CPI da Covid: depoimento de Araújo complica o governo e explica status de “pária internacional” do Brasil

 
Que o depoimento de Ernesto Araújo à CPI da Covid, nesta terça-feira (18), seria marcado pela covardia e pelo ziguezaguear discursivo todos sabiam, mas a desfaçatez do ex-chanceler não tem limites.

Questionado sobre ataques à China, Araújo disse: “Não entendo nenhuma declaração que eu tenha feito como antichinesa. Não houve nenhuma que se possa qualificar como antichinesa. Não houve impacto”.

Presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM) afirmou que Araújo falta com a verdade. “Dizer que o senhor nunca se indispôs com a China, o senhor está faltando com a verdade. Falou em ‘comunavírus’. Até bateu boca com o embaixador chinês”, ressaltou Aziz.

Ernesto Araújo falou sobre o artigo em que citou “comunavírus”: “O artigo não é contra a China. Faço comentários sobre um artigo de Slavoj Zizek sobre o que ele chama de ‘vírus ideológico’. A leitura do artigo deixa isso claro. Não vejo nada ofensivo a vírus. É uma designação do que o autor chama de ‘vírus ideológico’”.

No depoimento, Araújo confirmou sua atuação para viabilizar junto à Índia a importação dos insumos necessários à produção da cloroquina. O ex-ministro alegou que com a alta procura do medicamento – “um remédio muito importante que tenha seu estoque preservado” –, foi preciso garantir o estoque do fármaco utilizado, com eficácia comprovada, contra doenças como malária, amebíase hepática, artrite reumatoide, lúpus e doenças que provocam sensibilidade dos olhos à luz.

 
A alegada escassez de cloroquina se deveu à irresponsabilidade genocida e do negacionismo torpe do presidente Jair Bolsonaro, que demonizou as vacinas contra Covid-19 e apostou na imunidade de rebanho, não sem antes pregar o uso do medicamento no chamado tratamento precoce contra o novo coronavírus.

“Terraplanista” de primeira hora, Araújo não se limitou ao escárnio do “comunavírus”. O ex-ministro de Relações Exteriores, ao longo de sua estada à frente do Itamaraty, disparou pérolas como “covidismo”.

Ao discursar em sessão da Organização das Nações Unidas (ONU), em dezembro de 2020, Araújo atacou uma suposta e não comprovada conspiração das elites globais para impor o controle econômico e social à população.

“Aqueles que não gostam da liberdade sempre tentam se beneficiar de momentos de crise para pregar o cerceamento da liberdade. Não caiamos nessa armadilha. O controle social totalitário não é o remédio para nenhuma crise. Não façamos da democracia e da liberdade mais uma vítima da Covid-19”, disse na ocasião o agora ex-ministro, como se o governo Bolsonaro fosse defensor da democracia e das liberdades.

Durante cerimônia de formatura no Instituto Rio Branco, Araújo afirmou que entendia ser positivo o fato de o Brasil ser um pária internacional. Essa condição depreciativa, já constatada no universo da diplomacia, resulta de um governo pífio e subserviente à extrema-direita americana, que ganhou folego na estabanada gestão de Donald Trump.

O fato de a política externa brasileira ter permanecido durante mais de dois anos a cargo de alguém como Ernesto Araújo, que enquanto chanceler se prestou ao papel de gazeteiro oficial dos devaneios ideológicos da família Bolsonaro, explica a vergonha que milhões de cidadãos de bem sentem de um governo marcado pela canalhice intelectual.

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