Deputado bolsonarista abusa do oportunismo ao citar medalha de Rayssa para defender o trabalho infantil

 
Ao longo da campanha eleitoral de 2018, o UCHO.INFO afirmou que a eventual vitória do então candidato Jair Bolsonaro e de seus satélites político-eleitorais abriria caminho para o retrocesso e o obscurantismo. Em nome de um conservadorismo tosco e da defesa da família, Bolsonaro e seus adeptos continuam a defender o absurdo.

Reeleito deputado federal pelo Rio de Janeiro, Sóstenes Cavalcante (DEM) – integrante da bancada evangélica e “bolsonarista de carteirinha” – consegue a proeza mesclar oportunismo rasteiro com delinquência intelectual, receita que representa sério risco à democracia e ao Estado de Direito.

De carona na medalha de prata conquistada na Olimpíada de Tóquio pela jovem skatista Rayssa Leal, de 13 anos, o parlamentar usou as redes sociais para propor uma revisão do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Para tanto, Sóstenes recorreu a uma absurda comparação, como se esporte e trabalho infantil fossem sinônimos.

“As crianças brasileiras de 13 anos não podem trabalhar, mas a skatista Rayssa Leal ganhou a medalha de prata na Olimpíadas… Ué! É pra pensar… Parabéns a nossa medalhista olímpica! E revisão do Estatuto da Criança e Adolescente já!”, escreveu Sóstenes Cavalcante no Twitter.

 
Em clara demonstração de que tropeça na interpretação de textos – talvez a dificuldade em questão seja mera conveniência –, o deputado foi além na rede social: “Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade.” Eu defendo a revisão deste artigo no Estatuto da Criança e Adolescente, se atentem para a palavra QUALQUER no texto da lei.”

Se Sóstenes Cavalcante é um parlamentar qualquer depende da avalição de cada um, mas no referido artigo do ECA o “qualquer”, pronome usado para nomear algo ou alguém que não possui especificação nem determinação, significa todos os tipos de trabalho. E não compreende tal significado quem não quer ou é movido pelo populismo barato.

Em que pesem os pontuais avanços, a educação pública brasileira deixa muito a desejar. Basta analisar os dados do último PISA (Programa Internacional de Avalição de Estudantes), divulgados em dezembro de 2019. O levantamento, realizado em 2018, mostrou que o Brasil tem baixa proficiência em leitura, matemática e ciências, na comparação com outros 78 países que participaram da avaliação.

O PISA revelou que 68,1% dos estudantes brasileiros, com 15 anos de idade, não possuem nível básico de matemática, o mínimo para o exercício pleno da cidadania. Em ciências, o número chega a 55% e, em leitura, 50%. Os índices relativos ao Brasil estão estagnados desde 2009.

Goste ou não o obtuso deputado Sóstenes Cavalcante, a solução para todos os problemas do País passa obrigatoriamente pela educação. Rayssa Leal, a “Fadinha”, divide seu tempo entre a escola, em Imperatriz (MA), e a prática do skate. Por sorte não foi devorada pela miséria nem cooptada pelo crime organizado, como acontece com dezenas de milhares de jovens Brasil afora.

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