Desde os tempos em que exercia mandato de deputado federal, o agora presidente Jair Bolsonaro sempre usou a verborragia insana e ameaças torpes na tentativa de intimidar adversários políticos. Essa estratégia foi passada aos filhos do presidente, que também cumprem mandatos legislativos.
O filho com rompantes mais amenos e escassos é o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que submergiu por conta dos muitos escândalos em que aprece como protagonista, a começa pelo caso das “rachadinhas”. Mesmo com o chamado “telhado de vidro”, Flávio decidiu sair em defesa do pai nesta segunda-feira (12), afirmando que entrará com representação no Conselho de Ética do Senado contra o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) por causa da divulgação de gravação de conversa telefônica com o presidente da República.
Na representação, prometida para a tarde desta segunda-feira, Flávio Bolsonaro alegará que Kajuru violou o decoro parlamentar ao divulgar o diálogo telefônico em que o presidente diz que, se necessário, “vai sir na porrada” com o também senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Se há na mais nova epopeia política alguém que deveria se preocupar com os desdobramentos, esse certamente é o presidente Jair Bolsonaro, que no diálogo com Kajuru cometeu inequívoco crime de responsabilidade ao conspirar contra o STF e tentar interferir em Comissão Parlamentar de Inquérito, no caso em questão a CPI da Covid.
O advogado Conrado Hubner, professor de Direito da USP, avalia que o presidente “conspira” contra o STF e a CPI da Covid. “O presidente ligou para um senador e fez dois pedidos: melar a CPI explodindo seu objeto e cassar ministro do STF. O jeito de esquecerem o significado de crime de responsabilidade é praticar vários por dia”, escreveu Hubner em sua conta no Twitter.
A persistir na tese de que a melhor defesa é o ataque, Flávio Bolsonaro poderá complicar ainda mais a situação do pai, que em qualquer país minimamente sério já teria sido apeado do cargo. Afinal, há na Câmara dos Deputados mais de 60 pedidos de impeachment contra Bolsonaro, todos aguardando autorização do presidente da Casa legislativa.
Ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) classificou a gravação de “gravíssima”, cujo conteúdo poderá ser apurado na CPI da Covid, que terá de ser instalada por determinação do STF. “A conversa entre um senador e o Presidente da República articulando contra uma CPI e um ministro do STF é um fato gravíssimo. A própria CPI poderá investigar o possível crime do Presidente da República”, escreveu Maia.
O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) avalia que a fala de Bolsonaro é mais um motivo para o impeachment do presidente. “A conversa entre Bolsonaro e Kajuru é a confissão dos crimes do presidente na pandemia e mais um motivo para impeachment. Bolsonaro quer interferir no Legislativo e no STF para impedir que as investigações aconteçam. Vamos exigir a instalação da CPI da Covid imediatamente”, disse.
O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) compreende que houve “assédio” do presidente contra Karuju, um dos autores do pedido de criação da CPI da Covid. “O assédio sobre senadores para tumultuar a CPI da Covid e para conspirar contra ministros do STF é mais um crime de responsabilidade para compor a ficha corrida de Bolsonaro: interromper seu mandato é a única bússola para superar essa gravíssima crise!”.
Para o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), a gravação divulgada por Kajuru pode ser usada como “prova” contra o presidente. “É o maior escândalo político da República. O presidente em pessoa liga para um senador para cobrar que este mude o foco de uma CPI para investigar inimigos políticos e pautar impeachment de ministro do Supremo. É CRIME DE RESPONSABILIDADE GRAVADO!”, avaliou.
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