EUA apoiam cessar-fogo entre Gaza e Israel, mas é preciso voltar no tempo para resolver o conflito

 
Presidente dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden precisou de uma semana para telefonar ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e dizer que apoia um cessar-fogo com os palestinos, mais precisamente com o Hamas, que ocupa a Faixa de Gaza.

Biden, enquanto senador nunca escondeu seu apoio a Israel, mas agora precisa agir como chefe líder de um país que anualmente despeja quase US$ 4 bilhões em ajuda militar aos israelenses.

Aliado de Israel, o governo dos EUA vem fazendo o que a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, e o assessor de segurança nacional, Jake Sullivan, chamam de “diplomacia silenciosa e intensiva”. Ao que parece, essa estratégia não funcionou, pois a tragédia que contrapõem palestinos e israelenses só cresce.

Nesta segunda-feira, os EUA impediram pela terceira vez sido uma declaração unânime das 15 nações do Conselho de Segurança da ONU expressando “grave preocupação” com o avanço irresponsável do conflito e a morte de dezenas de civis. Uma nova reunião do Conselho de Segurança a portas fechadas está marcada para terça-feira, informaram diplomatas que integram o colegiado.

Querer se livrar da tarefa de coordenar um eventual acordo de paz que nem palestinos nem israelenses desejam é muito fácil para quem apoia financeira e militarmente um dos lados do conflito, sempre sob a alegação de que é preciso manter uma posição geopolítica estratégica na região.

Biden não pode se omitir na condição de líder da maior potência do planeta, devendo capitanear conversações para que a paz seja restabelecida no Oriente Médio o mais rápido possível, antes que os financiadores e apoiadores dos radicais palestinos entrem de cabeça no conflito.

A origem da disputa

Quem não conhece – ou prefere ignorar – a origem do problema que constantemente leva palestinos e israelenses a uma peleja sem fim. O cerne da questão está no desrespeito por parte de Israel ao acordo firmado em 1948, por ocasião da guerra de independência do país. À época, a parte oriental de Jerusalém – que inclui a Cidade Velha, onde estão o Muro das Lamentações, a Esplanada das Mesquitas e a Igreja do Santo Sepulcro – foram para a Jordânia, ao passo que os israelenses ficaram com a porção ocidental.

Nessa troca de posições, árabes cristãos e muçulmanos residentes na parte ocidental de Jerusalém deixaram suas casas e rumaram para a parte oriental. Judeus que viviam no lado oriental e migraram para o lado ocidental. Não foi apenas uma mudança geográfica de parte a parte. Os palestinos passaram a ocupar no lado oriental imóveis que antes pertenciam aos judeus, que por sua vez se instalaram nos imóveis da parte ocidental que antes eram dos palestinos.

Tudo caminhava aparentemente bem até 1967, quando Israel, na Guerra dos Seis Dias, conquistou a parte oriental de Jerusalém, a Cisjordânia, a Faixa de Gaza, as Colinas do Golã (Síria) e a Península do Sinai, que mais tarde foi devolvida ao Egito à sombra do acordo de paz de Camp David.

 
É preciso voltar ainda mais na linha do tempo para compreender as origens do conflito que atualmente domina a região. Criado por intelectuais judeus no início da década de 1890, o movimento sionista tinha como objetivo o combate ao antissemitismo (aversão ao povo judeu), que imperava na Europa desde a Idade Média e se intensificou no século XIX.

Os sionistas acionaram as comunidades judaicas ao redor do planeta para criar um fundo financeiro com o objetivo de comprar terras na região de Palestina, então pertencente ao Império Otomano, e formar na região um Estado moderno nos moldes ocidentais.

A criação do Estado de Israel e os conflitos

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano, que de certa forma garantia a unidade das nações muçulmanas, se enfraqueceu e foi extinto em 1924. A Palestina, que não era um Estado legalmente constituído, passou a ser administrada pelo Reino Unido, que criou o Mandato Britânico da Palestina, que durou até depois da Segunda Guerra Mundial, mais precisamente até 1948. (Naquele ano, a Organização das Nações Unidas (ONU), em votação liderada pelo brasileiro Oswaldo Aranha, oficializou a criação do Estado de Israel)

No apagar das luzes do século XIX, os terrenos situados entre as Colinas de Golã, a Península do Sinai e o Rio Jordão foram adquiridos por judeus, que começaram a migrar para a região. Fronteira natural entre a Jordânia e Israel, o Rio Jordão nasce nas encostas do Monte Hérmon e desagua no Mar Morto.

Com o crescimento do antissemitismo na Europa nazista e fascista, judeus começaram a migrar para as terras na Palestina adquiridas no vácuo do desmonte do Império Otomano. Como esse movimento migratório maciço, a região foi tomada por dois movimentos de radicalização distintos: do movimento sionista e da ideologia nacionalista muçulmana, que rezava pela cartilha da Irmandade Muçulmana.

Incomodados com a presença dos judeus na região e acreditando na possibilidade de um império muçulmano, os palestinos passaram a atacar instalações judaicas na Palestina. Os judeus, por sua vez, responderam com a criação de uma organização paramilitar, a Haganah, que serviu de embrião para a criação de um Estado judaico.

Vale tudo, radicalismo e fé

Retomando as razões do conflito atual… Com a incorporação de Jerusalém oriental por Israel, os judeus se viram no direito de reclamar na Justiça a propriedade dos imóveis que na troca de posições foram ocupados pelos palestinos. A Justiça de Israel, depois de muita batalha nos tribunais, tem dado ganho de causa aos judeus, que por sua vez expulsam os palestinos dos imóveis, muitas vezes com violência. Algumas dessas expulsões ocorrem sem decisão judicial e com o uso de forças oficiais ou paramilitares.

No dia 10 de maio passado, forças israelenses atacaram a Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, no mês mais sagrado para os muçulmanos, o Ramadã. Cerca de 300 palestinos ficaram feridos após o ataque com balas de borracha e bombas. O local do ataque abriga a mesquita de Al Aqsa e o Domo da Rocha, o mais sagrado conjunto arquitetônico do islamismo, depois das cidades de Meca e Medina.

Se do lado de Israel o conflito serve para o ultradireitista Benjamin Netanyahu conseguir apoio político, com o discurso da segurança, para formar um novo governo, do lado dos palestinos a tragédia vem sendo usada, não é de hoje, por Ismail Haniyeh para enfraquecer politicamente Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina.

Para concluir, ou israelenses e palestinos sentam-se à mesa para firmar um acordo de verdade, sem remoer o passado, ou a região continuará sendo uma bomba-relógio prestes a explodir. Enquanto quem ordena os ataques de ambos os lados estão encastelados em seus gabinetes ou esconderijos, a população paga a conta de uma disputa política criminosa. E que ninguém venha com o discurso de que esse ou aquele povo tem direito à totalidade das terras da região, pois serve para nada.

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