O brasileiro deve seguir exemplos históricos de união e buscar a mudança em nome de uma nação

 
(*) Waldir Maranhão

Como já afirmei em artigos anteriores, o Brasil vive momento ímpar em vários segmentos: político, econômico, social, educacional e de saúde. Extremamente preocupante, a situação enfrentada por dezenas de milhões de brasileiros parece não ter solução, caso o governo federal e seus representantes continuarem a tratá-la com irresponsabilidade.

Ataques à democracia brotam aqui e acolá, mentiras surgem a todo momento, verdades são distorcidas sem o menor pudor. Tudo em nome do poder e do desejo insaciável de nele permanecer.

O cenário econômico brasileiro que já era grave antes da pandemia, piorou muito com a crise sanitária. As ações oficiais não conseguiram impedir o avanço do desemprego e o crescimento do contingente de pessoas na seara da pobreza e da extrema pobreza. Não fosse o espírito solidário do brasileiro, a tragédia seria muito maior.

No campo da saúde faltam vacinas para imunizar a população contra o novo coronavírus. A educação se equilibra à beira de um orçamento que confirma a bancarrota do eterno país do futuro.

Gostem ou não os incrédulos, a solução para esse cenário de caos que domina o país passa obrigatoriamente pela política. Ninguém deve acreditar em soluções de curto prazo, em promessas vazias, em falsos milagres, mesmo que alguns invoquem o nome de Deus para justificar o injustificável.

Há muito o Brasil necessita de mudança. Não será com polarização política, guerra ideológica, intolerância de todos os matizes e mentiras das mais variadas que conseguiremos essa mudança. O Brasil precisa da união de todos e da responsabilidade da classe política.

Tomo a necessidade de união dos brasileiros para analisar a nossa realidade política atual. E para isso volto no tempo para chegar a Nelson Mandela, que após inúmeros percalços, incluindo os 27 anos que passou na prisão, conseguiu unir os sul-africanos, mesmo que na África do Sul ainda existam muitas mazelas a serem vencidas.

O exemplo e a resiliência de Mandela, carinhosamente chamado de Madiba pelos sul-africanos, servem de inspiração para os brasileiros que de fato desejam mudança a partir da união.

Atravesso o Atlântico de volta ao Brasil e tomo como referência o caso do ex-presidente Lula, que acabou condenado e preso em processos marcados por diversas ilegalidades, como se o rito processual pudesse ser ignorado.

Não me cabe fazer juízo de valor em relação a Mandela ou Lula, mas, sim, apegar-me à preocupação de ambos com os mais necessitados. Eles souberam fazer das dificuldades enfrentadas o ponto de partida para a união de seus povos.

Mandela e Lula sempre tiveram o olhar voltado para o social, isso é inegável. Esse olhar precisa ser incorporado por cada brasileiro que se preocupa com o próximo, com o ser humano, pois uma nação devastada socialmente está fadada ao fracasso.

O Brasil não consegue enxergar o horizonte por causa de uma crise econômica que perdura há anos. Por mais que autoridades de vários escalões prometam o impossível, é importante ser realista, falar a verdade ao cidadão.

As mudanças que o país tanto precisa exigem investimentos maciços em muitos setores. De nada adianta governar o Brasil com bravatas recorrentes, ameaças diversas e guerra ideológica. Todo homem público tem o dever de lutar pela melhoria da vida da sociedade.

Não é preciso profundo conhecimento no campo da aritmética para concluir que o Orçamento da União revela de forma clara que o País está quebrado, sem condições de investir. E sem investimentos o caos social há de continuar.

A reforma tributária, tão importante e aguardada, caminha a passos lentos não é de hoje. A reforma administrativa tornou-se refém do acordo com o Centrão, que cada vez mais cobra cargos e espaços na máquina federal.

Ao optar por uma reforma administrativa cujas regras valerão daqui para frente, o governo institucionaliza o caos presente. Apenas as próximas gerações sentirão os efeitos práticos da reforma administrativa, caso seja aprovada. É mais do que urgente equacionar a situação dos brasileiros de agora. Afinal, o futuro começa hoje.

A pasmaceira que toma conta da reforma tributária continua fazendo dos mais pobres os que mais pagam impostos no país. Na minha modesta opinião, isso é injustiça social escancarada.

Voltando a Mandela e Lula… Longe de querer discutir ideologias, esquerda ou direita, e sem entrar no mérito dos erros imputados a um e a outro – todo ser humano é passível de erros –, minha preocupação é e sempre será com os desvalidos, com os desassistidos pelo Estado, que tem a obrigação constitucional de garantir vida digna a cada um de nós.

Nos últimos anos, o Brasil retrocedeu em muitos setores, os quais mencionei acima, fazendo com que cada brasileiro redobrasse a preocupação não só com o amanhã, mas principalmente com o hoje. Até porque, sobreviver é primordial para se falar de futuro.

Todo esse retrocesso surgiu em nome de um suposto conservadorismo que não encontra respaldo em uma sociedade democrática, plural e livre. A bandeira do conservadorismo é desculpa de ocasião para quem tem a intenção de se perpetuar no poder e endurecer o jogo cada vez mais.

Um povo só existe como nação debaixo de um conjunto legal. Uma sociedade só existe por conservar valores. Recorro ao meu conterrâneo Ferreira Gullar, ludovicense ilustre ex-membro da Academia Brasileira de Letras, que definiu o conservadorismo de maneira brilhante: “[…] toda sociedade é, por definição, conservadora, uma vez que, sem princípios e valores estabelecidos, seria impossível o convívio social. Uma comunidade cujos princípios e normas mudassem a cada dia seria caótica e, por isso mesmo, inviável.”

Gullar, sempre genial, mostrou o que os brasileiros agora presenciam com preocupação e certa dose de temor. A mudança de princípios que tentam nos impor, ameaçando a democracia e as liberdades, é um convite ao caos, que só interessa à minoria.

(*) Waldir Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.

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