Bolsonaro abusa da anorexia intelectual e do populismo barato ao comparar canabidiol a cloroquina

 
A limitação de raciocínio do presidente Jair Bolsonaro é uma grave ameaça ao País, mas funciona como combustível para seu populismo tosco e barato. Na manhã desta segunda-feira (17), em conversa com apoiadores, Bolsonaro disse que vetará, caso aprovado pelo Congresso Nacional, projeto que autoriza o cultivo de cannabis para extração de óleo para fins medicinais.

Sempre abusando da devastadora falta de bom senso que lhe é peculiar, o presidente comparou a maconha medicinal – na verdade trata-se do canabidiol – e a cloroquina, medicamento que, a exemplo da hidroxicloroquina e da ivermectina, não tem eficácia comprovada contra Covid-19.

“Engraçado, maconha pode, cloroquina não pode”, afirmou Bolsonaro, para quem “a esquerda sempre paga uma oportunidade para querer liberar as drogas”.

A importância do canabidiol

A ignorância e o oportunismo rasteiro do presidente da República são tão devastadores que envergonham qualquer brasileiro coerente. O projeto em questão não trata da liberação da maconha, mas de autorização para extração do canabidiol, utilizado na fabricação de medicamentos para determinadas doenças.

Conhecido como CBD, o canabidiol é um dos princípios ativos da Cannabis sativa, nome científico da maconha, e age nos receptores canabinóides do cérebro. É utilizado na produção de medicamentos para o controle de doenças psiquiátricas ou neurodegenerativas, como esclerose múltipla, esquizofrenia, mal de Parkinson, epilepsia, ansiedade e fibromialgia.

Os receptores canabinóides estão localizados em todo o corpo humano e fazem parte do sistema endocanabinóide. Esses são uma classe de receptores acoplados à proteína G e são ativados por substâncias conhecidas como canabinoides, que podem ser endógenas (endocanabinóides), derivadas da Cannabis ou de agonistas sintéticos (substâncias capazes de se ligar a um receptor celular e ativá-lo para provocar resposta biológica).

 
Estupidez oficial

Voltando à ignorância presidencial… “Hoje, uma comissão da Câmara vota a liberação da maconha. Tem o veto depois, é difícil. Eles agora podem até aprovar, sem ser o voto nominal, mas tem o veto”, afirmou Bolsonaro no dia 11 de maio. “Ridículo até né, um país com tantos problemas [e] o ‘cara’ despendendo força para votar uma porcaria de um projeto desse.”

O projeto que tramita na Câmara dos Deputados propõe a autorização de atividades de cultivo, processamento, pesquisa, armazenagem, transporte, produção, industrialização, manipulação, comercialização, importação e exportação de produtos à base de Cannabis.

O texto, porém, destaca de forma clara que “é vedada a prescrição, a dispensação, a entrega, a distribuição e a comercialização para pessoas físicas, de chás medicinais ou de quaisquer produtos de cannabis sob a forma de droga vegetal da planta, suas partes ou sementes, mesmo após processo de estabilização e secagem”.

Em outras palavras, Jair Bolsonaro insiste em permanecer sobre o palanque – de onde não saiu desde a campanha de 2018 – falando para uma súcia de apoiadores formada por intervencionistas alucinados, fundamentalistas religiosos, ruralistas interesseiros e defensores de uma população armada.

O canbidiol reduz sobremaneira o sofrimento de pessoas acometidas pelas citadas doenças, causando dificuldades das mais diversas aos pacientes e deixando os familiares sem ter como buscar um paliativo. Ou seja, em nome de um projeto político-ideológico o presidente da República mais uma vez nega a ciência.

Problema caseiro

Bolsonaro, que sofre de amnésia de conveniência, deveria se preocupar com os assuntos domésticos, pois, em 15 de janeiro de 2019, a jornalista Patrícia Lélis, ex-namorada do deputado federal Eduardo Bolsonaro, sugeriu em postagem nas redes sociais que os filhos do presidente usavam maconha “na praia com os amigos”.

Lélis lembrou do suposto “hábito” de Eduardo, Flávio e Carlos ao rebater postagem do presidente da República no Twitter em que defendeu a liberação da posse de armas de fogo com o argumento dos “direitos individuais”.

“Já que estamos falando sobre direitos individuais, poderia legalizar a maconha, assim teríamos coerência. Ou o senhor já se esqueceu que seus filhos Carlos, Eduardo e Flávio não usavam uma maconha na praia com os amigos?! Tá com memória fraca, é?”, questionou a jornalista nas redes sociais.

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