No Dia Mundial do Livro, exalto Monteiro Lobato e a importância da leitura na vida do país, por Waldir Maranhão

 
(*) Waldir Maranhão

Neste 23 de abril, Dia Mundial do Livro, no Brasil não há muito o que se comemorar no campo da leitura. Grandes livrarias mergulharam na elipse das dificuldades econômicas, sendo que muitas estão ameaçadas por um final melancólico.

Hoje, quando os livros e a leitura estão na pauta do dia, descobre-se que vetos presidenciais ao Orçamento da União de 2021 retiram verbas destinadas à Educação, como se o setor não merecesse a atenção máxima e prioritária do Estado.

Como se esse dilapidar os recursos da Educação nada representasse nem tivesse impacto no futuro do país, recentemente a Receita Federal, sob a alegação de que os pobres não leem, propõe acabar com a isenção tributária sobre livros.

Segundo a Receita, a isenção tributária, conquistada pelo setor em 2004, não reduziu o preço dos livros, assim como não elevou o consumo. Essa justificativa é míope, pois não se pode falar em futuro sem apostar na educação e no conhecimento. É necessário agregar a essa seara as questões econômicas das últimas duas décadas.

Aproveito a esdrúxula proposta da Receita pata destacar o livro dos livros, a Bíblia Sagrada, que traz citação importante para ilustrar o absurdo. “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes” (Mateus 9:12,13). Em suma, os que não podem comprar livros precisam começar a ler.

Tribuno do povo à época da República Romana, Caio Graco é autor de uma frase que deveria servir como norte para qualquer homem público com boas intenções: “Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros mudam as pessoas”.

A frase de Graco fala por si só e mostra a importância de se investir cada vez mais na educação e promover de forma contínua a leitura como fonte de aprendizado e conhecimento.

A proposta de acabar com a isenção tributária sobre livros é condenar o conhecimento ao cadafalso da humanidade. Em vez de defender o fim da isenção, o governo deveria se questionar sobre o baixo índice de leitura no país. E adotar medidas para reverter o inaceitável.

Qualquer plano que busque um país mais justo e menos desigual passa obrigatoriamente pela Educação, que em ato seguinte depende da leitura e da máxima compreensão do que é lido.

Esse quadro aponta na direção do analfabetismo funcional, algo que para muitos é mera figura de retórica ou detalhe desprezível, mas representa um fiel retrato do que podemos esperar do futuro do Brasil.

Em 2018, testes cognitivos aplicados em 2.002 pessoas residentes em áreas urbanas e rurais de todo o país constatou que 29% da população podem ser consideradas analfabetas funcionais e sequer superam o nível mais básico de proficiência. Apenas 12% da população é considera “proficiente”. Estamos falando de 60 milhões de analfabetos funcionais, contingente que equivale à população da Itália.

Não há como fechar os olhos para o descaso do Estado brasileiro, como um todo, para as questões relacionadas à Educação. Muito além de destinar recursos à Educação, é preciso se preocupar com a qualidade do conteúdo disponibilizado aos alunos das escolas públicas, ao mesmo tempo em que é de extrema importância dar atenção aos professores, proporcionando condições mínimas para que a atividade educacional produza resultados condizentes com nossas expectativas de país.

Esse cenário remete obrigatoriamente à leitura, atividade que no Brasil é relegada a segundo plano, talvez a planos mais inferiores.

O grande Monteiro Lobato, uma das mais proeminentes figuras da literatura nacional, disse certa vez: “Um país se faz com homens e livros”.

Lobato foi, sim, um visionário, mas a linha do tempo poupou-o de vislumbrar um país com milhões e milhões de homens sem livros.

Gostem ou não as autoridades, um país se faz grade no momento em que o desenvolvimento vem a partir do incentivo à leitura. A igualdade social também pode ser alcançada com as ferramentas educacionais, começando pelo hábito da leitura.

Alguém pode perguntar por qual razão insisto no tema da Educação. A razão é simples e explico com frase que repito sem cansar: “A única cadeia que liberta e a cadeia da Educação”.

Em meio à destruição institucional, ética, moral e econômica, o Brasil precisa urgentemente ser repensado e reinventado, pois na condição em que se encontra o país nos resta aceitar que o retrocesso nos aguarda.

Muito antes do advento da pandemia, os brasileiros assistiam silenciosamente ao fechamento de livrarias e à abertura de bares e farmácias. Não se trata de ser pudico, mas tenho de reconhecer que o Brasil está cada vez mais inculto e doente.

Diferentemente de bebidas e medicamentos, a leitura não tem efeitos colaterais, mas produz inúmeros benefícios ao leitor. Afinal, ler um livro amplia os horizontes, proporciona maior qualidade ao pensamento, potencializa a atenção, remodela conceitos e elimina preconceitos, amplia o conhecimento e a imaginação, melhora o vocabulário e a forma de escrever e de se comunicar.

Assim, aos tropeços e solavancos, o brasileiro luta de forma heroica para sobreviver, sem compreender a receita de um cotidiano que só piora. Volto no próximo artigo para tratar dos impactos na vida do cidadão provocados pelo descaso ambiental. Até lá!

(*) Waldir Maranhão – médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.

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