Grande imprensa resigna-se diante da pandemia e banaliza 1,1 mil mortes diárias por Covid-19

 
No Brasil, assim como em outros tantos países, a pandemia do novo coronavírus parece não ter fim. A CPI da Covid, em funcionamento no Senado Federal, disseca casos de corrupção no âmbito da aquisição de imunizantes, enquanto a grande imprensa se deleita com escândalos e o governo tenta anestesiar a opinião pública com dados sobre uma vacinação que está longe do patamar necessário para conter a circulação do vírus.

Receberam a primeira dose da vacina, até o momento, 45% da população brasileira, ao passo que a segunda dose foi aplicada em 18% dos brasileiros. Como sempre destacamos em matérias anteriores sobre a os efeitos da pandemia no País, o que vale em termos de vacinação é a segunda dose, exceto o imunizante da farmacêutica Janssen, de dose única. Sendo assim, o Brasil está muito distante dos 75% da população que devem ser imunizados.

Várias cidades em todo o País têm proporcionado aos cidadãos um processo de vacinação marcado por interrupções devido à falta de doses e a um planejamento vacinal que está a anos-luz do ideal. O Ministério da Saúde, que centraliza a compra e distribuição de vacinas no País, surge a cada dia com uma justificativa nova que não convence, apesar do ziguezaguear discursivo do ministro Marcelo Queiroga. O governo limita-se a jogar densa cortina de fumaça sobre uma tragédia anunciada.

Após fracassada tentativa do governo Bolsonaro de limitar a divulgação de dados sobre a pandemia, decisão tomada pelo então ministro Eduardo Pazuello (Saúde), o consórcio de veículos de imprensa passou a disponibilizar diariamente o balanço feito pelo Conselho Nacional das Secretários de Saúde (Conass), que contabiliza as informações sobre a Covid-19 em todo o País.

A divulgação das informações é importante para que cada cidadão conheça a realidade da pandemia e se conscientize da importância da vacinação e do respeito às medidas restritivas para evitar a propagação do vírus, mas não se pode aceitar passivamente a banalização da morte, a exemplo do que vem acontecendo nos últimos meses.

 
Na esteira de um processo de vacinação lento, veículos da grande imprensa têm noticiado o recuo no número de mortes pelo novo coronavírus, dando destaque à queda da média diária de óbitos, que continua alta e preocupante. Em outra ponta do universo da informação, noticia-se o fechamento festas clandestinas e outras aglomerações ainda proibidas.

Não se pode aceitar passivamente que 1.100 mortes por Covid-19 a cada 24 horas seja alvo da banalização por parte da mídia e da própria sociedade. O Brasil já passou da marca de 550 mil mortos por Covid-19, mas as estatísticas continuam dando o tom do noticiário, dando a entender que os números funcionam como anestésico da consciência.

Compreendemos a necessidade de cada brasileiro ir às ruas para garantir a própria sobrevivência, porém é mandatório externar indignação diante de número tão elevado de mortes por Covid-19, cenário que é facilmente explicado pelo negacionismo pusilânime do presidente da República e pelos imbróglios que continuam a abalar as entranhas do Ministério da Saúde, onde apaniguados se contorcem para avançar sobre o dinheiro público.

Por ocasião do acidente aéreo ocorrido no Aeroporto de Congonhas, na capital paulista, em 17 de julho de 2007, a imprensa não economizou tinta para noticiar a morte de 199 pessoas, após um avião atravessar a pista de pouso e se chocar contra um galpão de cargas aéreas.

Não estamos a defender o sensacionalismo jornalístico, pelo contrário, mas só cabe indignar-se com o equivalente a seis acidentes aéreos como o de Congonhas todos os dias. Talvez a imprensa tenha aderido à banalização da morte porque o vírus é invisível, quiçá porque a população está cansada e notícias sobre a pandemia e seus óbitos já não vendem como antes. Contudo, resignar-se diante de um cenário de terror é ser cúmplice em crime contra a humanidade.

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