Em 2022, o Brasil precisa mudar com responsabilidade, parcimônia e consciência

 
(*) Waldir Maranhão

O Brasil enfrenta um dos piores momentos da sua história, tanto pela pandemia quanto pelas constantes ameaças à democracia, sem contar a grave crise econômica. Por conta desse cenário é preponderante olhar para o futuro, sem descuidar do retrovisor que nos proporciona a visão da última disputa presidencial.

Com mais de um ano de antecedência, a eleição para a Presidência da República movimenta o mundo político, como se o país não aguardasse a adoção de medidas para minimizar o caos.

Neste 1º de maio, quando é comemorado o Dia do Trabalho, não posso deixar de mencionar a taxa de desemprego, que no trimestre de dezembro a fevereiro ficou em 14,4%. Em números absolutos significa que 14,4 milhões de brasileiros estão sem a oportunidade de trabalhar. A esse contingente preocupante juntam-se os subutilizados e os trabalhadores informais.

As eleições de 2022 começam a despontar no horizonte, forçadas por algo que estamos cansados de ver: polarização político-ideológica e briga pelo poder.

Em 2018, quando boa parte da população acreditou que mudanças eram possíveis, o Brasil apostou em uma proposta que ora se mostra “mais do mesmo”. Por isso afirmo que não podemos deixar para trás a difícil lição da última escolha para presidente da República.

O anunciado e prometido conservadorismo foi rapidamente substituído pelo radicalismo. E o resultado dessa troca, que na verdade é uma traição com o eleitor, todos conhecem. Como disse Franklin Delano Roosevelt (1882-1945), 32º presidente dos Estados Unidos, “um radical é um homem com os pés firmemente plantados no ar.”

O país não precisa de governantes como os “pés firmemente plantados no ar”, mas de alguém ponderado que consiga catalisar não apenas os mais plurais desejos da sociedade, mas os interesses dos atores políticos que verdadeiramente defendem uma mudança urgente.

Volto à eleição presidencial de 2018… Naquele ano, o Brasil foi palco de uma campanha marcada por polarização exacerbada e promessas impossíveis. Tudo o que uma nação não precisa, principalmente em um momento de crise política, como o que vivíamos à época e continuamos a viver.

Pretendentes a subir a rampa do Palácio do Planalto há de sobra aqui e acolá, mas o Brasil não pode embarcar mais uma vez na nave do engodo. Muito tem se falado sobre uma possível candidatura de centro, mas ouso dizer que o país precisa de uma candidatura de coalizão, de pessoas dispostas a uma união capaz de banir o status quo.

Esses pretendentes têm se movimentado nos bastidores da política brasileira em busca de eventuais alianças e possíveis apoios, mas o momento exige muito mais do que promessas vãs e “caras” novas, já que o eleitor não pode ser arrebatado mais uma por disputas entre direita e esquerda e vice-versa.

Quem de fato deseja o bem do país e almeja dias melhores tem o dever exigir uma candidatura fruto de sensatez, equilíbrio, maturidade, espírito público.

Todos os envolvidos nesse processo precisam ter maturidade política e humildade, pois o que vivemos hoje é resultado de um espetáculo de vaidade que foi coadjuvante em 2018. Não fosse a soberba de muitos candidatos – bons candidatos, destaco – o Brasil não estaria enfrentando esse terremoto político-institucional. Estaríamos, sim, com os dois olhos voltados para a pandemia e seus múltiplos estragos. Não é essa a nossa realidade, infelizmente, já que um olho precisa focar na pandemia, enquanto o outro foca nas investidas contra a democracia.

Os principais “caciques” políticos têm o dever patriótico de liderar um processo que garanta uma candidatura que permita a cada brasileiro voltar a sonhar com um país justo e menos desigual, sem as surpresas desagradáveis de agora.

Para isso é preciso maturidade e desprendimento político em nome de um futuro melhor e o bem de todos.

Com os direitos políticos restabelecidos, o que o tornou elegível, o ex-presidente Lula voltou a frequentar as conjecturas eleitorais para 2022. Mesmo que muitos não simpatizem com o PT, é importante reconhecer que enquanto o partido esteve no poder, com destaque aos dois mandatos de Lula, as políticas sociais mereceram atenção redobrada.

Lula recebeu uma “herança bendita” do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o que facilitou na adoção de política públicas que beneficiaram o trabalhador e os mais desvalidos.

FHC conseguiu colocar a economia brasileira nos trilhos, movimento que deu os primeiros passos por causa da corajosa aposta do saudoso presidente Itamar Franco. Não fosse Itamar, o Plano Real continuaria no papel.

Analisando o cenário político atual e as possibilidades eleitorais para o próximo anos, não é demais pensar na possibilidade de FHC e Lula se unirem, assim como fizeram no passado, para construir uma candidatura capaz de libertar o Brasil do cativeiro do radicalismo e do atraso.

Alguém pode dizer que essa eventual junção (FHC + Lula) poderá barrar alguns novatos, mas lembro que o Brasil não pode confiar em aventureiros e seus planos mirabolantes. Afinal, comandar uma nação como o Brasil e decidir o futuro de mais de 200 milhões de pessoas não é tarefa para amador. Exige responsabilidade, temperança e jogo de cintura, pois a política tem um ritmo (no bom sentido) que só se conhece estando no poder.

A questão que se põe sobre a mesa de discussões políticas visando 2022 não se resume a ser contra esse candidato ou a favor de outro, mas de priorizar o Brasil, os brasileiros, o trabalhador, os menos favorecidos.

Enquanto presidente da Câmara dos Deputados, tomei decisões que agradaram a alguns e contrariam outros. Fiz o que entendia ser melhor para o país. Ultrapassado o impeachment, o Brasil melhorou?

Às margens do Rio Rubicão, o então imperador romano Júlio César teria bradado: “A sorte está lançada” (Alea jacta est, em latim). Não se trata de jogar com a sorte, mas de escolher o que pode ser melhor para a imensa maioria. Continuamos no reboliço atual ou marchamos juntos em busca da mudança?

(*) Waldir Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.

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