mandados de busca e apreensão na residência e na estação de trabalho de um servidor do órgão que é considerado suspeito de ter vazado informações “para dar suporte básico de veracidade para construção de mentiras na imprensa”.

“A constatação é a seguinte: parcela da imprensa, pequena, de má-fé constrói um método, cria um falso fato grave, sem qualquer comprovação ou fundamento, joga para difusão geral para uma condenação pública, execração pública, desacreditar a instituição e seus integrantes”, disse o diretor da Abin.

Em dezembro de 2020, em resposta a uma determinação da ministra Cármen Lúcia, do STF, Ramagem admitiu ter se reunido com a defesa de Flávio Bolsonaro em agosto, no Palácio do Planalto, mas negou que o encontro tenha gerado desdobramentos práticos.

Ora, se por um lado Ramagem admitiu a fatídica reunião, mas agora nega a produção de relatórios para orientar o filho do presidente da República, por outro a advogada do senador das “rachadinhas” confirmou ter recebido os tais relatórios do próprio diretor da Abin, alguém está faltando com a verdade. Se Alexandre Ramagem está a mentir, o caso é grave, pois o presidente da República está usando a estrutura do governo para blindar os filhos. Se mentindo está a advogada, cabe ao Conselho de Ética da OAB entrar em ação. Esse é o tipo do escândalo que não resiste a uma chacoalhada mais forte.

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