Depoimento de Pazuello à CPI da Covid tem ingredientes de sobra para ser um enorme desastre oficial

 
A estratégia do governo de Jair Bolsonaro para enfrentar a CPI da Covid, no Senado Federal, é um equívoco enorme e servirá para incrementar o processo de desgaste do projeto de reeleição do presidente da República.

Ex-ministro da Saúde e general do Exército da ativa, Eduardo Pazuello passou por treinamento no final de semana, no Palácio do Planalto, ocasião em que foram definidos os argumentos a serem utilizados para defender um governo indefensável.

Pazuello tentará convencer os senadores que a culpa pela tragédia em que se transformou a pandemia do novo coronavírus no País é da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF), do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e dos governadores e prefeitos.

Em relação à OMS, o general dirá que houve demora no reconhecimento da pandemia. Sobre governadores e prefeitos, o argumento é que permitiu-se a realização do carnaval, como se Bolsonaro não provocasse e incentivasse aglomerações –os atos a favor do governo e contra a democracia. falam por si.

No tocante ao STF, a alegação a ser usada por Pazuello é que a Corte reconheceu que estados e municípios têm autonomia para adotar medidas de enfrentamento à pandemia. A decisão do STF se deu na esteira da omissão do governo Bolsonaro, que apostou no negacionismo torpe e na irresponsabilidade genocida de um totalitarista convicto que continua a apostar no populismo barato. Sobre o TSE, o general dirá que a Corte eleitoral não aceitou o adiamento das eleições municipais de 2020, decisão que foi referendada pelo Congresso Nacional.

 
O general Pazuello dirá também aos integrantes da CPI da Covid que o governo adotou medidas de combate à pandemia, como, por exemplo, o pagamento do auxílio emergencial. Além disso, o militar destacará que a gestão Bolsonaro comprou vacinas e repassou verbas federais a estados e municípios para o enfrentamento da crise sanitária.

Diante desses fracos argumentos, que podem acirrar ainda mais os ânimos na CPI, a tendência é que Eduardo Pazuello acabe reforçando a irresponsabilidade do governo no combate à Covid-19. Não se pode esquecer que o próprio general, em transmissão ao vivo pela internet enquanto se recuperava da Covid-19, afirmou, ao lado do presidente da República, que “um manda, o outro obedece”.

A alegação de que o governo comprou vacinas, após ter recusado, em agosto de 2020, oferta da Pfizer de 70 milhões de doses de imunizantes é no mínimo um misto de desfaçatez oficial com suicídio político.

Sobre a Coronavac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac com o Instituto Butantan, Bolsonaro disse inicialmente que não compraria imunizante produzido na China. Para justificar esse absurdo, o presidente disse que quem fosse vacinado poderia virar jacaré. Horas após o Ministério da Saúde anunciar a compra de 46 milhões de doses da Coronavac, Bolsonaro desautorizou publicamente Pazuello e determinou o cancelamento do contrato.

Em suma, somente um desavisado é capaz de acreditar que a participação de Eduardo Pazuello na CPI será um enorme sucesso. Não se deve descartar a possibilidade de o general acabar responsabilizado criminalmente pela tragédia que se instalou no País. A conferir!

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