Quando o presidente Jair Bolsonaro avançou na militarização do governo, algo inédito desde a redemocratização do País, o UCHO.INFO alertou diversas vezes sobre o perigo, postura que mantém até os dias atuais. Para vencer a eleição presidencial de 2018, Bolsonaro, que deixou o Exército pela porta dos fundos e rotulado como “mau soldado”, se aproximou da caserna para conseguir apoio e ludibriar os saudosistas da ditadura militar.
Para tanto, o presidente precisou dar a contrapartida, abrindo espaço na estrutura governamental para militares da reserva, que acabaram ocupando nomeados para cargos-chave e que exigem experiência para lidar com as respectivas questões. Prova maior desse atabalhoado movimento é o general da ativa Eduardo Pazuello, que protagonizou gestão desastrosa à frente do Ministério da Saúde.
Em 16 de maio de 2020, quando o general assumiu interinamente o comando da Saúde (foi efetivado no cargo em 2 de junho), o Brasil totalizava 15.662 mortes por Covid-19. Em 23 de março de 2021, por ocasião de sua demissão, o País registrava 298.676 mortes pela doença. Resumindo, Pazuello, no período em que esteve ministro da Saúde, ignorou a ciência e priorizou o negacionismo criminoso do presidente da República.
Esse processo de militarização serviu apenas para blindar Bolsonaro e fazer a alegria dos “terraplanistas” que defendem intervenção militar e outros absurdos, como se o Brasil não fosse uma democracia. A pasta da Saúde, deveria ter sido entregue a alguém com competência para enfrentar os graves efeitos de uma pandemia, foi comandado por militares que acreditam na tese “um manda, o outro obedece”.
Depois de várias propostas de compra de vacinas feitas pela farmacêutica Pfizer ao governo brasileiro, todas sem resposta em tempo hábil, agora os ex-ocupantes do Ministério da Saúde tentam justificar o injustificável, como forma de se eximirem da culpa pelo genocídio que já fez mais de 450 mil vítimas.
O Exército, em diversas ocasiões, manifestou-se contra a permanência de Eduardo Pazuello à frente do Ministério da Saúde, mas nada fez para mudar um cenário que dependia apenas de transferência o oficial para a reserva. O “deixa pra lá” contou com o apoio dos generais palacianos, que continuam apostando na radicalização de atos e discursos para manter o poder.
As Forças Armadas tentam se descolar da imagem desgastada de Pazuello, mas esse processo torna-se inviável diante de tantas mortes por Covid-19 e milhões de casos confirmados da doença, todos evitáveis não fosse a subserviência nauseante e irresponsável do general ao presidente da República. Além disso, ao participar de ato político ao lado de Bolsonaro, o general arrastou o Exército para o imbróglio.
O quadro de “camaradagem” que envolve a polêmica situação de Pazuello é tão sério, que o Exército avalia uma maneira de punir o general sem que a imagem da caserna seja novamente arranhada. Afinal, qualquer punição rigorosa poderá ser anulada por Jair Bolsonaro, que também é chefe das Forças Armadas.
Ou seja, Pazuello no máximo corre o risco de ser punido com transferência para a reserva, o que não impede o presidente da República de nomeá-lo para um cargo com direito a foro especial por prerrogativa de função.
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