Eventual ida de Ciro Nogueira para a Casa Civil mostra que o Brasil vive sob o “semipresidencialismo caboclo”

 
Em matéria publicada na edição de terça-feira (20), em que criticamos com responsabilidade e coerência a “gritaria” do PT e da esquerda contra a proposta de semipresidencialismo (ou semiparlamentarismo), que começa a ser discutida na Câmara dos Deputados, afirmamos que o País já vive essa forma de governo, mas no campo do “banditismo político”.

Destacamos no texto que o semipresidencialismo bandoleiro em vigor se confirma com as cobranças cada vez maiores e mais acintosas do Centrão, bloco parlamentar que “aluga” apoio político ao Palácio do Planalto. A cobrança, como sabem os leitores, não é pequena nem republicana. A isso a classe política rotula como “presidencialismo de coalizão”, algo que na nossa opinião é a institucionalização da corrupção desenfreada.

Nesta quarta-feira (21), o presidente Jair Bolsonaro anunciou nos bastidores que o senador piauiense Ciro Nogueira, líder nacional do PP e um dos caciques do sempre guloso Centrão, será indicado para comandar a Casa Civil, atualmente sob a batuta do general da reserva Luiz Eduardo Ramos. Amigo do presidente da República desde os tempos de academia militar, assumirá a Secretaria-Geral da Presidência, comandada por Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Bolsonarista de primeira hora, Lorenzoni será deslocado para o Ministério do Trabalho, a ser criado após reengenharia na pasta da Economia, ainda sob o comando de Paulo Guedes.

Se no almoxarifado da política nacional há itens faltantes, por certo a coerência e a vergonha lideram a lista de reposições. Há pouco mais de dois anos, Ciro Nogueira estava abraçado ao PT, mas a chegada de Bolsonaro ao Palácio do Planalto fez o senador mudar a direção do vento.

Não bastasse o pretérito envolvimento político com os governos petistas, Ciro Nogueira, em entrevista concedida em 2017, não demonstrou qualquer dose de incômodo ao chamar Bolsonaro de “fascista”. Agora, o senador do Piauí mais parece um dos dois maridos de Dona Flor.

 
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Para provar que não erramos ao afirmar que o semipresidencialismo bandoleiro já funciona no Brasil, às custas de cargos e corrupção, e que é preciso que tal forma de governo seja oficializada e implementada responsável e corretamente no seu devido tempo, Bolsonaro tem aberto cada vez mais espaços no governo para agradar ao Centrão.

Além da chegada já anunciada, mas ainda não confirmada oficialmente, de Ciro Nogueira à Casa Civil, outros integrantes do Centrão ocupam cargos de relevância no primeiro escalão do governo: deputada federal Flávia Arruda (PL-DF), na Secretaria de Governo; Fábio Faria (PSD-RN), no Ministério das Comunicações; Onyx Lorenzoni (DEM-RS), na Secretaria-Geral da Presidência e de saída para o Ministério do Trabalho; João Roma (Republicanos-BA), no Ministério da Cidadania. Sem contar os apadrinhados pelos centristas que operam truques na Esplanada dos Ministérios.

De quebra, com Ciro na Casa Civil, Bolsonaro terá mais uma alavanca para tentar conter o escândalo da compra das vacinas contra Covid-19, que indiretamente envolve o PP e o deputado Ricardo Barros, ainda líder do governo na Câmara dos Deputados.

Como se não bastasse, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), outro prócer do Centrão e que tem freado os mais de 120 pedidos de impeachment do presidente da República, gerencia e distribui R$ 11 bilhões em recursos federais, sob a rubrica do “orçamento secreto”.

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