Se a CPI da Covid já era um enorme problema para o presidente Jair Bolsonaro, que deverá ser responsabilizado pela tragédia humana fruto da pandemia, o corredor político que leva à conclusão do mandato presidencial começa a se afunilar cada vez mais, principalmente depois da descoberta do escândalo do “tratoraço”, revelado no último final de semana pelo jornal “O Estado de S. Paulo”.
Bolsonaro, que reage com ameaças e truculência discursiva quando enfrenta polêmicas e dificuldades políticas, não fugiu ao roteiro no caso do “tratoraço”, esquema criminoso que mescla pedalada fiscal e mensalão, criado sorrateiramente para comprar apoio no Congresso Nacional.
Na manhã desta terça-feira (11), em conversa com os apoiadores que diariamente se aglomeram à saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que o “orçamento secreto”, com verba de R$ 3 bilhões, é uma invenção do jornal paulista. Na ocasião, o presidente chamou os jornalistas de “canalhas”.
“Inventaram que eu tenho um orçamento secreto agora. Tenho um reservatório de leite condensado, 3 milhões de latas. Eles não têm o que falar. Como um orçamento foi aprovado, discutido por meses e agora apareceu R$ 3 bilhões? Só os canalhas do Estado de S. Paulo para escrever isso aí”, disse um descontrolado Bolsonaro.
O presidente da República sabe que as matérias do Estadão são verdadeiras e estão embasadas em fatos e documentos incontestáveis, mas atacar a imprensa faz parte do script desde o primeiro dia do atual governo.
Repetindo um comportamento típico de covardes, Bolsonaro voltou a terceirizar a responsabilidade pelo “tratoraço”, que só foi possível porque o Palácio do Planalto consentiu com um esquema montado para comprar apoio político.
“Eles batem na tecla de corrupção o tempo todo. Zero corrupção no meu governo, zero. Outra coisa, se alguém na ponta da linha, mandamos dinheiro para Estados, se alguém comprou algo superfaturado, não tenho essa responsabilidade”, disse o presidente.
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Por ocasião da feitura do Orçamento da União, uma emenda do relator reservou R$ 3 bilhões para investimentos que dependeriam de indicações do Congresso, contemplando as emendas batizadas como “RP-9”. Essa manobra espúria no escopo orçamentário serviu para garantir a eleição de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco às presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, respectivamente.
Bolsonaro vetou a tentativa do Congresso de definir o destino dos recursos das emendas RP-9, pois na sua opinião contrariava o “interesse público” e incentivava o “personalismo”.
Nos documentos a que teve acesso o Estadão, Bolsonaro ignorou o próprio veto e entregou à base de apoio no Congresso o montante de R$ 3 bilhões, repassado por meio do Ministério do Desenvolvimento Regional. Como o veto em questão jamais foi derrubado, está-se diante de uma pedalada fiscal inaceitável e que precisa ser investigada a fundo, pois há nesse bojo crimes de corrupção, praticados a partir da compra superfaturada (mais de 250%) de tratores e máquinas agrícolas.
Para viabilizar a manobra criminosa, Bolsonaro inseriu no circuito a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), controlada pelo Centrão e usada para aplicar os recursos do “orçamento secreto”, com base em indicações dos parlamentares. Acontece que a área de atuação da Codevasf, que como o próprio nome deveria ater-se aos vales de ambos os rios, acabou alargada de forma acintosa. Isso porque a estatal destinou recursos públicos a cidades do Amapá até o Paraná. Muito longe das bacias do São Francisco e do Parnaíba.
Há na Câmara dos Deputados um movimento, liderado pelo deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), para colher ao menos 171 assinaturas com o objetivo de permitir pedido de abertura de CPI para investigar o escândalo, que, a depender do andamento, poderá servir como ponto de partida de processo de impeachment.
Sobre a declaração do presidente da República sobre “corrupção zero” no governo, Bolsonaro deveria explicar aos brasileiros o que acontece nos subterrâneos do setor de mineração.
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