A Polônia concedeu visto humanitário para a atleta belarussa Krystsina Tsimanouskaya. A velocista de 24 anos havia buscado refúgio na embaixada polonesa em Tóquio nesta segunda-feira (2), um dia após ter se recusado a embarcar em voo de volta a Belarus.
Tsimanouskaya foi obrigada a suspender sua participação nos Jogos Olímpicos após ter criticado a federação de atletismo belarussa e seus treinadores. No domingo, a atleta disse que foi levada contra sua vontade ao aeroporto internacional de Haneda, na capital do Japão, para retornar a seu país natal. Lá, ela se recusou a embarcar e procurou proteção da polícia japonesa.
A velocista, que passou a última noite em um hotel no aeroporto de Haneda, deve permanecer na embaixada polonesa em Tóquio até sua partida para Varsóvia, o que deve ocorrer possivelmente na quarta-feira, conforme escreveu no Twitter o dissidente polonês Pavel Latushka.
O vice-ministro das Relações Exteriores da Polônia, Marcin Przydacz, disse que Tsimanouskaya está em contato direto com diplomatas poloneses no Japão e que Varsóvia fará “tudo o que for necessário para ajudá-la a prosseguir com sua carreira esportiva”.
Washington também se pronunciou sobre o caso. “Graças à ação rápida das autoridades japonesas e polonesas, Tsimanouskaya foi capaz de evitar as tentativas do regime de [Alexander] Lukashenko de desacreditar e humilhar esta atleta dos Jogos de Tóquio por expressar suas opiniões”, escreveu no Twitter a embaixadora americana em Belarus, Julie Fisher.
O marido da velocista, Arseny Zdanevich, relatou à agência francesa de notícias AFP ter fugido de Belarus e que esperava se juntar à esposa “num futuro próximo”. “Acredito que não seria seguro para mim estar lá [em Belarus]”, disse o preparador físico de 25 anos.
Suspensa após críticas
Krystsina Tsimanouskaya deveria ter competido no Estádio Olímpico de Tóquio nesta segunda-feira nas eliminatórias da prova dos 200 metros rasos, mas acabou sendo suspensa dos Jogos pelo Comitê Olímpico Belarusso, que é comandado por Viktor Lukashenko, filho do presidente do país.
A justificativa oficial do comitê apontava para o “estado emocional e psicológico” de Tsimanouskaya. Yuri Moisevich, treinador principal da equipe de atletismo, disse à televisão estatal belarussa ter sentido “sinais de que algo estava acontecendo com a garota”.
Tsimanouskaya refutou as declarações e garantiu estar em boa saúde e sem problemas psicológicos. Para a atleta, a suspensão e a tentativa de mandá-la de volta para casa foram motivadas por ela ter criticado, em postagem em redes sociais, a federação de atletismo de seu país após ser inscrita em prova de revezamento sem ser avisada.
Em entrevista ao site esportivo belarusso tribuna.com, a velocista afirmou que seu treinador dissera que seu destino estava sendo decidido “não no nível [da federação de atletismo], não no nível do Ministério do Esporte, mas de muito mais alto”.
Na entrevista, Tsimanouskaya disse temer que Belarus “não seja mais segura” para ela, depois de ter recebido menos de uma hora para fazer as malas e ser escoltada até o aeroporto.
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Intervenção do COI
O Comitê Olímpico Internacional (COI) comunicou que funcionários do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) estão envolvidos no caso da atleta.
“Nosso dever com ela é garantir que ela esteja segura e protegida, e ela nos disse que está. Estivemos em contato com ela ontem à noite e mantemos o contato”, disse o porta-voz do COI, Mark Adams. “Mas no fim das contas, se houver questões mais amplas, não são da competência do COI.”
O comitê internacional também exigiu um relato completo por escrito do incidente por parte do Comitê Olímpico Belarusso.
Repressão a opositores
A Polônia é um crítico ferrenho do regime do presidente Alexander Lukashenko e se tornou lar de um número significativo de dissidentes belarussos.
No poder desde 1994 e conhecido como último ditador da Europa, Lukashenko tem reprimido qualquer forma de dissidência desde que tiveram início os protestos em massa contra ele no ano passado, após uma eleição geral ter sido considerada fraudulenta por nações do Ocidente.
Atletas também se uniram às manifestações antigoverno. Tsimanouskaya foi uma das mais de 2 mil personalidades do esporte belarusso que assinaram uma carta aberta pedindo por novas eleições e a libertação de prisioneiros políticos.
Lukashenko e seu filho foram proibidos de participar de eventos olímpicos por terem perseguido atletas devido a suas opiniões políticas.
Pouco antes dos Jogos de Tóquio, o presidente alertou as autoridades esportivas e atletas de que esperava bons resultados no Japão. “Pensem nisso antes de ir”, disse. “Se vocês voltarem sem nada, é melhor nem voltar.”
A turbulência e interferência política no esporte belarusso também fizeram com que Belarus fosse destituída do direito de sediar o mundial de hóquei no gelo deste ano. (Com agências internacionais)
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