Biden defende que governador de Nova York deve renunciar após acusações de assédio sexual

 
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou nesta terça-feira (3) que o governador de Nova York, o também democrata e seu antigo aliado Andrew Cuomo, deveria renunciar ao cargo após ser acusado de assediar sexualmente 11 mulheres.

Biden fez a declaração após a Procuradoria-Geral de Nova York ter divulgado um relatório de sua apuração sobre o caso. Os investigadores concluíram que Cuomo “praticou condutas configuradas como assédio sexual”, segundo a procuradora-geral de Nova York, Letitia James.

Ao falar com jornalistas em Washington, Biden disse: “Acho que ele deveria renunciar.” Cuomo negou ter agido de forma imprópria e indicou que não irá deixar seu cargo.

Mais cedo, outros políticos democratas já haviam pedido a renúncia de Cuomo, como a presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, e o líder dos democratas no Senado, Chuck Schumer.

Imagem “profundamente perturbadora”

James afirmou que o relatório se baseava parcialmente em cerca de cinco meses de entrevistas, conduzidas por duas advogadas independentes, com 179 pessoas, entre membros da equipe de Cuomo, policiais estaduais, funcionários do governo de Nova York e outros que interagiam regularmente com o governador.

“Essas entrevistas e evidências revelaram uma imagem profundamente perturbadora, mas clara”, disse a procuradora-geral de Nova York. “O governador Cuomo assediou sexualmente atuais e ex-funcionárias do estado, em violação a leis federais e estaduais.”

A apuração concluiu que as 11 mulheres estavam falando a verdade ao dizer que Cuomo tocou nelas de forma inapropriada e fez comentários sugestivos sobre a aparência ou a vida sexual delas.

Uma assessora do político disse que Cuomo apalpou seus seios na sua mansão, e uma policial que atuava na sua escolta disse que ele passou seus dedos na sua barriga e nas suas costas. Os investigadores afirmam que o político também assediou mulheres que não trabalhavam para o governo.

O que os investigadores concluíram

O relatório afirma que o governador “assediou sexualmente diversas atuais e ex-funcionárias do governo de Nova York ao, entre outros, tocá-las de forma inoportuna e não consensual, assim como fazendo diversos comentários ofensivos de natureza sugestiva e sexual, que criaram um ambiente de trabalho hostil para mulheres”.

Os investigadores também concluíram que o gabinete de Cuomo criou uma “cultura de medo e intimidação, ao mesmo tempo em que normalizava os flertes frequentes do governador e comentários baseados no gênero”.

 
A procuradora-geral afirmou que essa cultura “influenciou as formas inapropriadas e inadequadas” com as quais o gabinete de Cuomo “respondeu às acusações de assédio”. A investigação identificou, por exemplo, que Cuomo e assessores de alto escalão tentaram retaliar pelo menos uma funcionária.

Sua equipe buscou “desacreditar e depreciar” Lindsey Boylan, a primeira funcionária a acusar Cuomo publicamente de assédio. A estratégia da equipe do governador incluiu vazar dados pessoais confidencias e escrever uma carta atacando a credibilidade de Boylan.

“Essas mulheres corajosas tomaram a iniciativa de falar a verdade a quem tinha poder e, ao fazer isso, expressaram sua confiança de que, apesar de o governador ser poderoso, a verdade é ainda mais”, disse Joon Kim, uma das procuradoras que lidera a investigação.

“Algumas sofreram toques indesejados e tiveram suas partes do corpo mais íntimas apalpadas. Outras sofreram comentários repetidos de caráter ofensivo, de conotação sexual ou baseados em gênero”, disse Kim.

“Várias delas enfrentaram ambos. Nenhuma delas queria isso. E todas acharam que isso era perturbador, humilhante, desconfortável e inapropriado.”

Cuomo diz ser inocente e fala em “perspectivas geracionais”

O governador de Nova York fez um pronunciamento público após a divulgação do relatório e mais uma vez afirmou ser inocente. “Nunca toquei em ninguém de forma inapropriada ou fiz investidas sexuais inapropriadas”, disse.

Ele afirmou que desde sempre teve o hábito de beijar e tocar pessoas como um gesto de proximidade e amizade, frequentemente em público. “Eu tento fazer as pessoas se sentirem bem. Eu tento fazê-las sorrir. Eu tento me conectar com elas e tento mostrar meu apreço e minha amizade”, disse.

“Eu agora entendo que há perspectivas geracionais, ou culturais, que eu francamente não tinha compreendido totalmente. E eu aprendi com isso”, afirmou o governador, que tem 63 anos.

Cuomo já rechaçou diversos pedidos por sua renúncia por temas como o gerenciamento da pandemia de covid-19 no seu estado ou as crescentes acusações de assédio sexual. O democrata sinalizou inclusive que irá tentar um novo mandato.

De qualquer forma, os pedidos para o seu impeachment ganharam força, e muitos analistas observaram que o relatório da Procuradoria-Geral apresentado nesta terça-feira é peça importante para o processo.

O presidente da Assembleia Legislativa do estado, o democrata Carl Heastie, afirmou que havia ficado claro que Cuomo não poderia permanecer no cargo e que ele daria andamento a um processo de impeachment “o mais rápido possível”. (Com agências internacionais)

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