Acuado pelos efeitos devastadores da pandemia, Bolsonaro volta a ameaçar a democracia e adversários

 
Não é novidade para os brasileiros de bom senso que o presidente Jair Bolsonaro é um néscio confesso e conhecido que se move nos campos da ignorância devastadora e do populismo barato. O monstruoso desastre em que se transformou o governo não deixa dúvidas. Esse cenário coloca o Brasil em situação delicada, tanto internamente quanto no campo internacional.

Com os primeiros passos da CPI da Covid, que apura as ações e a omissão do governo federal no combate à pandemia do novo coronavírus, e diante da possibilidade de o vereador Carlos Bolsonaro ser convocado a depor, com base na declaração do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde), o presidente retomou as ameaças contra os Poderes constituídos e a democracia.

Contrário às medidas de isolamento adotadas por governadores e prefeitos, Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira (5), durante evento no Palácio do Planalto, que poderá editar decreto para garantir a “liberdade de culto, de poder trabalhar e o direito de ir e vir”. De acordo com o presidente, a medida “não poderá ser contestada por nenhum tribunal”. “Não podemos continuar com essa política de feche tudo, fique em casa”, disse o chefe do Executivo.

“Nas ruas já se começa a pedir por parte do governo que se baixe um decreto. E se eu baixar um decreto, vai ser cumprido. Não vai ser contestado por nenhum tribunal, porque será cumprido. O que constaria no corpo desse decreto? Os incisos do artigo 5º da Constituição”, afirmou.

Citado por Bolsonaro, que parece não ter compreendido texto constitucional em sua inteireza, o artigo 5º da Carta Magana estabelece: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.

“O Congresso, a qual integrei, tenho a certeza que estará ao nosso lado. O povo, a qual nós, Executivo e parlamentares, devemos lealdade absoluta, também estará ao nosso lado. Quem poderá contestar o artigo 5 da Constituição?”, avançou Bolsonaro em mais uma fala insana e que atenta contra a saúde dos cidadãos.

 
Acreditar que o Congresso Nacional endossará uma medida autoritária que remete ao período da ditadura militar é prova cabal da inocência e do despotismo que emolduram o presidente da República. De igual modo, afirmar que nenhum tribunal contestará o aludido decreto é imaginar que o Brasil é um país sem ordenamento jurídico e que ninguém deve se submeter ao império da lei.

Alguns profissionais de comunicação que se apresentam como especialistas em temas relacionados à política não conseguiram avaliar o estrago decorrente do depoimento do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta à CPI da Covid.

Em que pese o fato de Mandetta, em alguns momentos, ter repetido declarações anteriores, sua participação na CPI aconteceu no momento em que o País ultrapassa a marca de 411 mil mortes pelo novo coronavírus. Isso por si só potencializa o depoimento por conta da repercussão das declarações.

Além disso, a morte do ator e humorista Paulo Gustavo, que tombou diante da Covid-19 aos 42 anos, aumentou a rejeição ao presidente da República nas redes sociais, como mostra levantamento feito pela consultoria AP Exata.

A empresa, que monitora o humor dos usuários no Twitter, aponta que o sentimento de tristeza em posts que mencionam Bolsonaro cresceu dez pontos de terça para quarta-feira. No contraponto, as publicações do clã presidencial lamentando a morte de Paulo Gustavo e perda para a cultura brasileira foram classificados como oportunistas e falsos. Nas redes, opositores lembraram das muitas ocasiões em que o presidente desdenhou da pandemia e provocou aglomerações desnecessárias.

Bolsonaro deve insistir nos ataques à democracia e nas ameaças contra a imprensa, o Legislativo e o Judiciário, pois a morte do ator e humorista, que cristaliza a batalha perdida por 411 mil brasileiros, repercutirá por muito tempo. Sem ter como se livrar dos efeitos colaterais do negacionismo torpe, o presidente se valerá da radicalização do discurso. Já passou da hora de dar um basta a um estagiário de tiranete que como covarde contumaz abusa das intimidações.

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