(*) Carlos Brickmann
Lembra-se de Fahrenheit 451, filme de enorme sucesso, provavelmente o mais famoso do diretor François Truffaut? Tratava de uma ditadura que mandava queimar todos os livros. O título se refere à temperatura, 451 graus Fahrenheit (em graus Celsius, a medida que usamos no Brasil, seriam 233 graus), em que o papel pega fogo. Para filmes, como os pegaram fogo neste incêndio da Cinemateca, não é preciso uma temperatura tão alta – basta haver incompetência. Mas essa história será contada um pouco depois. É melhor começar com um bom exemplo – um exemplo do Governo de Brasília.
A Secretaria da Cultura do Governo Federal, dirigida por Mário Frias, iria desfazer-se de um bom acervo de livros. O secretário de Cultura de Brasília, jornalista Bartolomeu Rodrigues, pediu uma audiência a Frias. Diplomático, disse que soube que Frias teria que se desfazer do acervo por falta de espaço, e se ofereceu para alojá-lo na Biblioteca Nacional (um dos ativos culturais que vem recuperando com êxito). Frias concordou e os livros foram salvos.
Isto é governar pensando na população: o secretário brasiliense estava bem informado, sabia o que precisava ser feito, pediu audiência, levou suas propostas e todos ganharam. Não estava pensando em eleições ou em ganho político: sua área é a Cultura e seu trabalho na Secretaria brasiliense é voltado esta área – a começar pela recuperação de espaços culturais, que culminou com a salvação de livros que seriam perdidos. Briga política é outra coisa.
Fogo nos filmes
O caso da Cinemateca paulista, que pegou fogo, é o exemplo contrário: ali se jogou fora parte da memória brasileira por puro e simples descaso. Há a incompetência, mas há também o desprezo por manifestações artísticas, as ideias de que cinema é coisa de comunista ou de gente afrescalhada, que não merece atenção, embora precise ser vigiada. Em 2019 acabou o contrato de gestão da Cinemateca pela Acerp, Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto.
E aí, nada. Não se falou em renovação de contrato ou troca de gestão; aliás, o Governo nem respondeu às mensagens da Acerp. O tempo correu, houve conversas em que o Governo ficou indefinido, o Ministério Público pediu providências e, enfim, há um mês, houve audiência pública para cuidar da gestão da Cinemateca. Era tarde: o fogo chegou primeiro. Mas os ministros preferem discutir se nazismo é de esquerda ou direita.
Espera, Namoradinha!
A prova de que ninguém lá de cima se preocupa com a Cultura está no caso de Regina Duarte: quando a Namoradinha do Brasil foi mandada de volta a São Paulo, Bolsonaro prometeu-lhe um bom lugar na Cinemateca. Ela continua esperando. E ela lá sabia que a Cinemateca não é dirigida diretamente pelo Governo, mas por uma Organização Social, e ele não pode nomear ninguém? Não poderia nem se a Namoradinha vestisse farda.
A história completa
A petição inicial da ação civil pública proposta pelo MP Federal está em http://www.mpf.mp.br/sp/sala-de-imprensa/noticias-sp/mpf-posiciona-se-sobre-incendio-na-cinemateca-brasileira.
Brasília, boa notícia
O governador de Brasília, Ibaneis Rocha, do PMDB, criou nesta semana a Universidade do Distrito Federal, que inicia imediatamente as atividades. Em agosto há concurso para as 3.500 vagas na Universidade. A reitora já foi nomeada: a professora Simone Benck, graduada em Ciências Econômicas e Matemática, doutora em Educação, de ótimo trânsito na área educacional. A nova Universidade recebe um imóvel para começar a funcionar, e também o projeto para a construção de um prédio no Parque Tecnológico. As verbas para os próximos quatro anos serão de R$ 200 milhões.
Brasília, má notícia
A geada vai custar caro, sim. Mas, mais que a geada, dois outros fatores devem responder pelo aumento do preço dos alimentos: os custos maiores dos exportadores e a grande alta nas exportações. As carnes devem subir mais, quase o triplo da inflação prevista para o ano: de l2 a 17%, tanto boi quanto frango e porco. Os ovos também devem superar a inflação prevista, chegando a algo entre 7 e 8%. E isso se a inflação se mantiver tranquila: caso vençam, no governo, os ministros favoráveis a furar o teto de gasto público, a tendência da inflação será subir, desgastando ainda mais os salários.
O triste passado
O deputado bolsonarista Roberto Jefferson, cacique do PTB, abriu o partido para os integralistas. Os líderes da Frente Integralista Brasileira se filiaram ao PTB e se disseram dispostos a disputar eleições. O integralismo, chefiado por Plínio Salgado, foi a vertente brasileira do fascismo italiano, contra o qual o Brasil lutou na Itália. Jefferson os recebeu lembrando que em sua família, em Petrópolis, sempre houve integralistas. O lema integralista já apareceu em comícios bolsonaristas: “Deus, Pátria, Família”.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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