Sempre recorrendo a declarações que não condizem com a realidade, o presidente Jair Bolsonaro tem afirmado repetidas vezes que não se preocupa com a CPI da Covid, o que não é verdade. A comissão, que investigará a omissão do governo federal no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, tem potencial de sobra para gerar incômodos e problemas consideráveis ao governo e ao próprio presidente da República.
O desespero de Bolsonaro com os desdobramentos da CPI é grande, algo que se confirma no rastro do comportamento irritadiço dos senadores governistas que integram o colegiado, acionados pelo staff palaciano para atrapalhar os trabalhos da comissão. Imaginava-se que a tentativa de impedir o senador Renan Calheiros (MDB-AL) de assumir a relatoria da CPI era o ponto alto desse desespero, mas novos capítulos mostram o contrário.
Em clara demonstração de incompetência política, Bolsonaro procurou o ex-presidente José Sarney, um dos caciques emedebistas, para tentar conter as investidas de Renan Calheiros contra o governo. Até o momento, esse pedido de socorro não surtiu efeito.
A informação do encontro entre Bolsonaro e Sarney chegou ao UCHO.INFO na última terça-feira (27), mas deixamos de noticiar o fato por não termos confirmação por parte de nossas fontes. A jornalista Carla Araújo, do portal UOL, confirmou a reunião entre ambos em matéria publicada nesta sexta-feira (30).
A decisão de Bolsonaro de procurar o ex-presidente da República retrata o nível de tensão que impera no Palácio do Planalto. Em outras palavras, a CPI da Covid, que mal começou, levou pânico à cúpula do governo.
Fosse minimamente inteligente em termos políticos, Bolsonaro teria escalado alguém de sua confiança, o chefe da Casa Civil, por exemplo, para a missão. Ao contrário, por ter se acostumado a tratar a Presidência da República sem a liturgia devida e o respeito que a instituição merece, o presidente preferiu agir como estivesse a comer “pão com leite condensado”.
Recorrer ao ex-presidente Sarney para eventualmente convencer o senador Renan Calheiros a maneirar na relatoria é sinal de amadorismo político e prova que o governo começou a esfarelar. Em outras palavras, Bolsonaro terá de contar ainda mais com o apoio vendido do Centrão, que a cada movimento brusco aumenta o valor da “fatura”.
Quando o UCHO.INFO, na campanha de 2018, afirmou que o então candidato Jair Bolsonaro era desprovido de competência e estofo – e continua sendo – para assumir cargo de tamanha relevância como a Presidência, os apoiadores do agora presidente nos atacaram e ofenderam de maneira covarde, como se a verdade em algum momento não fosse ocupar a cena. Tempo passou e agora mostra-se senhor da razão.
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