Depoimento sincero de Barra Torres à CPI da Covid causou desconforto na cúpula do Palácio do Planalto

 
Como destacamos em matéria anterior, a participação de Antônio Barra Torres, diretor-geral da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), na CPI da Covid produziu muito mais estragos ao governo Bolsonaro do que imaginavam os palacianos.

Sem citar repetidas vezes o nome do presidente da República, Barra Torres foi firme e claro em suas respostas, externando seu pensamento sobre os mais distintos assuntos que envolvem a pandemia de Covid-19. Essa franqueza incomodou Jair Bolsonaro e seus principais assessores, que esperavam do diretor da Anisa uma oratória escorregadia como a do ministro Marcelo Queiroga (Saúde).

Ressaltando que a Anvisa não sofreu até o momento qualquer tipo de pressão para analisar e aprovar vacinas contra Covid-19, Barra Torres confirmou a tentativa do governo de alterar a bula da hidroxicloroquina por meio de decreto presidencial, disse ser contra o chamado tratamento precoce, criticou o negacionismo de Bolsonaro e pediu para que ninguém siga as orientações do presidente da República.

Certeiras, as críticas de Barra Torres deixaram a tropa de choque do governo na CPI sem espaço para contestações fantasiosas, como aconteceu em depoimentos anteriores, ao mesmo tempo em que causou desconforto entre os integrantes do staff palaciano.

 
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O depoimento de Barra Torres, que é amigo e aliado de Bolsonaro, serviu para aumentar a pressão sobre o governo no campo do enfrentamento à pandemia. O negacionismo do presidente, a aposta irresponsável na imunidade de rebanho, a defesa do uso da hidroxicloroquina contra Covid-19 e a demora na aquisição de vacinas ganharam reforço negativo extra com o depoimento do diretor-geral da Anisa. Sem contar o colapso no sistema de saúde de Manaus, que não entrou na pauta.

O desconforto entre integrantes do governo ficou claro no final desta terça-feira (11), durante evento no Palácio do Planalto para assinatura de portaria que libera quase R$ 1 bilhão em recursos destinados ao combate da Covid-19 na atenção primária, porta de entrada do paciente no Sistema Único de Saúde (SUS).

Bolsonaro, que participou da cerimônia, preferiu não discursar, deixando o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, falar em nome do governo. Aparentemente preocupado em manter-se no cargo, Queiroga mais uma vez saiu em defesa do presidente, a exemplo do que fez na CPI.

“O senhor sempre foi um amigo da classe médica. O senhor sempre defendeu a autonomia dos médicos. E os médicos, com os demais profissionais de saúde, são os verdadeiros soldados que vão ajudar a superar essa difícil situação sanitária que se instala no mundo e no nosso país”, disse Queiroga, em claro contraponto ao depoimento de Barra Torres.

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