Os brasileiros conscientes e que não integram o grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro precisam acordar para a dura realidade que assola o País e reagir com firmeza contra um governo inepto e marcado pelo negacionismo generalizado, não apenas no campo da crise sanitária provocada pelo novo coronavírus, mas na economia e nas questões sociais.
Com o advento da pandemia de Covid-19, o contingente de cidadãos em situação de insegurança alimentar grave no Brasil saltou para 19 milhões, universo que corresponde às populações da Áustria (8,8 milhões de habitantes) e da Bélgica (11,4 milhões) juntas. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 117 milhões de brasileiros não se alimentam da maneira adequada – qualidade e quantidade suficientes.
É inadmissível que o País assista calado ao avanço de uma tragédia humana sem que o governo Bolsonaro se movimente na busca de soluções imediatas para minimizar a carestia de cada brasileiro que luta bravamente contra a fome.
Diante de um cenário desolador e que atenta contra a dignidade humana, o presidente da República continua preocupado com seu projeto de reeleição, o que o leva a intensificar os atos populistas e a se render às chantagens criminosas do Centrão, bloco parlamentar que se acostumou ao proxenetismo político.
À sombra do negacionismo torpe de Bolsonaro, o governo tinha conhecimento de que a pandemia não terminaria com a virada do ano, mas o pagamento do auxílio emergencial findou em 31 de dezembro, sendo que uma nova rodada do benefício, com valor menor e aviltante, só começou a ser pago em meados de abril, como se o faminto pudesse esperar mais de cem dias à espera de uma ajuda oficial.
Vice-presidente da República, Hamilton Mourão já reconheceu publicamente que o governo errou ao não prorrogar o pagamento do auxílio emergencial, mas sua opinião não encontra eco nos bastidores palacianos.
“A curva da economia, a curva social, que foi a questão das linhas de crédito abertas, do auxílio emergencial que foi pago, ele deveria ter sido prolongado. Tínhamos que ter entendido que a pandemia iria prosseguir, não iria terminar em 31 de dezembro do ano passado para que a gente conseguisse manter essas duas curvas numa situação mais favorável possível”, disse Mourão em entrevista à rádio Gaúcha, na última sexta-feira (16).
Sem vacinas contra Covid-19 em quantidade suficiente, o que inviabiliza a retomada da economia, com um precário transporte público e sem a manutenção do valor do auxílio emergencial em R$ 600, Bolsonaro insiste em empurrar o cidadão ao trabalho, como se a pandemia fosse obra do imaginário coletivo. Esse cenário aponta na direção do avanço do genocídio e explica o retorno do Brasil ao mapa da fome.
Para justificar a decisão de não manter o auxílio emergencial em R$ 600, Bolsonaro alegou que a meta fiscal impede qualquer gasto extra por parte do governo. Enquanto isso, o governo recorreu à “contabilidade criativa” para, a reboque de escandalosa pedalada oficial, encontrar maneira de ceder à pressão da base de apoio e acomodar os recursos destinados às emendas parlamentares.
Essa manobra contou com a aprovação de projeto de lei que retira da meta fiscal o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, que viabiliza o corte de jornada e salários, o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) e gastos emergenciais com saúde. Se o PL em questão encontrou brecha para saciar a volúpia do Centrão, por certo encontraria espaço para saciar a fome dos desvalidos.
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