CovaxinGate: depoimento de Luís Miranda à PF deixa Bolsonaro, Pazuello e o governo em situação delicada

 
O cerco se fecha cada vez mais no entorno do Palácio do Planalto por causa do escândalo envolvendo as negociações para compra de vacinas contra Covid-19. Enquanto a CPI da Covid, que retomou os trabalhos nesta terça-feira (3), avança nas investigações sobre as negociatas e seus protagonistas, inquérito da Polícia Federal que apura suposta prevaricação de Jair Bolsonaro deixa o presidente em situação de dificuldade.

Em depoimento prestado à PF na última semana, o deputado federal Luís Cláudio Miranda (DEM-DF) afirmou que o então ministro Eduardo Pazuello (Saúde) disse ter sofrido pressão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para liberar recursos da pasta. Na oitiva, o parlamentar relatou que Pazuello disse existir “sacanagem” no ministério desde que assumiu a pasta.

A conversa entre Miranda e o ex-ministro teria ocorrido no dia 21 de março, um dia após o próprio parlamentar e seu irmão, Luís Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, terem levado ao presidente da República denúncias sobre a compra da vacina indiana Covaxin,

“Eu disse: “Pazuello, tá tendo sacanagem no teu ministério. Tem que agir, mermão”. Aí ele falou: “Sacanagem tem desde que eu entrei”. Com aquele jeitão carioca dele. “Inclusive, ontem, eu (Miranda) fui no presidente e entreguei um negócio pra ele. É um absurdo. Se estiver acontecendo de verdade, é um absurdo você (Pazuello) precisa cuidar disso”.

Miranda prosseguiu no depoimento relatando o que o então ministro teria respondido: “O Pazuello olha pra mim e diz assim: “Deputado, posso falar a verdade? Eu passei seis horas andando de helicóptero com ele (Bolsonaro) e consegui dez minutos de atenção dele. Eu não consigo. Eu tenho coisas pra resolver com ele e, porra, no final do ano eu levei uma pressão tão grande que eu não sei exatamente como resolver. Uma pressão… um cara”.

 
O deputado federal revelou aos investigadores o que teria ouvido de Pazuello sobre Arthur Lira: “(E eu perguntei) “Que cara? “O Arthur Lira, porra. O Arthur Lira colocou o dedo na minha cara e disse: ‘Eu vou te tirar dessa cadeira’, porque eu não quis liberar a grana pra listinha que ele me deu dos municípios que ele queria que recebesse. Ele bota o dedo na minha cara”.

Naquele final de semana (20 e 21 de março), Bolsonaro foi pressionado por integrantes do Centrão, que cobraram a troca do ministro da Saúde.

“O presidente sabe disso?”, teria questionado Luís Miranda, de acordo com seu relato à PF, a Pazuello. “Lógico que o presidente sabe. Eu falei para o presidente”. Eu olhei para o Pazuello: “Você não tem noção do que tá falando, cara”. Ele falou: “Luis, eu não duro. Nessa semana eu tô fora. Eles vão me tirar, cara. O cara falou que ia me tirar”.

Como antecipou o UCHO.INFO, Pazuello, enquanto ministro da Saúde, foi ameaçado por um prócer do Centrão diante da possibilidade de não ser atendido em suas demandas nada republicanas. Essa informação foi confirmada pelo depoimento de Luís Cláudio Miranda à PF. Não por acaso, ao deixar o comando da pasta, Pazuello disse que algumas pessoas estavam preocupadas com o “pixulé”.

É importante destacar que o Ministério da Saúde foi entregue ao Centrão como “pagamento” pelo apoio do bloco parlamentar ao governo Bolsonaro no Congresso. Além disso, não se pode ignorar o fato de que o presidente da República, ao ser informado pelos irmãos Mirada sobre o esquema criminoso no caso da compra da Covaxin, disse se tratar de “rolo” do líder do governo, ou seja, Ricardo Barros.

Não pode durar muito um governo que depende da “boa vontade” de três líderes do Centrão: Ciro Nogueira, ministro-chefe da Casa Civil; Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados; e Ricardo Barros, líder do governo.

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