CPI da Covid: depoimento do presidente da Pfizer América Latina serviu para desmascarar Bolsonaro

 
O depoimento de Fábio Wajngarten à CPI da Covid foi marcado por mentiras sequenciais, mesmo após provas em contrário, e ameaças de prisão, mas o ex-secretário de Comunicação da Presidência conseguiu atrapalhar a situação do governo de maneira impressionante.

Apesar do ziguezague discursivo de Wajngarten, cujo intuito era blindar Jair Bolsonaro, o ex-servidor do Palácio do Planalto conseguiu provar com suas inverdades a incompetência do ex-ministro da Saúde, o general do “um manda, outro obedece”.

No caso de Pazuello obter autorização judicial para permanecer calado durante depoimento à CPI, seu silêncio terá efeito devastador no Palácio do Planalto. Isso porque, além das poucas verdades ditas por Wajngarten, o depoimento do ex-presidente da Pfizer Brasil (hoje presidente da farmacêutica para a América Latina), Carlos Murillo, acabou de azedar o clima na sede do governo.

Ao responder às perguntas dos integrantes da CPI da Covid, Murillo afirmou que as negociações com o governo Bolsonaro para a aquisição de vacinas começaram no final de agosto do ano passado. “Nossa oferta de 26 de agosto tinha uma validade de 15 dias. Passados os 15 dias, o governo brasileiro não rejeitou, mas tampouco aceitou a oferta”, disse o dirigente da Pfizer. Contudo, de acordo com o executivo, a primeira foi apresentada em 14 de agosto.

“Depois de feitas essas ofertas, data de 12 de setembro, nosso CEO enviou uma carta ao governo do Brasil se oferecendo para um acordo”, completou Carlos Murillo.

De acordo com o dirigente da farmacêutica, as tratativas entre a Pfizer e o governo brasileiro por vacinas começou em maio de 2020, sendo que, em agosto foram apresentadas duas ofertas, uma de 30 milhões de doses e outra de 70 milhões de doses a serem entregues em 2020 e 2021. O preço oferecido pela Pfizer era de US$ 10 por dose de vacina.

Para piorar um cenário extremamente ruim, Murillo disse aos senadores que Carlos Bolsonaro – filho “02” do presidente da República – e o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Filipe Martins, participaram das negociações entre a Pfizer e o governo para a aquisição de vacinas contra Covid-19.

 
Relator da CPI, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) quis saber do executivo da Pfizer se tinha conhecimento de algum grupo que aconselha paralelamente Jair Bolsonaro em temas relacionados à pandemia.

“Vários depoentes atestaram a essa Comissão Parlamentar de Inquérito a existência de um aconselhamento paralelo do presidente da República em questões relacionadas à pandemia. Concretamente, Vossa Senhoria tratou da aquisição de vacinas da Pfizer com alguém que não ocupava cargo público, função pública no Ministério da Saúde?”, questionou Calheiros.

“Representantes da Pfizer foram recebidos pelo senhor Fabio Wajngarten, nessa oportunidade havia-se tentado contato com o então secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, como já visto aqui, sem sucesso, sem resposta. Diante da falta de resposta, o senhor Wajngarten contatou o senhor Filipe Martins, que chamou para o local da reunião o filho do presidente da República, o senhor Carlos Bolsonaro, que estava presente no Palácio do Planalto”, emendou o parlamentar alagoano ao pedir a que Murillo confirmasse ou negasse as informações.

Para desespero do staff palaciano, Murillo confirmou a informação. “Após aproximadamente uma hora de reunião, Fábio recebe uma ligação, sai da sala e retorna para reunião. Minutos depois entra na sala da reunião Filipe Garcia Martins, assessor de assuntos internacionais da Presidência da República, e Carlos Bolsonaro. Fábio explicou para Filipe Garcia Martins e Carlos Bolsonaro os esclarecimentos prestados pela Pfizer”, relatou o representante o dirigente da farmacêutica.

Na última semana, durante depoimento à CPI da Covid, os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich relataram a existência de um “aconselhamento paralelo”, que municia o presidente da República com orientações contrárias às do Ministério da Saúde.

As declarações de Carlos Murillo, que escancaram a verdade dos fatos, são devastadoras para o presidente Jair Bolsonaro, que na quarta-feira (12) disse, durante evento no Palácio do Planalto, que no âmbito da pandemia o governo “fez o que pôde”. Na realidade, a fala do executivo da Pfizer deixou claro que o governo não fez o deveria fazer, apenas porque um negacionista com mandato acredita em tratamento precoce e imunidade de rebanho a partir da contaminação pelo novo coronavírus.

A essa altura doa acontecimentos e com o estrago consumado, o eventual silêncio de Pazuello na CPI servirá para endossar o que já se sabe até o momento acerca da irresponsabilidade genocida do governo no combate à pandemia. Até porque, como reza a sabedoria popular, “quem cala, consente”.

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