O silêncio é de nióbio

(*) Carlos Brickmann

* Mayra Pinheiro, a “Capitã Cloroquina”, confirmou no depoimento à CPI que foi a autora de um áudio postado nas redes sociais em que dizia que tudo na Fiocruz, Fundação Instituto Oswaldo Cruz, “envolve LGBT”. Dizia também que “eles têm um pênis na porta da Fiocruz”, que todos os tapetes das portas mostravam imagens de Che Guevara e, nas salas, havia figurinhas de “Lula Livre” e de “Marielle Vive”. Sua defesa: o áudio é antigo e na época era assim. Não era. E o pênis imaginado por ela é o símbolo dos 120 anos da Fiocruz

Lembra a história do Joãozinho? O terapeuta lhe mostrou vários borrões, em todos eles Joãozinho viu cenas de sexo. E reclamou: “O sr. mostra para todos os garotos esse livro pornográfico?”

* Bolsonaro garantiu que é “imbrochável, imorrível, incomível”. Gente morre, logo ele não se considera gente. Deus é imortal, mas nem os mais radicais bolsonaristas ousariam comparar o capitão ao Senhor dos Exércitos. O Demônio é imortal. O caro leitor se lembra de algum outro ser imortal?

* Bolsonaro não foi ao Amazonas quando lá morriam pessoas por falta de oxigênio. Mas agora foi, com farta comitiva, para inaugurar uma ponte de madeira de 18 metros por seis – no Interior, seria chamada de “pinguela”. Lá gravou uma live defendendo a cloroquina, chamando-a de “aquele remédio que ofereci à ema”.

Esqueceu de contar que a ema, indignada, o bicou.

Título estranho

E por que o título fala em nióbio? Simples: antes de se eleger, Bolsonaro cansou de dizer que o nióbio era a grande riqueza nacional inaproveitada. E?

É um título bem bolsonarista: o nióbio é precioso, mas não quer dizer nada.

Pressão

O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, pediu à Procuradoria Geral da República que investigue possíveis crimes cometidos por Eduardo Pazuello e Bolsonaro. Na opinião de Freire, é “plausível cogitar” do crime de prevaricação e da prática de atos de improbidade administrativa. Atos de improbidade, algo como gastar mal as verbas disponíveis; e prevaricação, não tomar as providências que cabem ao ocupante do cargo.

Olho nele

Todo mundo fala em André Mendonça para o Supremo e em Guilherme Aras como outro nome possível. Mas não se surpreenda se, para a vaga do ministro Marco Aurélio, surgir o advogado Arthur Weintraub.

É da confiança do presidente, é evangélico e concorda com Olavo de Carvalho.

Adeus para um grande homem

Jaime Lerner foi três vezes prefeito de Curitiba, duas vezes governador do Paraná; e jamais sofreu qualquer acusação. Poderia ter gasto bilhões para construir um metrô em Curitiba, para o que teria amplo apoio empreiteral. Gastou muito menos e montou um eficientíssimo sistema de transporte por ônibus, estudado e aplicado em quase todo o mundo (menos no Brasil, claro). Criou os calçadões, multiplicou os parques, criou a notável Ópera de Arame, um teatro lindo e barato, com programas que atraíram a população. Sua ideia básica era fazer a cidade funcionar, para que os cidadãos vivessem melhor. Desenvolveu o conceito de acupuntura urbana, pequenas intervenções de baixo custo e pouco transtorno que resolvem problemas. Seu trabalho de urbanização de favelas foi tão bom que favelados de outras cidades foram para Curitiba, obrigando-o a restringir o programa a quem já morava lá.

Boa gente

Tive poucos contatos com Lerner, levado por dois amigos curitibanos, os jornalistas Aramis Millarch e Gerson Guelmann. Tinha um jeito próprio de trabalhar: de manhã ficava em casa, com a família, conversando com amigos arquitetos sobre problemas da cidade. Almoçava no centro (comigo, numa feira, onde me ensinou uma bebida que eu não conhecia: caldo de cana com pinga. Uma delícia. Quanta pinga? Depende. Para ele, e para mim, meio cálice. Mas, como diz o papa Francisco, há quem prefira um pouco mais). O povo passando pela rua, cumprimentando, numa boa: muito, muito popular.

Com a morte de Jaime Lerner, perdemos o maior prefeito que o país já teve.

Más notícias

* O desemprego no Brasil bateu o recorde: 14,7% – o que significa que há 14,8 milhões de desempregados no país. É pior do que parece: desempregado é o cidadão que procura emprego e não consegue. Aqueles que desistiram, por um ou outro motivo, não estão nessa conta.

* O IGPM, índice normalmente usado para rever os aluguéis, subiu 37,4% nos últimos doze meses – a maior alta em 26 anos. Aplicado a seco, significa que quem paga R$ 1 mil pode ter o aluguel elevado para quase R$ 1.400,00. O que os empresários do setor recomendam é que os inquilinos conversem com os proprietários – que também não têm interesse em ficar com imóveis vazios – em busca de uma solução menos traumática.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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