CPI da Covid: tentativa de convocação da ex-cunhada de Bolsonaro é “chumbo trocado” de Renan Calheiros

 
Em funcionamento no Senado Federal, a CPI da Covid saiu da rota traçada ao dar ouvidos ao policial militar mineiro Luiz Paulo Dominghetti, que na opinião do UCHO.INFO foi “plantado” pelo governo Bolsonaro para esvaziar os escândalos de corrupção na seara das negociações para a aquisição superfaturada da Covaxin, vacina contra Covid-19 produzida pela farmacêutica indiana Bharat Biotech.

Comissões Parlamentares de Inquérito no Brasil são palanques político-eleitorais que muitas vezes contrariam as expectativas todos sabem, por isso parlamentares e integrantes da cúpula do governo tentam criar cortinas de fumaça para desviar a atenção da opinião pública.

Depois do fiasco que marcou o depoimento de Dominghetti, o Palácio do Planalto passou a buscar uma forma de desacreditar as investigações, que serviram de base para as manifestações contra Jair Bolsonaro que ocuparam as ruas e avenidas de inúmeras cidades brasileiras.

O primeiro contragolpe oficial surgiu com o indiciamento pela Polícia Federal (PF) do senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid, por corrupção e lavagem de dinheiro em caso envolvendo a Odebrecht. De acordo com a PF, há indícios suficientes de que Calheiros recebeu, em 2012, propina de R$ 1 milhão da empreiteira. Como contrapartida, segundo as investigações, a Odebrecht conseguiu apoio político para aprovar resolução do Senado que restringiu incentivos fiscais de produtos importados concedidos pelos governos estaduais, beneficiando a Braskem. O caso ficou conhecido como “Guerra dos Portos”.

Causa estranheza o fato de o indiciamento ter ocorrido nove anos depois do suposto pagamento de propina, em que pese uma eventual complexidade da investigação. Esse detalhe aponta na direção de possível uso político da PF, cenário que levou Renan Calheiros a anunciar que acionaria o STF.

 
Como retaliação, o relator da CPI da Covid quer convocar a ex-cunhada do presidente da República, Andréa Siqueira do Vale, que em gravação divulgada pelo portal “UOL” aponta eventual participação de Bolsonaro em esquema de “rachadinhas”, durante o período em que cumpriu mandatos de deputado federal.

Ao defender a convocação de Andréa, o relator da CPI alega querer saber se “houve espelhamento do caso das rachadinhas na gestão da pandemia por parte do governo federal”.

De acordo com Renan Calheiros, o espelhamento seria a reprodução, no âmbito do governo federal, de supostas práticas ilícitas cometidas nos gabinetes parlamentares da família Bolsonaro.

“Quantos coronéis há no Ministério da Saúde? No gabinete, nesse esquema da rachadinha, foi um coronel. Quero sabre se o senador Flávio [filho de Bolsonaro] influenciou nessas nomeações. E se o vereador Carlos [também filho do presidente] teve influência no gabinete paralelo. Por isso, quero convocar a Andréa”, explicou o relator da CPI.

Entre os senadores oposicionistas e independentes que integram a CPI da Covid não há consenso sobre a convocação da ex-cunhada de Bolsonaro. Na verdade, a CPI deveria respeitar os limites do “fato determinado” que possibilitou a criação e instalação da Comissão, cujo objetivo é investigar a atuação do governo Bolsonaro no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus. Tentar fazer a conexão entre as “rachadinhas” e os escândalos das compras de vacinas é irresponsabilidade.

A investida de Renan Calheiros, além de retaliação política, não passa de manobra para atender interesses paroquiais. Em Alagoas, estado governado por Renan Filho (MDB), o PSB está fechado com Bolsonaro, em especial na capital Maceió, comandada por João Henrique Caldas, conhecido como JHC. Além disso, o senador Fernando Collor de Mello (PROS-AL) e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, estão alinhados a Bolsonaro.

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