O governo Bolsonaro exonerou o diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Laurício Monteiro Cruz, que deu a aval a um reverendo para que negociasse doses de vacina em nome da pasta. A exoneração foi publicada nesta quinta-feira (8) no Diário Oficial da União e assinada pelo ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos.
Laurício Cruz é mais um servidor a deixar o cargo no âmbito do escândalo que envolve negociações suspeitas para a compra de 400 milhões de doses extras da vacina contra Covid-19 produzida pela AstraZeneca, transação que tinha proa empresa norte-americana que até antes da pandemia se dedicava ao setor da construção civil. Ele foi citado pelo policial militar mineiro Luiz Paulo Dominghetti, que também atuava como representante da empresa Davati Medical Supply.
Em depoimento à CPI da Covid, Dominghetti disse que três diretores do Ministério da Saúde sabiam da proposta de compra de 400 milhões de doses que seria intermediada pela Davati: além de Cruz, também o então secretário-executivo Élcio Franco – braço direito do ex-ministro Eduardo Pazuello e agora na Casa Civil – e Roberto Ferreira Dias, então diretor de Logística da pasta.
Dominghetti afirmou, em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo” e à CPI da Pandemia, que Dias cobrou propina de US$ 1 por dose para que a pasta fechasse a compra. “Protegido” pelo deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara dos Deputados, Dias foi exonerado em 29 de junho. Na quarta-feira, o ex-diretor prestou depoimento à CPI e acabou preso pela Polícia Legislativa, acusado de perjúrio. Horas depois, pagou fiança no valor de R$ 1.100,00 e foi liberado.
Desde o início, a epopeia vacinal tinha elementos suspeitos. Com sede nos Estados Unidos, a Davati Medical foi fundada em 2020 e tem apenas três funcionários. A AstraZeneca declarou que não negocia vacinas com entes privados, negou ter trabalhado com a Davati e afirmou que todas as vendas no Brasil foram tratadas com a Fiocruz.
Reverendo negociante
O agora exonerado Laurício Cruz teria autorizado formalmente, em 9 de março passado, o reverendo evangélico Amilton Gomes a negociar com a Davati Medical, em nome do governo brasileiro, a compra dos supostos 400 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca.
Fundador e presidente da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), uma organização privada, Amilton Gomes foi mencionado no depoimento de Dominghetti como alguém que o ajudou a agendar reunião com o coronel da reserva Élcio Franco. Na reunião, Dominghetti teria apresentado novamente a proposta de venda de vacinas ao governo brasileiro.
Em 10 de março, a tratativa entre Gomes e Cruz já estava formalizada no sistema eletrônico do Ministério da Saúde e na sequência enviada à Secretaria-Executiva da pasta.
Cruz também enviou e-mails a Herman Cardenas, presidente da Davati, confirmando que a Senah tinha aval do Ministério da Saúde para negociar a compra de vacinas. Nesse contato, o reverendo pede que a oferta de venda seja corrigida para US$ 17,50 por dose – valor três vezes maior do que o próprio governo pagou por doses da AstraZeneca em janeiro, comprada de um laboratório na Índia.
Laurício Cruz, por sua vez, disse que foi designado para negociar com Amilton Gomes, confirmou ter se reunido com o reverendo e que deu andamento às tratativas. O ex-servidor afirmou que a pasta não conferia a idoneidade das pessoas que ofereciam vacinas. (Com agências de notícias)
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